Relato de dupla formação, 'Visita ao pai' é uma investigação franca do passado familiar, da política do país -- e dos afetos que nos constituem
João Batista Tezza, pouco letrado, começou a fazer anotações num caderno de capa dura em fevereiro de 1931, quando entrou no exército como soldado em Florianópolis, aos vinte anos. E manteve o hábito até a semana em que morreu. O escritor Cristovão Tezza sempre soube da existência dos cadernos de seu pai, mas nunca havia se interessado por eles até que, em 2021, durante a pandemia, o autor decidiu lê-los. Naquela espécie de buraco negro da memória familiar onde havia caído, Cristovão notou que o pai transcrevia obsessiva e sistematicamente cartas, telegramas, bilhetes, o conteúdo de documentos como certidões e atestados, dedicatórias de livros e fotografias, e basicamente tudo o que lhe acontecia. Entremeando narrativa factual a reflexões sobre a formação do pai e sua própria trajetória, e colocando em cena dois momentos cruciais da vida social brasileira,
Visita ao pai (
Companhia das Letras, 448 pp, R$ 89,90) é uma das experiências mais surpreendentes da nova literatura do país. Uma obra formalmente ousada de um dos mais importantes e premiados autores em atividade.