Frankfurt mais política do que nunca
PublishNews, Leonardo Neto, 14/10/2015
Boicote do Irã à feira provoca manifestações em favor da liberdade de expressão no maior evento da indústria do livro no mundo

Salman Rushdie na conferência de abertura para a imprensa | © Marc Jacquemin/Frankfurt Book Fair
Salman Rushdie na conferência de abertura para a imprensa | © Marc Jacquemin/Frankfurt Book Fair
A 67ª edição da Feira do Livro de Frankfurt foi aberta na noite desta terça-feira (13) com forte apelo político. Pela manhã, jornalistas foram obrigados a passar por um forte esquema de segurança para ter acesso à conferência de abertura para a imprensa com a presença do escritor Salman Rushdie. O convite para que Rushdie participasse do evento provocou o boicote do Irã à feira. No fim da década de 1980, o autor foi jurado de morte pelo governo iraniano ao lançar o livro Versos satânicos, no Brasil publicado pela Companhia das Letras. Em sua participação relâmpago na feira, Rushdie defendeu que sem liberdade de expressão não há nenhum outro tipo de liberdade e que atentados a essa prerrogativa afetam a natureza humana.

Rushdie se disse “chateado” por ter de tratar desse assunto. “A liberdade de expressão deveria ser como o ar que respiramos. Essa batalha já foi vencida há séculos e a retomada desse assunto é resultado de um fenômeno recente lamentável”, observou. “Só podemos estar aqui hoje porque escritores há mais de 200 anos combateram o poder da igreja”, disse fazendo referência a autores iluministas do século XVIII e citando Voltaire, Montesquieu e Diderot.

Juergen Boos, diretor da Feira do Livro de Frankfurt, endossou a fala de Rushdie e declarou que “a liberdade de expressão não é negociável”. “Eu não estou feliz com o boicote do Irã porque isso resultou na impossibilidade de haver uma oportunidade de diálogo com nossos colegas iranianos”. “Se há uma tarefa importante para a literatura e para a indústria do livro é provocar inquietação. Rushdie provoca isso com a sua literatura e editores também devem perturbar”.

O assunto iniciado pela manhã ganhou novo fôlego à noite, na cerimônia de abertura da feira. Em seu discurso, Heinrich Riethmüller, presidente da Associação Alemã de Editores e Livreiros, disse: “este ano, estamos em uma situação muito peculiar. O mundo está em crise”. O dirigente lembrou os ataques ao Charlie Hebdo, no início desse ano. Para ele, depois desse episódio, ficou claro para os editores e livreiros da Alemanha que é essencial que haja um compromisso para proteger a liberdade e em especial a liberdade da palavra escrita. “Para nós, o direito à liberdade de opinião e de expressão são valores inegociáveis. É isso o que forma a base de uma sociedade democrática, livre e, portanto, o fundamento da nossa profissão”, disse em seu discurso.

[14/10/2015 04:18:07]