
Nesta edição, 2.350 editores de 118 países vieram para Sharjah, nos Emirados Árabes, para discutir diversos temas do mercado editorial e cultural.
Falas e conversas de abertura

No dia de abertura, a programação da Conferência começou oficialmente às 10h com discurso da Sheikha Bodour Al Qasimi, presidente da Sharjah Book Authority (SBA). Em sua fala, destacou a necessidade de união entre mercados e mundos diversos do livro presentes nos diferentes países e que as histórias precisam continuar centradas no humano. "Nós não estamos indo na mesma velocidade. A diferença é natural, mas o perigo está na separação de mercados e esse é o propósito dessa união. A mudança pode ser o começo de algo extraordinário e vivemos rápidas mudanças com a tecnologia. É necessário reimaginar como histórias fluem em um mundo mais conectado", disse.

Depois dela, Madeline McIntosh falou para a plateia da Conferência sobre últimas ações no mercado editorial. A fala ocorreu no modelo de bate-papo, seguido de rodadas de perguntas das pessoas que estiveram presentes no Expo pela manhã. McIntosh contou da história da criação de sua nova empreitada editorial, a Author's Equity, e falou de como utiliza a inteligência artificial em seu dia a dia, pensando-a como uma ferramenta estratégica.
Também realizou alguns exercícios de 'futurologia', como brincou Jo Henry, também CEO da Author's Equity e com quem McIntosh dividiu o palco. Em suas falas, a ex-CEO da Penguin Random House USA destacou a importância dos investimentos em mercados de áudio e defendeu que livros e vozes únicas não são ameaça diante de produtos automatizados e medianos produzidos por ferramentas de IA generativa.
"Se o seu livro não é melhor do que o que uma IA faria, você [convidado que levantou dúvida sobre perigo da substituição de livros humanos por livros de IA] está certo, está sendo substituído. Mas se você tiver uma perspectiva única, serão esses os livros que vão se sobressair", afirmou.
Por último, Phaedon Grigorios Kidoniatis, fundador da Eurasian Partners, Eurasia Publications e Vice-Presidente da Federação de Editores Europeus, abriu a participação da Grécia como país convidado. A ideia foi destacar a produção e o mercado do país para além da literatura clássica e acadêmica.
Os próximos dois dias da Conferência (3 e 4 de novembro) são direcionados para que editores e agentes usem suas agendas marcando reuniões com profissionais de outros países e continentes para realizar compra e venda de direitos. No dia anterior (1º), foi realizado no Expo um Programa de Treinamento para Editores Árabes e Africanos, em que especialistas do mercado dos EUA deram insights de oportunidades para produtos digitais no mercado de publicações. A abertura oficial da Feira Internacional do Livro de Sharjah será no dia 5 de novembro.
Alguns destaques das mesas redondas

Das 31 ofertas de mesas da programação, 22 delas foram realizadas em língua inglesa, sete na língua árabe e duas em língua francesa. Das mesas em inglês, 14 delas tiveram representantes dos mercados dos EUA ou do Reino Unido como os responsáveis pela exposição dos temas. Apenas duas rodas de conversa, IA para editorial, conduzida por Meru Gokhale (Índia,) e O mercado do livro indonésio e como abordar editores, tocada por Wedha Stratesi (Indonesia), foram coordenadas por pessoas representantes de instituições de fora do continente europeu ou norte-americano.
Até o momento, mercados da América Latina pouco apareceram dentro da programação das mesas, assim como temas e discussões relacionados à produção gráfica e artística. A inteligência artificial foi o assunto mais recorrente entre as mesas, quase que incontornável até mesmo em painéis que não tinham o ambiente digital como protagonista.
Na mesa Desenvolvendo uma estratégia de IA e ferramentas para atingir sucesso, Keith Riegert, da Ulysses Press (EUA), mostrou novidades de versões pagas de plataformas de inteligência artificial, e deu exemplos de artifícios como booktrailers, animações e outros conteúdos de marketing imersivo que podem ser bastante explorados pelas editoras. Para além da IA como uma oportunidade para automatizar processos, o especialista explicou mais sobre a utilização da ferramenta como agente literário, capaz de identificar livros com grande potencial de venda.
Já na discussão da mesa Vendendo Livros para o cinema e para a TV, Regina Brooks, representante da Agência Literária Serendipity (EUA), diferenciou a fundo os processos jurídicos em torno da venda de direitos de uma obra: "onde há o encontro entre arte e comércio, há atrito". A mesa proporcionou bastante interação entre palestrante e convidados, dado o tamanho da repercussão recente do caso da empresa Anthropic com o uso não-pago de direitos de autores nos EUA para treinamento de modelos de linguagem de inteligência artificial.
O mercado literário africano foi tema da mesa Dentro do mercado literário africano: o que editores globais precisam saber, em que Ainei Edoro, da Brittle Paper (Nigeria/EUA), explicou sobre o movimento em que mercados como dos EUA e do Reino Unido realizam com autores do continente africano. Depois de adquirirem direitos de autores do continente por preços mais baixos, editoras vendem os direitos de traduções em inglês para demais mercados, por valores mais altos.
Isso no contexto em que autores africanos têm ganhado gradativo destaque dentro listas de prêmios literários internacionais. Esse mecanismo faz com que editoras de países do continente deixem de arrecadar fundos para outros mercados, segundo a editora.
Novidades da edição de 2025
Entre as novidades da edição da SIBF 2025 há a Pop-Up Academy, uma plataforma interativa que contará com 24 sessões lideradas por influenciadores e especialistas em literatura, mídia, arte e tecnologia. A feira também contará com a 'Farmácia da Poesia' do Reino Unido, um conceito interativo no qual os visitantes receberão "prescrições" personalizadas de poesia.
A organização incluirá no espaço um Estúdio de Podcast pela primeira vez, e irá hospedar uma seleção de episódios de podcast árabes. Haverá também o Café de Poesia, que incluirá uma série de noites de poesia que reúnem vozes em vários idiomas.
Em 2025, a Grécia é o país homenageado oficial da edição, com um programa de atividades com 70 participantes de 58 editoras do país, incluindo escritores, poetas, tradutores, ilustradores, acadêmicos, músicos, atores, bibliotecários e profissionais da publicação.
*A jornalista viajou a convite da 44ª Feira Internacional do Livro de Sharjah.


