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Impressão por demanda: já passou da hora
PublishNews, Carlo Carrenho, 28/03/2017
Resultado de uma parceria entre a distribuidora BookPartners e a gráfica Docuprint, a OnDBooks já opera impressão um a um no Brasil

Estoque da BookPartners por onde já passam livros impressos em POD | © Chico Audi / Divulgação
Estoque da BookPartners por onde já passam livros impressos em POD | © Chico Audi / Divulgação

Quem me conhece sabe da minha paixão por Print On Demand (POD), também conhecida em terras lusotupiniquins por impressão por demanda. Desde que me envolvi com POD, ao gerenciar a Singular Digital em 2011, tenho acompanhado de perto este nicho muito particular da impressão de livros. A Singular Digital, aliás, era um belo projeto que não vingou não pela falta de mercado e demanda, mas talvez pelo mesmo motivo que outras tentativas de impressão por demanda no Brasil falharam: é preciso um longo período de aprendizado e de investimentos para se chegar a um processo minimamente ótimo e lucrativo de impressão um a um.

(Ah! E já ia me esquecendo... quando digo POD, estou falando de impressão comercialmente viável de um único exemplar, feita após a compra em alguma livraria virtual por um cliente final. Tiragens digitais menores, de 10 a 50 cópias, por exemplo, eu chamo de baixa tiragem).

Mas, voltando, quem já teve a oportunidade de visitar uma das gráficas da Lightning Source, empresa da megadistribuidora norte-americana Ingram, tem noção do desafio de engenharia de produção que é uma linha de impressão de livros um a um. Na planta do Tennessee, há mais de dez rotativas digitais cuspindo livros diferentes e padronizados apenas pelo papel e formato. Se isso não é complicado o suficiente, lembre-se que a Lightning Source atende os pedidos dos grandes varejistas, como Amazon e outros, e muitas vezes um mesmo pedido possui livros de linhas diferentes que têm de ser juntados no mesmo pacote no final. E vamos complicar mais? Imagine que um desses livros seja refugado e ele tenha que voltar para o início da produção. Não é à toa que a Ingram, que foi quem praticamente inovou e desenvolveu o modelo de POD de livros, demorou muitos anos para otimizar sua produção e ficar ficar no azul.

Ou seja, POD exige investimento e tempo para que a curva de aprendizado aconteça. Certa vez, conversei com um executivo da Repro, maior gráfica da Índia e parceira da Ingram. Perguntei quantos livros eles tinham que imprimir para entregar apenas um no início da produção em POD. “Trinta”, ele me respondeu. Perguntei então quanto tempo demorou para se imprimir certo um exemplar na primeira tentativa. “Um pouco mais de um ano”, ele disse.

Desenvolver uma solução de POD, portanto, é um grande desafio. E talvez por isso este modelo me atrai. Tanto que fiquei muito feliz quando a BookPartners me chamou para participar como consultor de seu projeto de impressão por demanda, a OnDBooks. Eu sempre admirei o trabalho da BookPartners como uma das melhores distribuidoras do Brasil, e agora mais ao decidirem entrar no negócio de impressão um a um. Como o POD é um negócio de distribuição de livros, e não de gráfica, só o fato de um distribuidor estar por trás já me animou. Depois, fui conhecer a Docuprint, a gráfica digital parceria da BookPartners que grande presença na América Latina e experiência em impressão de segurança. Aí ficou melhor ainda. E explico: do ponto de vista gráfico, eu sempre desconfiei que era mais fácil ensinar uma gráfica de impressão variável (cheques, contas, passaportes etc.) a imprimir livros do que ensinar uma gráfica offset de livros a imprimir um a um.

Ainda um tanto cético, assim que comecei meu trabalho, entrei no site da Cia dos Livros, portal de e-commerce da BookPartners, e comprei um exemplar de um livro impresso por demanda. Alguns dias depois, ele chegou em casa. E isto era um momento histórico, pois eu havia comprado um livro em uma livraria virtual, gerando um pedido de impressão, que foi atendido pela gráfica, e depois o livro chegou até mim. Claro que ainda falta muito para se chegar ao que Ingram faz, muito mesmo. Mas o fato é que o básico estava funcionando. Já havia o chassi para montar o carro de corrida em cima.

Desde o início do ano, a OnDBooks vem crescendo sua equipe e fazendo o trabalho de formiguinha de buscar conteúdo. Ao mesmo tempo, a Docuprint vem planejando sua expansão para receber em breve novas máquinas de impressão digital e encadernação. Já há até algumas histórias de sucesso, como uma editora de porte médio que colocou seus livros fora de catálogo na plataforma e vendeu mais de 200 exemplares em uma semana.

É apenas o início do projeto, e ainda há inúmeros acertos e desenvolvimentos a serem feitos, seja nos contratos, nos modelos de negócio, na precificação, na linha de produção, na logística ou na integração com varejistas. O catálogo também está em seu começo, mas a OnDBooks quer em pouco tempo vê-lo crescer rapidamente. De certa forma, ainda estamos em fase beta, mas é a primeira vez que vejo um projeto de POD no Brasil com tanta chance de dar certo, seja pelo timing, pela demanda ou pela capacidade da Bookpartners e da Docuprint, cada uma em sua área de expertise.

E termino com um convite: não deixe de experimentar a OnDBooks e aproveitar para ressuscitar seu catálogo ou mesmo criar produtos novos que aproveitem os recursos da impressão variável.

Carlo Carrenho é o fundador do PublishNews no Brasil e co-fundador do PublishNews na Espanha. Formado em Economia pela FEA-USP, especializou-se em Edição de Livros e Revistas no Radcliffe Publishing Course, em Cambridge (EUA). Atualmente trabalha na área de desenvolvimento internacional de novos negócios para a Word Audio Publishing International na Suécia e é advisor da Meta Brasil e da BR75 no Brasil. Como especialista no mercado de livros, já foi convidado para dar palestras e participar de mesas em países como EUA, Alemanha, China, África do Sul, Inglaterra e Emirados Árabes, entre outros. É co-curador da conferência profissional Feira do Livro de Tessalônica.

Carlo é paulista, morou no Rio, e atualmente vive em Estocolmo, na Suécia. É cristão, mas estudou em escola judaica. É brasileiro, mas ama a Escandinávia. Enfim, sua vida tende à contradição. Talvez por isso ele torça para o Flamengo e adore o seriado Blue Bloods.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

[28/03/2017 11:37:00]
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