Publicidade
As colunas de Havana
PublishNews, Redação, 28/10/2024
Publicado originalmente em 1964, livro de Alejo Carpentier apresenta ao leitor certas constantes da arquitetura de Havana e traz 42 imagens em preto e branco do fotógrafo italiano Paolo Gasparini

A certa altura de A cidade das colunas (Editora 34, 80 pp, R$ 69 – Trad.: Samuel Titan Jr.), ao mencionar o efeito provocado pela retirada de um tapume no centro velho de Havana, Alejo Carpentier nota de passagem: o que se descortinava aos olhos era uma “ágora entre mangues, praça entre matagais”. Nesse registro, em que um elemento primordial da pólis grega surge imerso em outra geografia, o escritor sintetiza o profundo deslocamento que a ocupação do Novo Mundo implicou, a seu ver, para a cultura do Ocidente — tema que ele mesmo não deixaria de tratar em algumas peças de ficção como O reino deste mundo (1949), Os passos perdidos (1953), O século das luzes (1962), O concerto barroco (1974) e outras mais. À primeira vista, A cidade das colunas pretende tão só apresentar ao leitor certas constantes da arquitetura de Havana que conferiram à cidade sua feição inconfundível. O que se descobre nestas páginas, porém, é muito mais: em cinco breves capítulos, elas exemplificam com exatidão o método do escritor, no qual um anônimo mestre de obras cubano é contraposto a Le Corbusier, o tronco de uma palmeira convive com colunas dóricas, uma figura de retábulo hispânico é vizinha de um herói de Racine. Por meio desses cortes e aproximações, Carpentier promove uma subversão de valores e uma defesa luminosa da mistura e da mestiçagem que ele enxerga no cerne da experiência antilhana e, por extensão, latino-americana. Publicado originalmente em 1964 com 12 fotografias de Paolo Gasparini, o texto de Carpentier vem à luz em sua edição brasileira acompanhado por 42 imagens em preto e branco do fotógrafo italiano — contraponto gráfico certeiro para este ensaio que tem o andamento de um poema.

[28/10/2024 07:00:00]
Matérias relacionadas
Boris Schnaiderman, na juventude, tomou parte ativa na campanha da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial e relata sua experiência em 'Guerra na surdina'
O lançamento será neste domingo (31), das 15h às 17h, no Instituto Casa Astral, na Zona Norte do Recife, com bate-papo, performance poética e discotecagem
Obra retrata a relação de um poderoso felino com o reino dos ratos, numa impiedosa sátira aos tiranos que, no passado e no presente, sempre se apresentam sob novos disfarces
Leia também
Panorama traçado nos abre os olhos para as facetas muitas vezes ignoradas de uma noção que perpassa quase todos os aspectos de nossas vidas
Obra aborda temas cruciais para o cenário jurídico atual
Autor constrói uma cartografia do amor que inclui referências que vão de Espinosa a bell hooks, de Platão a Sobonfu Somé