Publicidade
Contos imprevisíveis
PublishNews, Redação, 18/11/2021
Obra do prêmio Nobel J. M. Coetzee apresenta sete contos sobre o desejo, ou sobre como lidamos com o desejo dentro dos limites da nossa cultura

Num dos textos de Contos morais (Companhia das Letras, 144 pp, R$ 54,90 - Trad.: José Rubens Siqueira), uma mulher se sente diariamente ameaçada por um cão. Em outro, uma escritora só encontra conforto ao cuidar de gatos abandonados. Também há passagens envolvendo bodes, galinhas, insetos. O título, nesse sentido, poderia remeter a um diálogo com uma convenção da fábula clássica: o uso de bichos em histórias que enfatizam aspectos virtuosos da conduta humana. Como se trata do prêmio Nobel J. M. Coetzee, no entanto, nada é tão previsível. Para quem conhece a obra deste autor, a um só tempo fácil e difícil, moderna e pós-moderna, não é surpresa que a ideia de moralidade seja subvertida por uma ironia constante, feita de contradições presentes inclusive no estilo da escrita. Assim, se a linguagem é transparente e direta, a complexidade das ideias que expressa gera um curto-circuito nas certezas de quem lê. Os contos aqui não oferecem nenhuma lição. Das contradições entre natureza e cultura, Coetzee faz brotar uma obra loquaz sobre todos nós.

[18/11/2021 07:00:00]
Matérias relacionadas
Os contos aqui presentes revelam uma postura da autora Marguerite Yourcenar de ​experimentar com a linguagem, os símbolos e as fronteiras entre o real e o fabuloso
Em edição amplamente anotada e comentada, 'Recordações de infância' é a enxuta reunião de contos de Giuseppe Tomasi di Lampedusa
Escritora Lara Haje toma as situações desse cotidiano e as revira como fruta aberta ao meio, revirada ao contrário, entranhas expostas
Leia também
Quando a livraria da Place aux Herbes é colocada à venda, a professora, que sempre sonhou em ser livreira, vê uma oportunidade
Texto inaugural de Paula Lopes Ferreira tem carga emotiva e reflete sobre brutalidades físicas e psicológicas que parceiras sofrem dentro de um relacionamento
Em 1851, o marinheiro americano McGlue acorda amarrado no porão do navio onde trabalha, acusado de matar um amigo e parceiro