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A nossa liberdade
PublishNews, Paulo Tedesco, 25/03/2024
A L&PM foi a pioneira na produção, mas principalmente na manutenção das vendas de livros de bolso no Brasil

Na conta dos novos canais digitais que vêm surgindo, cada vez em maior número e variedade, por esses dias encontrei uma entrevista do editor Ivan Pinheiro Machado, o PM da já cinquentenária Editora L&PM, aqui de Porto Alegre, na CuboPlay, programa Pensando Bem (pode ser visto no YouTube). Os entrevistadores, Nando Gross, Luis Fernando Fischer e o Juremir Machado da Silva, gravaram presencialmente e ao redor de uma mesa, no que hoje se chama “podcast”, uma excelente e muito produtiva conversa.

A L&PM, para quem não sabe, foi a pioneira na produção, mas principalmente no mantenimento das vendas no formato livro de bolso no Brasil. Também foi das primeiras a trazer e ainda traz grandes autores com direitos autorais liberados e outros não, mas que precisam de muitos livros em série para podermos conhecê-los na totalidade, como George Simenon, Agatha Christie, Balzac, entre outros. Algo que as edições de bolso ajudaram muito, visto os valores de capa e a facilidade de aquisição.

E há muito mais, e por isso recomendo a entrevista, simplesmente ótima. O que chamou mais a atenção foi o papo sobre cinema e livro, isso mesmo. Um dos entrevistadores comentou sobre o que hoje, de certa forma, incomoda a produção cinematográfica no Brasil e fora, que se dá numa espécie de padronização dos filmes e séries. Afinal o canal (streaming, cinema, televisão) a ser assistido é também muitas vezes o produtor, e por isso pode definir o filme em muitos aspectos.

E passaram para o entrevistado, Pinheiro Machado, se o mundo do livro, com a globalização e no caso do Brasil, a concentração e a internacionalização do mercado do livro, também passava pelo mesmo, ou seja, se os livros também caíram nessa camisa de força dos padrões de consumo do entretenimento. E foi sem dúvida uma excelente pergunta. Visto que muitos leitores, muitos mesmo, só leem autores estrangeiros traduzidos, e ao chegarem nos brasileiros, em se tratando de ficção, há um choque, com frequência.

O Pinheiro Machado foi rápido e leve, disse que não, visto a autopublicação e as centenas, talvez milhares de pequenas gráficas, além das versões digitais, e de autores nos mais diversos gêneros e estilos. Para minha felicidade, um dos maiores e mais tradicionais editores, de quem sou fã, falando que essa, a bibliodiversidade, é o que está salvando a literatura e o mercado editorial brasileiro.

Que delícia ter ouvido e visto isso. Em tempos em que inteligência artificial produz diariamente livros e mais livros para o Kindle da Amazon (sim, é verdade, tanto que a empresa limitou a três livros por dia o máximo de publicação por responsável; se exigissem ISBN talvez melhorasse), e quando todos os aplicativos de criação oferecem a IA gratuitamente, o que coloca a questão autoral constantemente em xeque. Nesses tempos, ainda há quem, do alto de sua experiência e exposição, diga que a boa literatura tem salvação e por um único motivo: a liberdade de escrever e publicar!

Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

Tags: L&PM, streaming
[26/03/2024 10:00:00]
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