
Encenada há duas décadas pela companhia, a obra de 1955 ganha nova potência diante das mudanças sociais do período. “Nesse vinte anos que se passaram entre a primeira montagem e esta atual, saímos do Mapa da Fome e chegamos a ser a sexta economia do mundo. Ao mesmo tempo, as negras manchas demográficas da Geografia da Fome não estão mais localizadas apenas nos sertões do Nordeste, e sim dentro das grandes cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Nova York, Paris e Berlim”, afirma o diretor Luiz Fernando Lobo, ressaltando a atualidade do texto.
A nova leitura do espetáculo amplia o alcance do poema: não se trata mais de uma narrativa regional, mas de uma condição humana global. A fome, impulsionada pela desigualdade crescente, atravessa fronteiras e molda geografias urbanas e rurais em múltiplos continentes. Segundo dados da Oxfam citados no release, o 1% mais rico detém 45% da riqueza global; 44% da população mundial vive com menos de US$ 6,85 por dia; e as taxas de pobreza praticamente não mudam desde 1990.
No G20 de 2024, o presidente Lula da Silva chamou atenção para o cenário: "O símbolo máximo na nossa tragédia coletiva é a fome e a pobreza. Convivemos com 733 milhões de pessoas ainda subnutridas. Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível”.
A montagem estreou no Castelo São Jorge, em Lisboa, e reúne 4 músicos e 25 atores — com Gilberto Miranda novamente no papel de Severino, como na versão portuguesa. O espetáculo tem cenário de J.C. Serroni, iluminação de Cesar de Ramires, figurinos de Beth Filipecki e Renaldo Machado e um histórico robusto de premiações: três indicações ao Prêmio Shell de 2022 (com vitória em Música) e seis indicações ao Prêmio APTR (vencedor em Iluminação), entre outros reconhecimentos.
Criada no Rio de Janeiro em 1992, a Companhia Ensaio Aberto é um coletivo teatral dedicado à retomada do teatro épico no Brasil. Com trajetória premiada e presença internacional, mantém um núcleo artístico fixo que se organiza de forma coletivizada e opera seis laboratórios artísticos e técnicos. Entre as montagens recentes estão Olga, O Banquete, A Classe Trabalhadora Brasileira e A Exceção e a Regra. Está sediada no Armazém da Utopia, na Zona Portuária do Rio, desde 2010.


