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Uma história incendiária
PublishNews, Redação, 23/09/2025
O soldado Sam vê uma bomba de napalm cair do céu. No tempo ínfimo que lhe resta, ele inventa histórias para povoar seu próprio fim

O que fazemos quando só nos resta um segundo de vida? Em Viver dentro do fogo (Ercolano, 152 pp, R$ 89,90 – Trad.: Julia da Rosa Simões), de Antoine Volodine, esse instante se expande para conter mundos inteiros. Em meio a uma guerra, o soldado Sam vê uma bomba de napalm cair do céu. A morte avança sobre ele na forma de uma nuvem laranja incandescente. No tempo ínfimo que lhe resta, ele inventa histórias para povoar seu próprio fim. Essa explosão criativa se desdobra em narrativas que desafiam a realidade: estepes ermas, clãs, banditismo, rituais xamânicos e figuras familiares inventadas acompanham o protagonista na sua travessia entre a vida e a morte. Parentes-bruxas que colecionam homúnculos, as exéquias de um avô, deixado nu à mercê dos urubus, encontros em cemitérios de automóveis transformados em espaço de aprendizado. No coração das chamas, a imaginação não apenas resiste: ela se torna a própria vida. Mais do que um romance sobre guerra ou distopia, Viver dentro do fogo é um tributo à potência criativa do ser humano. Volodine constrói, a partir do segundo final de um soldado, um mosaico de memórias inventadas que se torna um ato de insubmissão contra o apagamento — uma declaração de que, enquanto for possível criar, não estaremos inteiramente mortos.

Tags: ercolano, romance
[23/09/2025 09:47:32]
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