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Casa do Sol, em Campinas, reabre com feira de livros após restauro
PublishNews, Guilherme Sobota, 19/08/2025
Sede do Instituto Hilda Hilst (IHH)​ recebe a primeira Feira Literária Hilstianas​, reunindo editoras e uma programação aberta ao público; evento apresenta pela primeira vez os resultados da reforma do espaço

Interior da Casa do Sol, em Campinas (SP), onde Hilda Hilst viveu por décadas | © Karime Xavier / Tapera Arquitetura
Interior da Casa do Sol, em Campinas (SP), onde Hilda Hilst viveu por décadas | © Karime Xavier / Tapera Arquitetura
Após dois anos e uma reforma estrutural inédita nos seus 60 anos de história, a Casa do Sol – sede do Instituto Hilda Hilst (IHH) em Campinas (SP) – reabre neste fim de semana com uma também inédita feira de livros (a primeira Feira Literária Hilstianas), reunindo editoras e uma programação aberta ao público. O evento apresenta pela primeira vez os resultados da reforma do imóvel, que ao longo do ano recebe artistas para residências, mantém um programa educativo e se dedica também à preservação do espaço – onde Hilda viveu por décadas e que recebe parte de seu acervo. Foram mais de R$ 3 milhões em investimentos diretos.

Entre as atrações previstas para o fim de semana (23 e 24 de agosto), estão uma aula com Amara Moira e shows com o Grupo Diladim e Naná Lewi. As editoras e livrarias participantes são as seguintes: Instante, Quelônio, Fósforo, Incompleta, Relicário Edições e Livraria Candeeiro. Bar e comidinhas ficam por conta de Pé do Morro – projeto que une cozinha autoral, ingredientes frescos e produção local da Serra do Japi – e Bar do Bico, e a curadoria convidada desta primeira edição é do Festival Crie como Quem Luta. A programação começa às 9h do sábado (23), e o show de encerramento está marcado para o domingo (24), às 18h.

De acordo com o IHH, o objetivo da reforma foi devolver à “histórica residência de Hilda Hilst sua plenitude arquitetônica e poética”.

“A gente fez um restauro que se preocupou muito com a parte estrutural”, explica ao PublishNews o diretor do Instituto, Daniel Fuentes. “Todo o forro, madeiramento e telhas foram trocados. As partes hidráulicas e elétricas foram inteiras refeitas. Tem um ganho estrutural muito grande. Para além disso, teve um ganho de espaço também porque toda a área dos fundos da casa estava inutilizada”, diz, referindo-se à área dos canis em que Hilda mantinha seus cachorros e também a uma edícula nos fundos do terreno. A casa fica em uma área de 10 mil metros quadrados em um condomínio do bairro Parque Xangrilá. A feira literária será alocada nesse espaço dos fundos, que agora pode ser novamente utilizado.

Outras melhorias foram a construção de uma cozinha industrial, um bar e banheiros acessíveis. "Além disso tudo, o restauro foi pensado com a ideia de preservar o passado, preservar a memória, mas também preparar a Casa para futuro. Por isso que pensamos tanto nos ganhos estruturais, porque a ideia é a Casa cada vez mais viva e olhando pra frente”, pondera o diretor.

As residências também já foram retomadas – as residências criativas da Casa do Sol ainda têm vagas disponíveis ao longo de 2025 para artistas, escritores e pesquisadores interessados em desenvolver projetos autorais no local. As solicitações podem ser feitas diretamente pelo Instagram oficial do Instituto.

Com apoio de emendas parlamentares do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), o Instituto também mantém um Programa Educativo com alunos de escolas da região – os eventos envolvem visitas à Casa para conhecer a história do local e a trajetória de Hilda, bem como doação de livros e outras ações.

Outro projeto em andamento – que já tinha sido iniciado muito antes do início das obras – é o de digitalização e preservação dos acervos relacionados ao trabalho de Hilda Hilst.

Durante o processo de restauro da casa, foi contratada uma equipe de bibliotecários para cuidar do acervo. A equipe catalogou, fotografou, e localizou tanto documentos quanto objetos tridimensionais, que foram guardados para serem preservados.

A escritora era também entusiasta de anotações nas margens das páginas dos seus livros. De acordo com o IHH, serão digitalizadas todas as anotações e desenhos de Hilda nas margens dos livros de sua biblioteca particular. A expectativa é que esse trabalho resulte em cerca de 30 mil digitalizações. Além das "marginálias", serão digitalizados desenhos, poemas, fotos e cartas. O trabalho deve continuar, no mínimo, até meados do ano que vem.

A instituição planeja disponibilizar o acervo digitalizado em um site, que deve ser lançado com parte do conteúdo, também em 2026. O Instituto ainda está mapeando outros acervos de Hilda que não estão sob sua guarda – além dos acervos da própria instituição e da Unicamp, de tamanhos semelhantes, há também acervos menores em posse de amigos ou pessoas para quem ela doou documentos e objetos. O objetivo da instituição é descrever esses acervos e, se possível, digitalizá-los, sem necessariamente levá-los para a Casa do Sol.

Todo o projeto é sustentado por um modelo híbrido de financiamento, que articula recursos próprios vinculados à transferência do potencial construtivo do imóvel tombado, apoio de editais públicos como os ProACs e uma emenda parlamentar do deputado federal Orlando Silva.

Hilstianas

A feira de livros deve ser realizada a cada dois ou três meses, evitando os períodos de chuva. As primeiras edições já têm datas planejadas: uma agora, outra no início de dezembro, e a próxima em abril de 26. O objetivo é oferecer uma feira de livros com uma programação cultural para públicos diversos, desde os admiradores de Hilda Hilst até para quem busca uma opção cultural para o fim de semana na região de Campinas.

As primeiras edições da feira são financiadas pelo ProAC. Além de ser uma forma de celebrar a cultura e a obra de Hilda Hilst, a feira é vista pelo Instituto como uma fonte potencial de sustentabilidade financeira para a manutenção da casa.

“Encontrar financiamento para a manutenção de um patrimônio histórico, como a Casa do Sol, é mais difícil do que conseguir recursos para grandes projetos de restauro”, explica Daniel Fuentes. “Eventos periódicos como a feira de livros ajudam a garantir a preservação do local e do acervo.”

“Tudo isso na nossa ideia de criar uma gama de coisas que possam gerar sustentabilidade para a Casa, para o acervo, e no fim, para a democratização mais radical possível da vida e da obra da Hilda – isso, para a gente, no fundo, é o nosso assunto”.

Veja a programação da I Feira Literária Hilstianas:

23 de agosto (sábado)

9h às 13h – Debate: FeMinas – Encuentro Latinoamericano de Gestoras Culturales

15h às 16h30 – Mesa de Conversa: Segredos do Restauro da Casa do Sol

20h – Festa Dançante Funk no pátio da Casa do Sol!: No Baile – com Grupo Diladim

24 de agosto (domingo)

9h às 13h – Debate: FeMinas – Encuentro Latinoamericano de Gestoras Culturales

14h – Lançamento da Exposição: Borde como quem Luta II – Equipe CRIE como quem LUTA

15h às 16h30 – Aula Aberta: Leituras Transviadas do Caderno Rosa – com Amara Moira

17h – Intervenção Artística/Teatro: Um Café, uma História – com Joaquina Carlos

18h – Show/Música: Nací Cantando – Encontro de Naná Lewi com Bruno Cabral

23 e 24 de agosto de 2025

Casa do Sol – Instituto Hilda Hilst: Rua João Caetano Monteiro, 359, Parque Xangrilá – Campinas (SP).

Outras informações: https://www.instagram.com/inst...

Entrada gratuita

Veja outras fotos da Casa após a reforma (créditos: © Karime Xavier / Tapera Arquitetura):

[19/08/2025 11:05:49]
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