Publicidade
Literatura e mobiliário urbano
PublishNews, Gustavo Martins de Almeida, 18/04/2023
Em novo artigo, Gustavo Martins fala sobre o potencial das interações culturais com mobiliário urbano e como isso poderia ser melhor aproveitado no Brasil

Pode parecer incomum o título do artigo, mas o acaso traz ideias e acesso a novos conceitos nessa área, que soam estranhos quando unidos.

Direto ao ponto. O principal prédio da Biblioteca Pública da cidade de Nova Iorque, chamado Stephen A. Schwarzman Building, fica na 5ª Avenida, com a Rua 42; há outros 87 prédios espalhados pela cidade. Na calçada da Rua 41, pela qual também se acessa a Biblioteca, já visualizando o imponente prédio ao fundo, a cada 10 metros o público se depara com algumas placas de metal, incrustadas no chão, cada uma com uma citação literária, dos mais diferentes autores e estilos.

Assim, quem se dirige ao prédio principal da Biblioteca já vai tendo o gosto de ler citações clássicas e contemporâneas, como de Hamilton, Descartes e Picasso, mostradas nas fotos a seguir.

A ideia é altamente salutar, pois o caminho para o prédio já estimula a curiosidade e atração, fazendo da calçada incomum suporte físico de leitura variada, durante o caminho, integrando literatura a mobiliário urbano.

E mesmo quem não se dirige ao prédio observa essas placas, num caso típico de interferência no entorno de imóvel relevante histórica e socialmente, fazendo da calçada elemento de interação com prédio público, estimulando sua visitação.

Em paralelo, o potencial de interações culturais com mobiliário urbano das cidades brasileiras com a população ainda não foi aproveitado, havendo espaço. As fachadas e empenas de prédio se prestam a murais, de visão mais destacada.

Mas talvez essa intervenção setorial, como na adoção de quarteirões, ou cartazes em postes, possa ser estudada e desenvolvida no Brasil.

Já tive oportunidade comentar que o tempo de espera do público, parado nas estações de metrô, olhando para parede vazia, poderia ser ilustrado citações literárias – em domínio público para evitar problemas de eventuais questionamentos – enquanto os trens não passassem.

Também nos vagões as citações poderiam ser veiculadas nos monitores de vídeo.

São ideias simples, mas que despertam a atenção de quem gosta de literatura e dão oportunidade aos que desconhecem de entrar em contato com o novo.

Evoluindo no conceito, outra ideia que vi no Lincoln Center e outros teatros. Para se evitar a inclusão de marcas de patrocinadores em prédios tombados, a exibição desses sinais por meio da projeção de imagens contorna a exigência de preservação física do prédio, na medida em que a imagem é temporária e não afeta a estrutura ou acabamento dos prédios.

A vida pulsante dos grandes centros urbanos permite o saudável aproveitamento do mobiliário, sem afetar a estética do imóvel e de seu entorno.

Com a anunciada retomada do patrocínio via Lei Rouanet, presume-se que novos empreendimentos surgirão, e a criatividade, tanto no mundo físico, quanto no virtual, pode e deve ser utilizada, ainda mais em cidades que geram e fazem repercutir ideias no país.

As fotos permitem ver o chão de letras que se calçou em Nova Iorque. Quem sabe a proximidade de livrarias e bibliotecas possa ser sutilmente transmitida aos passantes?

Gustavo Martins de Almeida é carioca, advogado e professor. Tem pós-doutorado pela USP. Atua na área cível e de direito autoral. É também advogado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e conselheiro do MAM-RIO. Em sua coluna, Gustavo Martins de Almeida aborda os reflexos jurídicos das novas formas e hábitos de transmissão de informações e de conhecimento. De forma coloquial, pretende esclarecer o mercado editorial acerca dos direitos que o afetam e expor a repercussão decorrente das sucessivas e relevantes inovações tecnológicas e de comportamento. Seu e-mail é gmapublish@gmail.com.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

[18/04/2023 08:00:00]
Leia também
Colunista vislumbra "no audiolivro uma oportunidade de desenvolvimento dos leitores no Brasil, que tanto precisa de educação e que representa o estímulo natural à criatividade do brasileiro". Artigo, na íntegra, aqui!
Seja qual for o suporte do livro, o exemplo doméstico é fundamental para desenvolver o costume
Em novo artigo, Gustavo Martins fala sobre o crescimento do áudio como meio transmissor de conteúdo e da necessidade de proteger os conteúdos de reproduções indevidas
Em novo artigo, Gustavo Martins usa como ponto de partida o desejo de Fernanda Torres de encenar uma peça de Eça de Queiroz para explicar os trâmites jurídicos de uma adaptação teatral
Em novo artigo, Gustavo Martins discorre sobre os tempos de leitura e compara impressos com audiolivros
Outras colunas
Fernando Tavares destrincha tendências de inteligência artificial e separa possíveis aprendizados para o mercado editorial brasileiro
Essa semana, a Área Indie apresenta quatro novidades do universo da literatura infantojuvenil da Ases da Literatura
É um livro para quem já amou à distância, para quem reconhece a beleza dos encontros breves e entende que o amor verdadeiro não prende, apenas acolhe
​ Leticya Pires apresenta em 'Você gosta de ganhar presente?' uma história que desperta a curiosidade e o encantamento sobre o significado dos presentes
O livro conta a história de Mathias Rodrigues, um menino superdotado de sete anos que, mesmo cercado por amor, enfrenta os desafios de crescer em uma família de pais separados