Casarão histórico aberto a quem mais precisa é retratado em 'A casa da mãe dos homens', um romance que traz para o centro da narrativa a diversidade dos corpos e as feridas dos julgamentos sociais
Um lugar onde, sem julgamentos, todes são abrigados, acolhidos e cuidados: assim pode ser descrito o casarão centenário, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, que protagoniza
A casa da mãe dos homens (Telha, 322 pp, R$ 82,90), de Ione Mattos. O livro conecta momentos históricos da cidade às vivências pessoais dos moradores da casa, vivos e mortos. O enredo não-linear foge ao tradicional, intercalando passagens dos atuais residentes da Casa com as vivências dos mais antigos, os quais, mesmo mortos, marcam presença irreverente, libertária e sensual nas singularidades da trama. O leitor, ao acompanhar a narrativa, é também convidado a refletir sobre fobias sociais ─ de gênero (LGBTQIA+), raça, sexo, pobreza, aparência ─ e de como tais medos violentam a vida e as aspirações das pessoas escolhidas como alvo dessas projeções. Costurando o enredo, temos a história de Lemuel, trazido do orfanato onde cresceu para a Casa da mãe dos homens por Mãe Mirtila, figura que se coloca à frente do lugar e faz de tudo para garantir amparo aos seus protegidos. Mas Lemuel é muito jovem e cheio de sonhos: haverá espaço para seus desejos pessoais entre aquela gente sem perspectiva de futuro? Os acontecimentos avançam, expondo segredos, envolvendo o jovem, a casa, seus habitantes e seu entorno, fazendo explodir a violência gerada e alimentada pelo medo.