Antes de chegar ao Paraíso, Dante passou pelo Inferno, onde promoveu uma crítica à sociedade de seu tempo por meio de pequenas histórias, que alegoricamente representam pecados condenados pela moral medieval, que lembremos, era a moral do mundo ao qual Dante pertencia. Sua representação, muitas vezes exagerada, monstruosa, incomodava tanto que Nietzsche o acusava de ser uma hiena rindo em meio aos mortos. Mas Dante avisa ao leitor: abandonai toda a esperança aquele que segui-lo. Os contos de Raphael Rocha em Canções de ninar pedras (Quixote, 144 pp, R$ 54) exortam um aviso similar. São passeios que refletem atitudes condenáveis de personagens egoístas, inseguros, preconceituosos e, infelizmente para os leitores, humanos demais. Sem um guia como Virgílio, cabe ao leitor fazer o papel de Dante e pairar seu olhar severo sobre esses personagens e talvez dar de encontro consigo mesmo.