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Um relato de reparação histórica
PublishNews, Redação, 03/09/2024
Wilson Alves-Bezerra beneficiou-se aqui das versões da vida de Horacio Quiroga já contadas em espanhol

No instante do dia 5 de março de 1902 em que um tiro de pistola encontrou a cabeça de Federico Ferrando, era seu amigo o poeta e narrador uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937) quem tinha nas mãos a arma assassina. Uma resenha literária farpada provocou trocas de ofensas em páginas de jornais de Montevideo e a rixa entre desafetos desembocaria num duelo, do qual Horacio não teria sido mais do que coadjuvante — isto é, não fosse a ação do inesperado, com o azar como autor de um disparo enquanto Quiroga conferia a arma de seu apadrinhado. Mas a morte do companheiro foi também mais um entre os muitos desastres de sua vida — e, dependendo de como for contada, a sucessão de azares letais ganha ares de destino, com tragédias empilhadas por uma moira com um fraco por simetrias improváveis e amores difíceis (por mulheres, pela selva). Combinada ao insólito de sua literatura, a imagem de Horacio Quiroga sai maior do que a vida, mas também simplificada e um tanto folhetinesca. Já no livro O anarquista solitário (Iluminuras, 256 pp, R$ 98), a história de Quiroga é outra — e para a felicidade de seus leitores. Sendo autor da primeira biografia do escritor em língua portuguesa, Wilson Alves-Bezerra beneficiou-se aqui das versões da vida de Horacio já contadas em espanhol, mas também delas se distanciou sem cerimônia quando foram necessários alguns acertos de contas.

[03/09/2024 07:00:00]
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