Jornais de cultura e de literatura, sites de letras e de livrarias e colunas de escritores e de críticos estão repletos de listas indicando os clássicos da ficção e os livros mais importantes para ser um “bom” leitor. Estas listas são interessantes e úteis, mas também monótonas e repetitivas. Dificilmente abrem espaço para títulos fora do cânone da “boa literatura” e, portanto, pouco dizem sobre como de fato nos tornamos leitores na infância e na juventude.
Nossa formação como leitores raramente começa pelos clássicos canônicos. Chegar a tais leituras exige um percurso que passa pelo prazer de ler e pelo trabalho de elaborar o que é literatura, qualquer que seja a sua acepção. Não deriva dessa idéia um relativismo literário a ponto de achar, por exemplo, que Sidney Sheldon ou certos diários do gênero “de princesa” ou “de adolescente” merecem a mesma consideração literária que, por exemplo, Harry Potter ou as “Desventuras em Série” (que têm o poder, sim, de criar um universo literário, por mais discutível que isso seja). Mas, com certeza, os romances policiais de Agatha Christie são uma estimulante introdução à motivação de ler na juventude (pelo menos eram).
A seguir publico uma lista que está longe de ser uma relação dos “melhores” ou dos “mais recomendáveis” livros de ficção. E muitos menos dos “clássicos”. É apenas uma sincera lista dos livros que me tornaram leitor e que fizeram a minha cabeça dos 11 aos 17 (quando alguns dos clássicos me foram apresentados). É a lista dos livros que mais me emocionaram ou divertiram, dos livros em cuja companhia passei momentos intensos e pelos quais tenho até hoje profundo afeto – independentemente de qualquer avaliação crítica ou literária.
Aliás, tenho receio de reler alguns deles para não estragar o gosto de memória que inspiram, submetendo-os a um juízo crítico extemporâneo à infância e à juventude. Só por curiosidade e sem nenhuma pretensão que não seja a de expor um percurso subjetivo, segue a lista (com predomínio de ficção), mais ou menos em ordem cronológica, nos anos 1970, a partir do final do primário (ensino fundamental I) e até o final do colegial (ensino médio):
A Casa do Anjo da Guarda, da Condessa de Ségur
A Vaca Voadora, de Edy Lima
Aventuras de um Petroleiro, de Richard Armstrong
Flicts, de Ziraldo
Sadako quer viver, de Karl Bruckner
Os gibis do Fantasma
Eram os Deuses Astronautas?, de Erik Von Daniken
O Triângulo das Bermudas, de Charles Berlitz
Enciclopédia Como Funciona, da Editora Abril
Os Meninos do Brasil, de Ira Levin
O Dossiê Odessa, de Frederick Forsyth
O Assassinato de Roger Akroyd, de Agatha Christie
Os meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnár
O mistério dos MMM, de vários autores
Viagem ao Fundo Mar, de Julio Verne
Mila 18, de Leon Uris
A Alternativa do Diabo, de Frederick Forsyth
O Egípcio, de Mika Waltari
Nada de Novo no Front, de Erich Maria Remarke
On The Road, de Jack Kerouac
Vidas Secas, de Graciliano Ramos
Roney Cytrynowicz é historiador e escritor, autor de A duna do tesouro (Companhia das Letrinhas), Quando vovó perdeu a memória (Edições SM) e Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial (Edusp). É diretor da Editora Narrativa Um - Projetos e Pesquisas de História e editor de uma coleção de guias de passeios a pé pela cidade de São Paulo, entre eles Dez roteiros históricos a pé em São Paulo e Dez roteiros a pé com crianças pela história de São Paulo.
Sua coluna conta histórias em torno de livros, leituras, bibliotecas, editoras, gráficas e livrarias e narra episódios sobre como autores e leitores se relacionam com o mundo dos livros.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.