Flip 2023 é marcada pelo apagão e por diversidade; edição 2024 deve ficar para setembro
PublishNews, Guilherme Sobota, 27/11/2023
Casa PublishNews recebeu recorde de público em eventos com Conceição Evaristo e Xico Sá, entre outros autores e autoras

Flip 2023 reuniu 27 mil pessoas em Paraty | © Sara de Santis
Flip 2023 reuniu 27 mil pessoas em Paraty | © Sara de Santis
A 21ª edição da Flip – que terminou neste domingo (26) – será uma das mais lembradas por conta de um apagão que tomou a cidade na noite da quinta-feira (23), pelo calor de 39ºC dos primeiros dias, mas também pelos aspectos positivos daquela que está entre as reuniões mais intensas do mercado editorial brasileiro no seu calendário anual. Pelo segundo ano seguido na Rua do Comércio, uma das mais movimentadas da cidade, a Casa PublishNews recebeu seu recorde de público em encontros com Conceição Evaristo e Xico Sá, contou com a presença de autoridades do poder público e do mercado do livro para debates e painéis, e sediou com uma extensa e diversa programação de autores e autoras para falar sobre livros, literatura e leitura.

Em 2024, a Flip deve ser realizada em setembro – mesmo mês da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, já marcada para os dias 6 a 15 de setembro. Em 2025, a Flip deve voltar para a data original, em julho. O intenso calor e o apagão – causado por uma manutenção da rede elétrica por parte da concessionária, a Enel – fizeram editores e frequentadores clamarem pelo retorno à data original. A mudança da época do ano foi decorrente, nos últimos dois anos, da pandemia e de atrasos na liberação e captação de recursos. Para os próximos anos, a Associação Casa Azul, que organiza a Festa, tem aprovado um plano plurianual na Lei de Incentivo à Cultura, o que deve contribuir para a organização.

Segundo a Flip e a Prefeitura, 27 mil pessoas visitaram a cidade durante a Flip 2023, número 10% maior do que no ano passado. Houve também um crescimento na ocupação do Auditório da Praça (5% a mais média). Em contato com o PublishNews na sexta-feira (24), a Prefeitura de Paraty informou que a taxa de ocupação dos hotéis e pousadas da cidade era de 80%, segundo a Secretaria de Turismo. Veja abaixo outros números da 21ª Flip.

Casa PublishNews

Conceição Evaristo lotou a Casa PublishNews no sábado | © PublishNews
Conceição Evaristo lotou a Casa PublishNews no sábado | © PublishNews
No sábado, a Casa PublishNews passou o dia lotada ao receber em dois momentos diferentes dois grandes nomes da literatura brasileira contemporânea: Conceição Evaristo e Xico Sá.

Às 11h, Xico Sá conversou com o jornalista Rodrigo Casarin, ambos apresentando seus novos lançamentos (A falta, da Planeta, e A biblioteca no fim do túnel, da Arquipélago) e falando sobre literatura e futebol. Mais tarde, às 14h30, Conceição Evaristo passou pela Casa para falar com a jornalista da CNN, Luciana Barreto, sobre os 20 anos de seu primeiro romance, Ponciá Vicêncio (Pallas). Nos dois momentos, leitores e leitoras tiveram que sentar no chão ou permanecer de pé quando já não havia mais lugares disponíveis.

O cordelista, cantor e compositor Costa Senna, autor de Caminhos diversos – sob os signos do cordel (Global Editora), fez um show também para uma audiência atenta, e ao longo do dia, diversos assuntos do mercado editorial estiveram em pauta: tecnologia, criação e divulgação dos livros, fusões e aquisições, tradução e PoD.

Neste ano, foi renovado o recorde de parceiros comerciais da Casa. De 19, no ano passado, a Casa passou para 25, entre patrocinadores master, patrocinadores, empresa envolvida em ação pontual e apoiadores. São eles:

  • Patrocínio Master: CBL e Transpo Express
  • Patrocínio: SNEL, Bookwire, Maralto, Outra Margem, Labrador, nVersos, MVB, Bella, UmLivro, Centauro Comunicaciones, DBA, Grupo Editorial Global, Letras do Pensamento, Saraiva Educação, Audible Brasil, Editora da Ponte, Alta Books, LC – Agência de Comunicação, Zain e Nielsen BookData.
  • Empresa envolvida em ação pontual: Oasys Cultural
  • Apoio: Sesc, Gráfica Viena e Let's Beer.

Editores e editoras avaliam a Flip 2023

“Para a Alta Books, foi um ano muito bom”, explica a diretora de marketing do Grupo, Andrea Guatiello. “Cumprimos o objetivo de nos consolidar no mercado da literatura. No nosso segundo ano, tivemos autor internacional na programação principal, Akwaeke Emezi, e o Marcelo Maluf esteve presente em diversas mesas. Achei que estava mais cheio do que no ano passado, e a programação paralela vem ganhando mais força. Conseguimos fazer parcerias incríveis com jornalistas e influenciadores literários. Mantivemos a estratégia do ano passado: programação nas casas parceiras e a nossa casa para networking. Em termos de branding e marketing, estamos muito satisfeitos”, explicou. Ela concorda que o evento precisa voltar para a sua data original.

Leitores enfrentaram a chuva para ver seus autores favoritos na Casa PublishNews | © PublishNews
Leitores enfrentaram a chuva para ver seus autores favoritos na Casa PublishNews | © PublishNews
Simone Paulino, da Nós, diz que seria injusta se reclamasse da Flip. “Para a Nós, foi um evento ótimo: tivemos duas autoras na programação principal, a Adriana Armony, que fez a mesa de abertura, e depois a Luiza Romão também falou numa mesa de sexta-feira, que foi apoteótica. Ela ficou horas assinando livros, e depois foi aplaudida no restaurante onde fomos almoçar. O livro ficou em 8º na lista de mais vendidos, um livro de poesia, que já vendeu bastante desde que ganhou o Jabuti”, comentou.

Sobre a já tradicional Casa Paratodos (que neste ano reuniu Nós, Dublinense, Relicário e Tabla), ela conta que esteve lotada o tempo todo, tanto a programação, quanto a mini-livraria, que “vendeu muito bem”. “Desejamos profundamente que o evento volte a ser em julho”, comentou. “Fica a grande pergunta de quem será a curadora ou curador da próxima edição. Como lidar com a nova realidade da Flip? Porque não é mais ‘a’ Flip, são várias Flips. É necessário que a Flip original acolha as programações paralelas como parte da Festa, e não como algo que está à margem. Hoje, a Flip precisa de programação paralela para poder satisfazer as necessidades do público”, avaliou.

Para o editor da Reformatório, Marcelo Nocelli – que neste ano participou da Casa Pagã, inédita no evento – uma das questões é a falta melhorias na infraestrutura da cidade. “Eu venho à Flip desde 2008, sabemos da importância do evento. Não vemos nenhuma melhoria na cidade, isso é um ponto ruim”, lamenta.

Ele concorda que a realização do evento em novembro, pós Festa do Livro da USP, também é complicada. “Flip em julho é sempre melhor. Combina mais com o evento, com Paraty. Mas de positivo, o que notei é que foi uma Flip com bastante diversidade em todos os sentidos, diversidade literária, cultural e nas programações. Casas parceiras muito interessantes. A Casa Pagã, no seu primeiro ano, fiquei muito feliz, fizemos 35 mesas, misturando autores e autoras. Nem saí muito da Casa, porque dá muito trabalho, mas colhi muitos elogios. Senti uma venda de livros um pouco menor, mas a oferta tem crescido também. A Casa Queer foi um ponto alto dessa Flip, e o melhor é sempre encontrar os amigos e amigas nas ruas”, explicou.

Casa PublishNews, um dos espaços parceiros da Flip 2023 | © PublishNews
Casa PublishNews, um dos espaços parceiros da Flip 2023 | © PublishNews
Já para o editor da Malê, Vagner Amaro, o clima da Festa foi de esperança – em contraste com as edições anteriores, onde o discurso prevalente era de resistência. “Percebi uma ampliação da diversidade com o surgimento da Casa Queer — com uma programação muito consistente, Casa da Utopia e Casa da Favela, entre outras. Me parece que cada vez mais outras iniciativas se sentem encorajadas a montar uma casa durante a Flip”, avalia.

Ele concorda, porém, que a data em novembro foi ruim. “A Flip ser no final de novembro é um erro por diversos motivos, o calor, as agendas pessoais de trabalho do público e dos autores convidados, a agenda das editoras, do próprio mercado editorial, não é um período tão interessante para lançamentos, vende-se menos livros, não é bom para o cronograma turístico de Paraty... Espero que retorne para julho”, conclui.

Flip em números

  • Número de espaços parceiros: 44
  • Taxa de ocupação das pousadas: 84%
  • Estimativa de pessoas em Paraty: 27 mil pessoas
  • Pousadas parceiras: 86
  • Editoras parceiras: 14
  • Embaixadas e consulados: 3
  • Praça aberta: 17 espaços
  • Número de acessos no Youtube até o momento: 24.057

Leis de incentivo

  • Aprovado na Lei Rouanet = R$ 9,1 milhões
  • Captado via Lei Rouanet até o momento = R$ 5 milhões
  • Outras captações até o momento = R$ 4 milhões
  • Custo da 21ª Flip = R$ 10 milhões

O projeto é realizado pelo Ministério da Cultura e pelo Governo Federal, com concepção da Associação Casa Azul. Conta com o benefício da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Patrocínio Master do Instituto Cultural Vale, Patrocínio Ouro de Itaú Unibanco, CCR e Caixa Econômica Federal, Patrocínio Prata do jornal O Globo, Maqmóveis e Sebrae, Patrocínio Bronze da Globo Livros e da Eletronuclear e Parceria Institucional de Sesc CNC Senac, Prefeitura de Paraty, Embratur e Museu do Território.

[27/11/2023 10:20:00]