
Uma das condecorações literárias mais prestigiadas do país, o Prêmio Jabuti anunciou os vencedores da sua 67ª edição, em cerimônia realizada pela primeira vez no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na noite desta terça (27). Os grandes vencedores da noite foram o escritor e jornalista Ruy Castro e o músico e escritor Tony Bellotto.
Imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Ruy ganhou nas categorias Crônica e Livro do Ano pela obra O ouvidor do Brasil: 99 vezes Tom Jobim. Já o guitarrista dos Titãs arrematou a estatueta na categoria Romance Literário com Vento em setembro. Ambos foram publicados pela Companhia das Letras.
"Esse bichinho aqui eu recebo em nome de todos os leitores que estão me acompanhando nesses 35 anos como autor de livros. Costumo dizer que não sou um escritor. Sou aquele que faz perguntas e toma notas. Sou um biógrafo que faz reconstituição de histórias do Brasil, de pessoas e épocas, que nunca foram contadas ou precisavam ser contadas de outra maneira. Pretendo continuar. O Rio é inesgotável", disse Ruy, no palco do Municipal.
Eles e os demais autores vencedores receberão R$ 5 mil e a tradicional estatueta, muito cobiçada no meio. Pelo Livro do Ano, Ruy embolsará mais R$ 70 mil e uma viagem para representar o Brasil na Feira do Livro de Londres, em março de 2026.

Trazendo uma recente discussão sobre prêmios literários à tona, chamou a atenção que mais homens fossem premiados, embora muitas mulheres estivessem presentes entre os jurados. Por outro lado, deu alegria ver diversas editoras de pequeno e médio porte saírem do Municipal em êxtase, o que, de fato, mostra a preocupação do júri em valorizar a bibliodiversidade.
Personalidade Literária do ano, a premiada escritora Ana Maria Machado, membro da ABL e um dos nomes centrais da literatura infantil brasileira, se emocionou ao receber aplausos entusiasmados de todo um teatro - e também com o vídeo exibido no telão, costurado por depoimentos amorosos de Ruth Rocha, Pedro Bandeira, Ruy Castro e Antônio Torres e Dirce Waltrick do Amarante, amigos de longa data.
"Receber essa homenagem foi uma linda surpresa, que me encheu de alegria e gratidão. Foi inteiramente inesperado. Todo mundo merece sempre ter o seu trabalho reconhecido. Atualmente vivo tão reservada, recolhida, distante da mídia, das redes sociais. E a emoção é dupla porque é um reconhecimento que vem do povo do livro, da minha gente. E ainda mais num ano em que a festa é na minha cidade", pontuou Ana Maria, ao microfone, diante de uma plateia em reverência.
Na abertura da cerimônia, a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sevani Matos, quis registrar o seu agradecimento aos 4.530 livros inscritos nas 23 categorias, divididas em quatro eixos. “Vocês são a razão de ser do Jabuti. Cada livro escrito é um testemunho da forma criativa de um país que sonha com as palavras. Este é um trabalho coletivo e de genuíno amor ao livro e ao Brasil", afirmou Sevani, citada em todos os discursos seguintes, entre eles o do vice-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Cavalieri, e do secretário Fabiano Piúba, do Ministério da Cultura.

Muito à vontade no palco, o curador Hubert Alqueres fez uma breve retrospectiva do Jabuti ao longo deste 2025. “O Jabuti esteve presente na Bienal do Livro através de debates. Depois fizemos alguns encontros de esquenta com autores, e esses eventos todos ainda se desdobraram nas escolas, nas praças, nas bibliotecas. A gente viu o livro acontecer na vida das pessoas”, frisou ele.
Hubert destacou a “confiança no trabalho de dezenas de jurados que lêem com paixão e seriedade os livros” concorrentes e mencionou dois saudosos escritores que nos deixaram este ano - Luis Fernando Verissimo (1936-2025) e Heloísa Teixeira (1939-2025) -, antes de concluir a sua fala, que enxertou poesia na missão do prêmio.
“O Jabuti é, antes de tudo, uma celebração da palavra. E é a palavra é o que nos humaniza. Em cada livro, há um gesto de coragem. Que a cerimônia desta noite seja lembrada pelo sentido do que ela representa: a persistência da leitura como um ato de liberdade”, exaltou o curador.
Eis a lista dos ganhadores do Prêmio Jabuti 2025:
EIXO INOVAÇÃO
Fomento à leitura - Abrapalavra: onde a literatura se encontra com a vida cotidiana, de Aline Cântia
Livro brasileiro publicado no exterior - Braba: antologia brasileira de quadrinhos (Editoras Mino e Fantagraphics Books)
Escritor Estreante Poesia - Maracujá Interrompida, de Luis Osete (Cepe Editora)
Escritor Estreante Romance - Sangue neon, de Marcelo Henrique Silva (Editora Faria e Silva)
Categoria especial | Fomento à leitura - Rio Capital Mundial do Livro, conforme já havia sido divulgado
EIXO PRODUÇÃO EDITORIAL
Tradução - André Vallias pelo livro Byron: Poemas, cartas, diários & C. (Editora Perspectiva)
Projeto gráfico - Felipe Carnevalli, Paula Lobato e Vitor Cesar pelo livro Palavra (Instituto Tomie Ohtake)
Capa - Kiko Farkas pelo livro Acrobata (Companhia das Letras), escrito por Alice Sant’Anna
Ilustração - Nelson Cruz pelo livro Bento vento tempo (Companhia das Letrinhas), escrito por Stênio Gardel
EIXO NÃO FICÇÃO
Educação - Letramento racial: Uma proposta de reconstrução da democracia brasileira (Contracorrente), de Adilson José Moreira
Saúde e bem-estar - Felicidade ordinária (Zahar), de Vera Iaconelli
Negócios - A essência de empreender: Como foi construído o Grupo Boticário, um dos maiores ecossistemas de beleza do Brasil (Portfólio Penguin), de Miguel Krigsner
Economia criativa - Ensaio sobre cancelamento (Planeta), de Pedro Tourinho
Artes - Thomaz Farkas, todomundo (Instituto Moreira Salles), organizado por Juliano Gomes, Kiko Farkas, Rosely Nakagama e Sergio Burgi
Biografia e reportagem - Longe do ninho (Intrínseca), de Daniela Arbex
EIXO LITERATURA
Poesia - Respiro (Companhia das Letras), de Armando Freitas Filho
Infantil - Estações (Moderna), de Daniel Munduruku e Marilda Castanha
Juvenil - O silêncio de Kazuki (Telucazu Edições), de André Kondo
Histórias em Quadrinhos - Mais uma história para o velho Smith (Gambatte), de Orlandeli
Conto - Dores em salva (Patuá Editora), de Elimário Cardozo
Crônica - O ouvidor do Brasil: 99 vezes Tom Jobim (Companhia das Letras), de Ruy Castro
Romance de entretenimento - As fronteiras de Oline (Patuá Editora), de Rafael Zoehler
Romance literário - Vento em setembro (Companhia das Letras), de Tony Bellotto


