Em 'Náufragos', pessoas comuns que vagam pelas ruas de uma grande cidade como sonâmbulos peripatéticos
Uma pessoa em situação de rua que divide um caixa eletrônico com um homem de meia idade e muitas dívidas, um taxista convence o passageiro a pegar um caminho diferente para ver se a ex-mulher que o abandonou está num bar, um funcionário de uma empresa de telemarketing que vê proximidade e distância com um cliente quase homônimo milionário. As personagens de
Náufragos (Malê, 114 pp, R$ 52,00) são pessoas comuns que vagam pelas ruas de uma grande cidade como sonâmbulos peripatéticos, falando sozinho, com público ou não, compartilhando silêncios e segredos na mesma respiração. A beleza da boa literatura pode ser verbalizar o pensado, mas não dito. Pode ser refletir sobre o acontecido, sendo ele passado ou ainda presente. Nestes 19 contos, Fernando Molica propõe uma investigação sobre a solidão, o naufrágio, seja ele amoroso, religioso ou financeiro. As personagens desse grande naufrágio estão quase sempre acompanhadas e em movimento, mas estão sós, inexoravelmente sós. Como, no fundo, estamos todos nós.