Publicidade
O livro e a barata
PublishNews, Marcio Coelho, 12/07/2018
Em sua coluna, Marcio Coelho fala sobre as diferenças e semelhanças entre o livro e a barata e questiona: onde encontrar refúgio os problemas atuais? no primeiro ou no segundo?

Dia desses num almoço conversávamos sobre livros e baratas. É uma combinação meio estranha, nem tanto pelas baratas, mas pelos livros. Quem afinal fala de livros, ainda mais na hora do almoço? Eram alunos de um MBA relacionado ao mercado editorial. Uma das alunas alugou um Airbnb com uma barata, e o papo andou por aí.

A barata, como é sabido, existe há milhões de anos, com mais de cinco mil espécies pelo mundo, transmite uma série de problemas aos seres humanos, podem viver uma semana sem água, um mês sem comida e semanas sem cabeça. Ou seja, que ser admirável a barata. Veja se não tem uma aí embaixo da sua mesa agora. Converse com ela. Seja amável, ela está no planeta bem antes de você.

Já o livro não é assim tão antigo, mas também afeta os seres humanos, pelo menos aqueles que leem. Aliás, os que não leem também são afetados, porque os livros começam a juntar pó, e as ideias também. A diferença entre a barata e o livro, por mais óbvia que possa parecer, é a relação de perenidade. A barata é quase imortal. Quase. Mas o livro, sim, é imortal. Depois de publicado, nunca mais será extinto. Físico, digital, audiobook, POD (que a deusa a traga um dia) etc., há muitas mídias para tornar o livro perene.

Olhando para a literatura, não é novidade essa relação tão inusitada. Em A metamorfose, Gregor Samsa acorda transformado numa barata, causando uma revolução na família, que realmente sofre a metamorfose. Já em A paixão segundo GH, a narradora prova a secreção branca que sai da barata depois que ela a mata. E em Te vendo um cachorro, Juan Pablo Villalobos dá às baratas um protagonismo intrometido e divertido, em que elas infestam não só o apartamento do Theodoro, mas todo o prédio.

Tá, mas qual a conclusão deste texto que te fez lembrar que pode haver baratas na sua casa? Simples: os livros não podem ser chinelados, mortos com inseticidas, armadilhas ou dedetização. Não precisamos ficar com medo ou asco dos livros, não precisamos forrar embaixo da porta para os livros não passarem. Eles não têm aquelas antenas repugnantes. Portanto, use e abuse dos livros.

Vivemos dias nervosos. Caímos na Copa do Mundo, Lula preso-solto-preso-solto-preso, judiciário atuando no final de semana com máxima eficiência, cavernas inundadas, Datena não é mais candidato ao Senado, CR7 na Juventus, botijão de gás representa quase 40% da renda das famílias mais pobres, aposentados voltando a trabalhar pra compor renda da família, Manuela interrompida e um monte de outras coisas. Onde encontrar refúgio pra tudo isso? Nas baratas ou nos livros?

Marcio Coelho começou sua carreira como revisor na antiga editora Siciliano, passou por muitas editoras como Saraiva, Nova Fronteira e Ediouro. Trabalhou na TAG – Experiências Literárias, prestou consultoria para clubes de assinaturas de livros, é professor de cursos voltados ao mercado editorial e gerente de projetos especiais do Grupo Editorial Pensamento. Além de viver de livros há mais de duas décadas, é apaixonado por eles.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

[12/07/2018 06:00:00]
Leia também
Em sua coluna, Marcio Coelho fala sobre como colocar a leitura na vida das pessoas de maneira leve e prazerosa
Em sua coluna, Marcio compartilha o seu sonho com Mike Shatzkin e reflete sobre o reconhecimento aos profissionais do livro
Em sua crônica desse mês, Marcio Coelho faz analogias entre o construtor de um edifício e um editor de livros
Em sua coluna, Marcio Coelho faz uma reflexão sobre o que é estar 'no livro' nesse momento de crise. Vale a pena?
Em sua coluna, Marcio Coelho fala sobre os leitores, o mercado editorial brasileiro e como muitas vezes, não enxergamos a verdade dos fatos e achamos que a situação é ainda pior do que parece
Outras colunas
Todas as sextas-feiras você confere uma tira dos passarinhos Hector e Afonso
Lançada pela Moah! Editora, coleção conta com quatro livros que funcionam como um diário, em que os tutores podem contar a sua história com o seu pet
O poeta, romancista e artista plástico Daniel Pimentel lança livro com poemas eroticamente ilustrados, boa parte deles com temática LGBTQIA+
Seção publieditorial do PublishNews traz livros escritos por Daniel Pimentel, Bruno Gualano e Heloisa Hernandez
Escrito por Bruno Gualano e publicado pela Moah! Editora, 'Bel e o admirável escudo invisível' será lançado no sábado (18/05), na Livraria Miúda