Rushdie se disse “chateado” por ter de tratar desse assunto. “A liberdade de expressão deveria ser como o ar que respiramos. Essa batalha já foi vencida há séculos e a retomada desse assunto é resultado de um fenômeno recente lamentável”, observou. “Só podemos estar aqui hoje porque escritores há mais de 200 anos combateram o poder da igreja”, disse fazendo referência a autores iluministas do século XVIII e citando Voltaire, Montesquieu e Diderot.
Juergen Boos, diretor da Feira do Livro de Frankfurt, endossou a fala de Rushdie e declarou que “a liberdade de expressão não é negociável”. “Eu não estou feliz com o boicote do Irã porque isso resultou na impossibilidade de haver uma oportunidade de diálogo com nossos colegas iranianos”. “Se há uma tarefa importante para a literatura e para a indústria do livro é provocar inquietação. Rushdie provoca isso com a sua literatura e editores também devem perturbar”.
O assunto iniciado pela manhã ganhou novo fôlego à noite, na cerimônia de abertura da feira. Em seu discurso, Heinrich Riethmüller, presidente da Associação Alemã de Editores e Livreiros, disse: “este ano, estamos em uma situação muito peculiar. O mundo está em crise”. O dirigente lembrou os ataques ao Charlie Hebdo, no início desse ano. Para ele, depois desse episódio, ficou claro para os editores e livreiros da Alemanha que é essencial que haja um compromisso para proteger a liberdade e em especial a liberdade da palavra escrita. “Para nós, o direito à liberdade de opinião e de expressão são valores inegociáveis. É isso o que forma a base de uma sociedade democrática, livre e, portanto, o fundamento da nossa profissão”, disse em seu discurso.