“Uma pesquisa dessa envergadura nos dá sim números e tendências, e norteia estratégias de vendas, estratégias de marketing, de aberturas de novas lojas”, explica Vitor Tavares, diretor geral da Distribuidora e Livraria Loyola e sócio da Drummond Livraria. Uma informação que chamou sua atenção foi a de que um dos principais motivos alegados para não comprar livros é a falta de pontos de venda próximos.
Para Gerson Ramos, diretor comercial da Editora Planeta, um dos destaques da pesquisa é o fato de as classes C e D serem a maioria do público consumidor em termos absolutos. “Isso indica uma necessidade de termos não só ambientação apropriada para não constranger esse público, coisa que acontecia com megastores suntuosas, mas também a necessidade de preparar as equipes de vendas para um atendimento mais afetivo e hospitaleiro”, explica. “Nós do mercado conhecemos inúmeros casos de vendedores de livros arrogantes que comprometem a boa experiência de compra”, alfineta.
Para ele, já havia a percepção de que as compras online são fortemente influenciadas por promoções. "Mas ao mesmo tempo é importante a ênfase dada pelos entrevistados que optaram pela compra offline na valorização do manuseio e na oportunidade ‘passear’ pelas estantes e conhecer outras oportunidades de leitura”, aponta.
Não compradores
Já Ricardo Costa, CEO da MVB Brasil, afirma que olhou mais para o segmento de não compradores de livros, também estudado na pesquisa. “Os principais fatores que eles apontam como razão para não comprar livro é o preço, ausência de loja próxima e falta de tempo. Se formos honestos, a única razão válida aqui é a ausência de loja. O livro não é caro, o problema é quanto valor se dá a ele. Ninguém vai ao cinema, ao ‘Méqui’ ou num happy hour com os amigos por menos de R$ 37”, comenta.
Ele cita outro dado dos não compradores: 72,9 milhões (56% dos 84% não compradores) de brasileiros não compraram livro porque leram alternativas – PDF, biblioteca, empréstimo de amigo, ganharam de presente. “Então, são leitores. Cuidado aqui com uma inferência que pode não ser precisa: PDF é igual a pirataria? Não necessariamente. Ainda existem editores vendendo livros em PDF. E não é um número muito pequeno… O que não quer dizer que não existam piratas, claro! Existem. Muitos. Mas talvez pudéssemos olhar para isso como o faz uma editora, que me falou uma vez: ‘pirataria pra mim é demanda’… Só pra gente pensar”, diz Costa.
Para Adriana Alcântara, diretora-geral da Audible Brasil, a pesquisa mostra também que a forma como os brasileiros estão consumindo literatura está se transformando. “É interessante observar que o segmento de audiolivros no Brasil vem se desenvolvendo a ponto de o formato já representar quase 20% do consumo de livros digitais no país”, comenta.
“Outros dois indicadores que me chamam atenção são o de que 46,5% dos compradores de livros digitais buscam por ‘crescimento pessoal’ e que 50% deles utilizam o celular para consumir conteúdo”, aponta. “De fato, a falta de tempo para se dedicar à leitura somada à demanda crescente por auto-desenvolvimento é uma combinação propícia para a busca de uma nova dinâmica para ter acesso a boas histórias”, avalia.
Ricardo Costa também comentou sobre a importância do metadados na decisão de compra. “Na lista de fatores que influenciam a compra de livros, as informações de Tema ou assunto foram responsáveis por quase 50% das respostas. Os 13 primeiros fatores estão relacionados com os metadados. De uma maneira ou de outra, eles são fundamentais para a decisão de venda”, conclui.
Formação de leitores
“A gente detecta a questão de falta de políticas consistentes de formação de leitores, especialmente na primeira infância”, diz Tavares. “Temos muita coisa para fazer para melhorar. A gente percebe o índice muito baixo de pessoas que compram livros, mesmo da classe mais favorecida, eles não compram tanto livros como deveriam comprar, então isso tudo reflete e confirma que nós temos um baixo índice de leitores, um baixo índice de prazer por ler”, lamenta.
O Panorama do Consumo de Livros buscou identificar o perfil e hábitos dos compradores de livros no Brasil. O estudo analisou o comportamento de compra de livros no Brasil através de uma metodologia rigorosa, envolvendo 16 mil entrevistas com pessoas maiores de 18 anos, cobrindo todas as regiões (Sudeste, Sul, Norte, Nordeste, Centro-Oeste) e estratos socioeconômicos (A, B, C, DE). O estudo, realizado entre 23 e 31 de outubro de 2023, incluiu tanto compradores quanto não compradores de livros, garantindo uma ampla representatividade com uma margem de erro de apenas 0,8% e um nível de confiança de 95%, segundo a Nielsen.
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