
O escritor e ativista indígena Daniel Munduruku participou da cerimônia, lembrando ao público da importância de se conhecer a literatura indígena do Brasil. “É necessário para que a sociedade brasileira enxergue a si mesma pelo convexo do espelho e possa, assim, perceber o quanto tem perdido ao deixar tão ricos olhares fora da construção de uma identidade que se faz da nossa ancestralidade”, disse ele, ganhando aplausos da plateia.
O âmbito transnacional do prêmio ficou evidenciado nos quatro países incluídos entre os dez finalistas do prêmio, assim como na diversidade das 13 editoras classificadas para concorrer à etapa final. O número maior de editoras em relação ao número de livros se explica porque três das obras foram publicadas em mais de um país.
A premiação destacou a sinopse de Ressuscitar mamutes como "histórias de indivíduos que, confrontados com a morte, vão em busca de suas origens, memórias, relações pessoais e familiares" e classificou que a poesia de Ana Maria Vasconcelos, em Longarinas, "prima pela consciência formal, num livro em que formas breves compõem conjuntos instigantes".
Segundo o curador brasileiro Manuel da Costa Pinto, o vencedor de poesia, Longarinas, quarto livro de Ana Maria Vasconcelos, privilegia a forma curta para tratar da passagem do tempo e da permanência; uma poesia que se organiza em torno do mínimo e da observação. A poeta alagoana foi semifinalista do Oceanos 2024, com o livro O rosto é uma máquina aquosa (Ofícios Terrestres).
E para Manuel, o vencedor de prosa, Ressuscitar mamutes, segundo romance de Silvana Tavano, mescla os registros do ensaio e da ficção, cruza especulações e experiências científicas com o relato de uma experiência de luto. “O resultado é uma narrativa que aborda de modo imaginativo e comovente as possibilidades de lidar com o tempo, de fazer uma redenção e uma modificação do passado (e, portanto, do futuro) pela imaginação", disse o apresentador do programa literário Entrelinhas, em nota enviada à imprensa.
Finalistas prosa:
- A cegueira do rio, Mia Couto – Moçambique. Romance publicado pelas editoras Caminho (Portugal), Companhia das Letras (Brasil) e Fundação Fernando Leite Couto (Moçambique);
- As melhoras da morte, Rui Cardoso Martins – Portugal. Romance da Tinta-da-China (Portugal);
- Mestre dos batuques, José Eduardo Agualusa – Angola. Romance publicado pela Quetzal (Portugal) e pela Tusquets (Brasil);
- Ressuscitar mamutes, Silvana Tavano – Brasil. Romance da Autêntica (Brasil);
- Vermelho delicado, Teresa Veiga – Portugal. Livro de contos da Tinta-da-China (Portugal).
Finalistas poesia:
- As coisas do morto, Francisco Guita Jr. – Moçambique. Publicado pelas editoras Gala-Gala (Moçambique) e Kacimbo (Angola);
- Coram populo - Poesia reunida [2], Maria do Carmo Ferreira – Brasil. Publicado pela editora Martelo (Brasil);
- Lições da miragem, Ricardo Gil Soeiro – Portugal. Publicado pela editora Assírio & Alvim (Portugal);
- Longarinas, Ana Maria Vasconcelos – Brasil. Publicado pela editora 7Letras (Brasil);
- O pito do pango & outros poemas, Fabiano Calixto – Brasil. Publicado pela editora Corsário-Satã (Brasil).
O júri dos finalistas
A avaliação dos livro finalistas ficou a cargo dos brasileiros: Bernardo Ajzenberg (jornalista, tradutor, editor e escritor) e Wellington de Melo (escritor, editor e professor universitário na UFPE); o moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa (escritor integrante da lista dos cem melhores autores africanos do século XX), e os portugueses Carlos Maria Bobone (escritor, editor e crítico literário) e Sara Figueiredo Costa (jornalista, colaboradora de publicações na área da crítica literária e do jornalismo cultural).
Já o júri em poesia teve angolana Ana Paula Tavares (historiadora e poeta, ganhadora do Prêmio Camões 2025); os brasileiros Juliana Krapp (jornalista, poeta, finalista do Oceanos 2024) e Rodrigo Lobo Damasceno (ensaísta e poeta, finalista do Oceanos 2025), e os portugueses Daniel Jonas (tradutor e poeta) e Rosa Oliveira (professora, ensaísta e poeta).
O prêmio
O Oceanos é realizado via Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), pelo Ministério da Cultura, e conta com o patrocínio do Banco Itaú, da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas da República Portuguesa, o apoio do Itaú Cultural, da Biblioteca Nacional de Moçambique e do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde; e o apoio institucional da CPLP. O Prêmio Oceanos é administrado pela Associação Oceanos, em Portugal, e pela Oceanos Cultura, no Brasil.


