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E toca o telefone 15
PublishNews, Marisa Moura, 30/04/2021
No décimo quinto episódio da série criada por Marisa Moura, a já conhecida telefonista da agência literária fictícia atende um leitor crítico traumatizado

Novamente toca o telefone na agência literária fictícia criada por Marisa Moura. Depois de atender diferentes tipos de autores, editores e até uma agente concorrente, dessa vez, a misteriosa funcionária atende à ligação de um leitor crítico / parecerista traumatizado. Contratado pela agente literária para avaliar uma certa obra, o tal leitor resolveu dar seu parecer antes mesmo de terminar o texto.

— Agência Literária. Bom dia!

— Bom dia, faxi! Tudo bem com você?

— Quanto tempo que não conversamos! Aqui tudo em ordem. E você com muitas leituras? Muita traição, muitos vampiros, muito sexo estranho?

— Nem me lembra disso tudo. Você não tem ideia do que a agente mandou eu ler agora...

— Não tenho mesmo...

— Essas pessoas que apresentam sua obra assim: já tenho filhos e netos, já plantei várias árvores e agora escrevo esse livro, é para chorar ou para mudar de profissão.

— Não muda não leitor crítico, seus pareceres dos textos são importantes demais da conta. Tirando aquele que ia te processar porque não gostou dos erros que você mostrou, o resto que fala comigo, te adora.

— Quando eles gostarem, manda eles escreverem para mim agradecendo, assim colo tudo na parede, para ler nesses momentos de terror, como o de hoje.

— Que aconteceu? Nunca ouvi você falar desse jeito.

— Pensa numa história assim, o protagonista morre no final do primeiro capítulo. No segundo, o autor ressuscita o protagonista para algumas ações: meu primeiro beijo, minha primeira relação sexual, meu irmão caçula...

— Ei, são lembranças, leitor, ouço muito disso por telefone aqui.

— Não são não. A ressurreição ocupa mais de 10 páginas do segundo capítulo. O ritual de ressuscitar o protagonista mistura elementos de muitos cultos. Consegui identificar mais de 20 religiões nessas descrições. Um horror.

— Que confusão!

— Mas estou ligando para falar com a agente. Ela está?

— Que chato. Acabou de sair para uma reunião...

— Por favor, avisa ela que depositei o dobro do que recebi para esse parecer na conta da agência. Espero que assim ela nem tente me convencer a terminar esse imbróglio que nunca vai ser livro.

— Pensa bem. Se acalma e depois você fala com ela.

— Vai ser difícil, mudar de ideia. Cuida bem da agência. Até.

— Até e por favor pensa bem, ressuscita a sua paciência para essas horas. Até.

— Bipe, bipe.

A formação de Marisa Moura começou pela graduação em Letras na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, onde assumiu sua paixão pela literatura, da criação à produção. Marisa sentia necessidade de aprofundar-se em Marketing Cultural para Literatura Brasileira, o que fez no mestrado da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Com a ideia fixa de trabalhar com literatura brasileira, abriu a sua agência, a Zigurate, em 1994 e não parou mais. Sua coluna reflete sobre o trabalho do agente literário, um profissional atuante nas negociações de direitos autorais internacionais e nacionais e já presente no mercado editorial

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

[30/04/2021 08:00:00]
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