O que acontece quando uma antropóloga brasileira especialista na Amazônia e um filósofo britânico especialista em Grécia e China antigas conversam sobre os significados da humanidade e da animalidade? Onças e borboletas (Todavia, 152 pp, R$ 74,90 – Trad.: Fabiane Secches) é o resultado de uma correspondência eletrônica de longa duração, realizada durante a quarentena da Covid-19, entre dois autores – Geoffrey Lloyd e Aparecida Vilaça – que há muito vêm colaborando no campo da antropologia da ciência. Sua originalidade encontra-se não somente no inusitado dos universos escolhidos para a comparação, mas também na decisão dos autores de preservar os caminhos do diálogo, na forma de uma troca espontânea e não linear de observações sobre temas caros a ambos, particularmente sobre as transformações recíprocas entre humanos e animais, que costumam ser tratados como irracionais e exóticos pela ciência ocidental dita moderna. Tomando com seriedade as perspectivas nativas (indígenas e dos mundos antigos), o exercício dialógico aqui realizado oferece ao leitor uma visão original sobre aquilo que poderíamos chamar de alteridade radical, conduzindo a uma compreensão sofisticada do pensamento do Outro, cada vez mais necessária em um mundo que se torna a cada dia mais intolerante.