Bienal do Livro ganha força com jovens influenciadores, mas ainda demanda destaque para autores
PublishNews, Betinho Saad*, 1º/11/2023
É necessário criar ações e espaços para que escritores e escritoras ganhem destaque nesses eventos

Bienal do Livro reuniu mais de 600 mil pessoas em 2023 | © Snel
Bienal do Livro reuniu mais de 600 mil pessoas em 2023 | © Snel
Existe a ideia de que os brasileiros não gostam de ler. Mas a mais recente edição da Bienal do Livro do Rio de Janeiro contradiz essa tese. Seus números impressionam: com mais de 600 mil visitantes, 5,5 milhões de livros vendidos, em uma área de 90 mil metros quadrados e mais de 380 autores em sua programação oficial, o evento se mostra um sucesso.

O que atrai o público para a Bienal é, em parte, a possibilidade de comprar obras com desconto e estar perto dos autores. Mas, além disso, é preciso considerar que sim, os brasileiros gostam de ler e há uma grande influência das redes sociais para incentivar a leitura – valeu, tik tokers – com destaque para o público jovem.

Existem hoje muitos influenciadores, em diferentes plataformas, que compartilham suas leituras, analisam obras e falam sobre o prazer de ter em mãos um livro. E sim, falo dos livros físicos. Embora o mercado de livros digitais tenha crescido, correspondendo a cerca de 7% do mercado editorial brasileiro hoje, os físicos ainda dominam com os 93% restantes, de acordo com dados da Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2022-2026, organizada e divulgada pela PwC Brasil.

Outros estudos apontam que existe uma preferência pelo papel. Uma pesquisa realizada pela Two Sides revelou que 64% dos leitores brasileiros preferem livros impressos, contra 29% dos que preferem ler em dispositivos eletrônicos. O formato digital faz sucesso principalmente quando se trata de universidades e do cenário acadêmico em geral, quando o volume de leituras é muito grande e é preciso ter acesso a todas as informações de maneira fácil e em qualquer lugar. Já quando se trata da leitura por prazer, a preferência é pelo livro impresso, com cheirinho de papel e com a satisfação de folhear. Eu, particularmente, sinto que a experiência se torna infinitamente mais prazerosa quando se tem o livro desejado nas mãos. Ir a uma bienal amplifica essa oportunidade.

Uma experiência que realizamos este ano foi expor as obras com um QR Code que oferecia descontos. Além disso, como trabalhamos com impressão sob demanda – que garante um processo sustentável –, os leitores efetuaram as compras no estande da Bienal, mas receberam as obras em casa sem se preocupar com o peso no passeio. Uma delícia a expectativa de esperar pelo novo livro.

Para as empresas do mercado editorial, as bienais permitem alavancar as vendas, além de tornar as editoras, os autores e as obras mais conhecidos. É uma oportunidade de branding, de ter contato direto com o público, ouvir suas ideias, e conhecer suas preferências. Para uma startup, participar de um evento é um verdadeiro processo de pesquisa, entendendo as demandas do mercado e dos leitores. É um grande aprendizado e traz a sensação de dever cumprido, resultando em novas ideias e reflexões.

Diante dessas características, as bienais são focadas na venda de livros, o que pode deixar os autores relegados a segundo plano. Por isso, é necessário criar ações e espaços para que eles ganhem destaque. Eu, como fundador de uma plataforma de venda e publicação de livros físicos, tenho trabalhado para isso. Noto que o sentimento dos autores, que tiveram a oportunidade de lançar um livro pela primeira vez, de comparecer a um evento como este é indescritível: eles interagem entre si e ainda contam com a participação de suas famílias.

Essa oportunidade de troca e de confraternização precisa ser levada em conta. Estamos trabalhando para criar uma comunidade de escritores e oferecer a melhor experiência possível para esse público. Mesmo que o autor não compareça, sabe que sua obra está exposta ali.

Com tudo isso, as bienais são uma oportunidade para leitores apreciarem os livros ao vivo e a cores e conhecerem alguns autores e editoras. Essa interação é a oportunidade para as editoras conhecerem seu público e saberem o que esperam os leitores, rompendo as barreiras e a distância. Quanto aos autores, eles ainda precisam conquistar maior espaço nesses eventos, conhecendo outras pessoas que escrevem, as editoras e captando leitores para suas obras. Afinal, é para isso que estamos neste mercado, não é mesmo?


*Betinho Saad é fundador da UICLAP. Formado em Administração de Empresas, com pós-graduação em Gestão Contábil e Financeira, atuou por quase 10 anos no ramo do entretenimento, em casas noturnas. Trabalhou na gestão de um hospital, onde permaneceu por mais de oito anos. Após um período no Canadá, retornou ao Brasil e criou a UICLAP em 2019, junto com Rui Kuroki, ao enxergar as principais dores e oportunidades do mercado editorial.

[01/11/2023 11:41:30]