Claude Lanzmann ameaça deixar o palco
PublishNews, Maria Fernanda Rodrigues, 09/07/2011
Ele participou da mesa “A ética da representação” na noite desta sexta-feira, na Flip

Até que começou bem a mesa A ética da representação, com o cineasta e jornalista francês Claude Lanzmann. Seu documentário de nove horas sobre campos de extermínio nazistas, Shoah, que consumiu 12 anos de sua vida e contou com o depoimento dos sobreviventes, foi o que deu início à conversa. “Existem coisas impossíveis na arte. Mostrar uma pessoa que morre com a mãe e o pai em um campo de extermínio é uma coisa radicalmente impossível e tentar seria uma das mais graves transgressões”, comentou. Mas logo ele se aborreceu com o rumo da conversa do mediador Márcio Seligmann-Silva, professor de literatura da Unicamp, e ameaçou ir embora caso não falassem sobre seu recém-lançado livro de memórias A lebre da Patagônia (Companhia das Letras) e caso o mediador não parasse de tratá-lo como um “débil mental”. “Hesitei muito em escrever esse livro. Seria preciso mergulhar e eu não tinha certeza de que queria isso”, contou o amigo de Sartre, namorado de Simone de Beauvoir e dono de uma rica e longa história. Ele disse ainda que nunca pensou que escreveria coisas como a morte da mãe e da irmã, mas que essas histórias foram impostas a ele e a construção, complexa e sutil. “O tempo nos obriga sempre a esquecer, mas é preciso lutar.” Do alto dos seus 85 anos, o que lhe dá certa licença para reclamar, Claude Lanzmann... reclamou. Do clima, do fato de apenas um jornalista presente à coletiva de imprensa ter lido seu livro, das perguntas do mediador e do próprio mediador.

[09/07/2011 00:00:00]