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O legado literário de Jô Soares
PublishNews, Thales de Menezes, 08/08/2022
Eis um guia dos livros publicados por Jô Soares, que venderam mais de 1,5 milhão de exemplares no Brasil e ganharam traduções em países como EUA, França, Itália, Japão e Argentina

Jô Soares | © Divulgação TV Globo
Jô Soares | © Divulgação TV Globo
Passado um fim de semana em que milhões de fãs assimilaram da melhor maneira que puderam a morte de Jô Soares, na última sexta-feira, talvez seja possível conter a tristeza. Sua morte, aos 84 anos, despertou em todos a memória afetiva de seus grandes personagens nos programas de humor e no carisma e inteligência incontestáveis entrevistando Deus e o mundo na TV.

Agora é possível pensar em uma revisão do trabalho de Jô Soares como escritor. Ele deixa uma bibliografia que já vendeu 1,5 milhão de exemplares no Brasil, ganhando traduções em vários países como EUA, Japão, Argentina, Itália e França.

Eis a produção de Jô Soares, livro a livro:

O astronauta sem regime
L&PM, 1983 (110 pp, esgotado)
Apesar de desfrutar na época de um sucesso nacional na TV, com quase duas décadas de estrelato nos programa humorísticos, o primeiro livro de Jô Soares não foi um sucesso de vendas. É um volume de contos, e alguns críticos à época apontaram uma irregularidade muito grande de um texto para outro. Para uma parte da crítica, Jô não conseguiu imprimir no papel o mesmo ritmo de seus monólogos humorísticos. De certo modo, essa opinião geral acabou dominando a repercussão geral do livro até hoje, porque está fora de catálogo há bastante tempo, por enquanto sem perspectiva de relançamento. Mesmo nos sebos não é um produto que provoque grandes disputas. Provavelmente a morte do autor deve causar uma procura maior por esse livro.

O humor nos tempos do Collor
L&PM, 1992 (120 pp, esgotado)
Com inúmeras edições feitas durante a década de 1990, esse livro não tinha como dar errado. A reunião de Jô Soares, Millôr Fernandes e Luis Fernando Verissimo como coautores é uma espécie de “dream team” do humor na época. Ali estão reunidas crônicas e charges, retiradas de jornais e revistas, que retratam o governo de Fernando Collor desde sua posse até os escândalos que o obrigaram a deixar o poder. A crítica destacou que, cada um de seu modo, os três autores tinham como traço de união uma inteligência aguda aplicada às observações do teatro político de Brasília. O título é um verdadeiro achado, fazendo referência a um best-seller mundial lançado alguns anos antes, O amor nos tempos do cólera, do colombiano Gabriel García Márquez.

A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar
Companhia das Letras, 1994 (184 pp, esgotado)
Escrito em coautoria com os jornalistas Armando Nogueira e Roberto Muylaert. Os três assistiram à Copa de 1950, estavam na final no Maracanã, na qual o Brasil perdeu no Uruguai, um dos resultados mais inesperados da história do futebol. Quatro anos depois, estavam também na Suíça e testemunharam a chamada “batalha de Berna”, como ficou conhecida a derrota para a Hungria por 4 a 2, que eliminou o Brasil daquele mundial. Uma partida violentíssima, onde duas equipes de extrema técnica deixaram o futebol bonito de lado e travaram um embate físico intenso. A reunião dos textos sofisticados dos autores, que não se conheciam nessa época, dá lirismo a momentos de decepção coletiva diante de duas derrotas marcantes da seleção.

O Xangô de Baker Street
Companhia das Letras, 1995 (192 pp, R$ 49,90)
Este pé o livro que transformou Jô Soares num verdadeiro best-seller. O título liderou as listas de mais vendidos por semanas, teve dezenas de reedições, também como livro de bolso, e gerou um filme divertido em 2001, dirigido por Miguel Faria Jr, no qual Jô faz um papel. O livro é o grande momento da fórmula apreciada por Jô de misturar ficção e fatos e personagens reais num determinado período histórico. No caso, a vinda de Sherlock Holmes e seu ajudante Dr. Watson ao Rio, para decifrar o desaparecimento de um valioso violino Stradivarius do imperador Dom Pedro II. Mas o famoso detetive vai acabar se envolvendo na investigação dos crimes daquele que pode ser o primeiro serial killer da história, atuando no Brasil! Além de exibir seu talento nas deduções, Holmes vai se embriagar com os atrativos gastronômicos e sexuais de um país tropical.

O homem que matou Getúlio Vargas
Companhia das Letras, 1998 (314 pp, R$ 69,90)
Aqui Jô dispara sua ironia para brincar com o gênero literário das grandes biografias. Ele cria um personagem inusitado: Dimitri Borja Korozec, de pai sérvio e mão brasileira. Sai característica física é ter seis dedos em cada mão e sua profissão é assassino, ofício no qual se especializa em matar líderes políticos. Apesar de ter estudado numa renomada escola de matadores e ter uma pontaria extraordinária, ele também é muito desastrado. Foi por um vacilo de Dimitri que a Primeira Guerra Mundial começou. Jô vai entrelaçando as peripécias de seu assassino com fatos históricos, e em alguns momentos o que é história real parece mais surreal do que as invenções do autor. Vindo do sucesso de O Xangô de Baker Street, Jô entrou novamente nas listas de mais vendidos com este volume.

Assassinatos na Academia Brasileira de Letras
Companhia das Letras, 2005 (256 pp, R$ 64,90)
Um serial killer literário solto no aparentemente tranquilo Rio de Janeiro de 1924. E seu desejo é que todos os membros da ABL deixem sua condição de imortal e caiam mortos. Os escritores vão morrendo um a um, de modo súbito, sem sangue nem violência aparente. Surge então a figura do comissário Machado Machado, que acredita ter inúmeras qualidades como detetive e sedutor de donzelas, embora tais predicados sejam difíceis de confirmar. Em sua missão de provar que essas mortes não são uma coincidência, ele se depara com uma galeria de suspeitos na qual o Jô pode despejar tipos muito engraçados, entre políticos, nobres falidos, poetas, magnatas da imprensa, atrizes, embaixadores e religiosos. Um romance policial irônico, que dificilmente poderia ter sido escrito por um imortal da ABL.

As esganadas
Companhia das Letras, 2011 (264 pp, R$ 57,90)
Em seu último romance publicado, Jô volta a um tema que é um de seus preferidos, os assassinatos em série. Mais do que decifrar um mistério, ele se preocupa em divertir o leitor com as atrapalhadas iniciativas da polícia carioca para elucidar os crimes, criando investigadores apatetados. Mais uma vez, ele escolhe um período histórico para abrigar a narrativa, no caso o Rio de Janeiro do Estado Novo, antes de explodir a Segunda Guerra Mundial. O futebol volta a ter destaque, com a inserção da transmissão pelo rádio da derrota do Brasil de Leônidas da Silva para a Itália na Copa do Mundo de 1938, na França. A crítica destacou o grande talento de Jô ao conseguir misturar a descrição detalhada de crimes brutais com um olhar nostálgico a um charmoso Brasil daquela época.

O livro de Jô: uma biografia desautorizada – Vol. 1
Companhia das Letras, 2017 (480 pp, R$ 77,90)
Escrito em parceira com o jornalista e amigo Matinas Suzuki Jr., o primeiro livro de memórias de Jô resgata fatos lugares e pessoas marcantes na juventude e reconstitui seus primeiros passos no mundo dos espetáculos nas décadas de 1950 e 1960 relembra sua infância no Copacabana Palace e a dura conquista do estrelato. passa por seus primeiros 30 anos de vida, da meninice nos palácios da elite carioca a passagem por um internato na Suíça; por sua passam pelo jazz, a estreia no cinema e na TV fazendo pequenos papéis, seu primeiro casamento e a conquista do sucesso, como estrela do humorístico Família Trapo, na TV Record.

O livro de Jô: uma biografia desautorizada – Vol. 2
Companhia das Letras, 2017 (390 pp, R$ 77,90)
No segundo volume da autobiografia, Jô abre espaço para histórias divertidas, como distribuir hóstias ao lado de \dom Hélder Câmara ou suas aventuras como motoqueiro, com dois acidentes e alguns machucados pelo corpo. Jô fala de sua estreia na rede Globo, com o revolucionário humorístico Faça humor, não faça guerra, de seus espetáculos no teatro precursores do stand up, da saída para o SBT quando estava no auge do sucesso na Globo, dos programas de entrevistas que seduziram o Brasil. Ele relembra casamentos, relata a perda do filho Rafael e revela, durante todo o volume, suas predileções artísticas e o apreço por amigos vários amigos e personalidades, como Orson Welles e Winston Churchill.

[08/08/2022 11:30:00]
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