Desde que começou esta pandemia dos diabos, que não me permito escrever, com exceção de uma exaltação à geração Z. Isso aconteceu porque, desde o início da pandemia, as vendas no mundo digital explodiram. Meu trabalho triplicou.
Infelizmente, parece que o mercado de livros se voltou um pouco mais para as bandas da inovação. Digo infelizmente por que, para mim, parece que esses movimentos só acontecem quando a crise chega forte, quando, na minha análise, eu acredito que este deveria ser um moto contínuo do nosso mercado e não só quando a água bate na bunda.
E aí é que me surpreendo com pessoas que renegavam o formato e negócio digital surgirem como os grandes palestrantes do ramo. Cheios de novidades óbvias e termos ultrapassados. Eles (sim, no masculino mesmo) vêm como cavalheiros do apocalipse do bom senso. Há pouco tempo me diziam que talvez, quem sabe, um dia teriam um comércio eletrônico… Mas eles vestem terno, carregam os elegantes e socialmente aceitos fios brancos na cabeça, a invejável barriguinha de chopp também socialmente exaltada, membro de uma família tradicional, geralmente. Ganham louros por gritarem a novidade de 2012 em pleno 2020.
Estão achando a coluna de hoje raivosa? É para achar mesmo! Não só porque estou me apoderando do direito de pioneira no assunto, mas também exigindo este posto para um grupo de mulheres (e poucos homens) que começaram este mercado, na unha, no sangue e na raça. Aguentando o deboche dos colegas de trabalho, que na época nem sabiam direito o que eles faziam na editora.
Imaginem só se as mulheres neste mercado resolvem perder a vergonha na cara, como eu, e passam a exigir que sejam reconhecidas também? Ou melhor, imaginem se as outras mulheres do mundo editorial passam a apoiar isso? Imagina se os homens, cientes da luta por igualdade e militantes junto com a gente, resolvem apoiar também? Imagina só se a gente parar de se reunir para jogar pedras, e passamos a usar esta força na exaltação dos talentos e pioneirismos das mulheres e homens apagados pelos senhores de terno…
Imagina se com este apoio todo, as mulheres passam a denunciar abusos e assédio moral em nossos ambientes de trabalho, falando abertamente de salários baixos e ambientes insalubres que nos sujeitamos para termos a chance de trabalharmos com o que amamos?
Esta coluna não se trata de raiva, trata de revolução.
Estamos vivendo tempos de acertos de contas. E, como aconteceu com o digital, o mercado editorial me parece o último a chegar em tempos atuais. Por isso venho exaltar meu pioneirismo e gritar a plenos pulmões, de forma bem virginiana que: EU AVISEI!
Agora vai lá, e concentra seu marketshare com uma gigante do varejo só, pra ficar bem vulnerável de novo, vai!
Beijos de luz, usem máscara, façam o auto exame e votem com consciência da sua classe ;)
Camila Cabete (@camilacabete no Twitter e Instagram) tem formação clássica em História. Foi pioneira no mercado editorial digital no Brasil. É a nova Head de Conteúdo da Árvore e a podcaster e idealizadora do Disfarces Podcast.
camila.cabete@gmail.com (Cringe!)
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.