Tendências e insights do mercado britânico de livros
PublishNews, Leonardo Neto, 12/03/2019
Audiolivros, crescimento dos livros de não ficção e infantis feministas, assistentes virtuais vendendo livros e a preocupação de um editor com o seu papel no mundo: confira o primeiro dia LBF

A Feira do Livro de Londres foi aberta oficialmente nesta terça-feira (12), mas, antecedendo a programação oficial, aconteceu, nesta segunda, a Quantum Conference. A programação foi dividida em três grandes temas: audiolivros, livros de não ficção e infantis. E isso não foi por acaso.

Os audiolivros, pra início de conversa, continuam em alta na Terra da Rainha. Segundo dados apresentados por Oliver Beldham, gerente de pesquisa da Nielsen Book, entre 2017 e 2018, as vendas desse formato cresceram 13% e se comparar com quatro anos atrás, o crescimento é de 128%. Hoje, os audiolivros dão conta de 5% do faturamento total do setor editorial que é de 2,38 bilhões de libras. Há ainda um resquício de audiolivros físicos (em CDs) e 26% das vendas de 2018 ainda foram feitas nesse formato, mas a grande maioria dos audiolivros é consumida digitalmente. Neste cenário, destacam-se as vendas por meio de serviços de assinatura que cresce ano a ano. Em 2018, 45% dos 1.245 respondentes da pesquisa revelaram que ouviram livros por meio de serviços de subscrição. Os smartphones (71%), sistemas de carros (16%) e assistentes virtuais (11%) também estão em alta. Os britânicos que se identificam como sendo do gênero masculino são a maioria dos ouvintes de livros. Eles são 54% daqueles que ainda ouvem em CDs e 51% daqueles que preferem os formatos digitais.

O ano que passou foi dos livros de não ficção por aqui. Eles foram responsáveis por 40% de todas as vendas de livros no ano passado. Impulsionadas pelas discussões sobre a saída da Inglaterra da Comunidade Europeia, o Brexit, as vendas de livros sobre política, por exemplo, apresentaram crescimento de 170%. Ajudada pelo livro Becoming, de Michele Obama, a categoria de biografias e autobiografias disparou e cresceu 15% na comparação com o ano anterior.

Os pequenos britânicos também colaboraram pelo crescimento do setor editorial no país. Em comparação com 2017, em 2018 o aumento no volume de vendas de livros físicos, no geral, foi de 3%, mas os livros infantis cresceram 30%. O destaque aqui foi pela aposta dos editores britânicos em livros infantis com temática feminista. No ano passado, foram vendidos 425 mil exemplares nesse segmento, aumento de 80% sobre o registrado em 2017 e de 750% quando comparado com 2016.

Are publishers any use?

"'Editar é um ato político', diz CEO da Faber & Faber em conferência que abre a programação da Feira do Livro de Londres"
"'Editar é um ato político', diz CEO da Faber & Faber em conferência que abre a programação da Feira do Livro de Londres"

Convidado para abrir a Quantum Conference, Stephen Page, CEO da Faber & Faber, resgatou uma palestra dada por Jeffery Faber em 1934. Cinco anos antes, ele fundava a Faber & Faber. “Editar hoje pode parecer muito diferente do que era anos atrás, mas algumas verdades se mantêm aplicáveis”, disse. Ele lembrou algumas revoluções vividas pela indústria editorial nos últimos anos, com destaque para o crescimento das redes de livrarias nos anos 1980; a chegada dos e-commerces na década seguinte e o advento dos e-books e o Kindle, no início dos anos 2000. Para ele, agora, chegou uma nova onda, em que as mídias sociais, o marketing digital, os big (and transparent) datas e o “listening as reading” ganharão contornos mais fortes. As previsões apocalípticas do início da era digital não se confirmaram e agora, segundo Page, o setor vive em um “terreno sólido”.

Ainda fazendo o paralelo com a palestra de Faber em 1934 (nesse ano Hitler se autoproclamava “fuher” da Alemanha), Page observou que o momento atual é “assustadoramente familiar” àquele no qual vivia o fundador da empresa. Ele, então estimulou os editores presentes a pensarem além dos resultados financeiros de suas empresas. “O individualismo enfraquece o poder da indústria editorial de resistir a certas tendências viciosas e perigosas”, disse. “Editar é um ato político. Precisamos ter a coragem de lutar pelos valores em que acreditamos: liberdade de expressão, respeito às ideias e à vida intelectual e pelos direitos autorais”, concluiu.

Siri, Alexa e Cortana: as novas livreiras

Em sua participação na Quantum Conference, o norte-americano Bradley Metrock, CEO da Score Publishing e criador do voicefirst.fm, trouxe um dado interessante. Ele fez um experimento envolvendo os principais assistentes virtuais existentes no mercado, como o do Google, a Siri (Apple), Cortana (Windows) e Alexa (Amazon). Ele solicitou o auxílio dos assistentes em três questões: eu quero ler Becoming, de Michele Obama; eu quero comprar Becoming, de Michele Obama e eu quero ouvir Becoming, de Michele Obama. Os índices de sucesso foram baixíssimos, mesmo o livro em questão ter sido um dos livros mais vendidos nos EUA no ano passado e olha que ele foi lançado em novembro. A partir disso, ele resolveu se aprofundar na questão. Foi mais a fundo e descobriu que diariamente são feitas mais de 3,5 milhões de consultas relacionadas a livros nessas plataformas. Segundo a sua apuração, 70 mil (2%) são tentativas de compras de livros, mas 1,9 milhão dessas consultas sequer são entendidas pelos assistentes. É venda perdida. Para resolver isso? Metadados.

[12/03/2019 07:00:00]