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“Oswald não tinha nada de bicho-papão. Era só não brigar com ele”
PublishNews, Maria Fernanda Rodrigues, 07/07/2011
Na conferência de abertura da 9ª Flip, Antonio Candido falou do amigo Oswald de Andrade

Um Antonio Candido à vontade, que entrou no palco antes de ser apresentado pelo curador Manuel da Costa Pinto e que foi aplaudido de pé antes de dar boa noite à plateia, fez a conferência de abertura da 9ª Festa Literária Internacional de Paraty nesta quarta-feira, dia 6 de julho. O crítico literário só aceitou o convite para falar sobre Oswald de Andrade, o autor homenageado desta edição da Flip, desde que pudesse falar como o amigo que foi do modernista. “Pretendo falar sobre algo que sé eu posso falar. Sou um sobrevivente e uma das poucas pessoas que foram amigas de Oswald”, comentou Candido, 30 anos mais moço que Oswald. Ao seu lado estava José Miguel Wisnik, seu ex-aluno, que se ocupou em apresentar o lado escritor de Oswald, e que ganhou um sorriso de aprovação do mestre ao final do encontro.

Eles se conheceram no início dos anos 40. Antonio Candido escreveu um artigo severo. Oswald se zangou, respondeu à altura e “ficou frio”. O crítico considerou que seria interessante repensar sua posição e voltou a ler a obra dele. Tempos depois, Oswald chegou até ele e disse: “Eu ataquei você com violência e você recebeu com serenidade. Proponho sermos amigos”, e deu permissão para que o novo amigo escrevesse o que fosse sobre ele. A amizade durou até a morte de Oswald, e esses nove anos foram suficientes para Candido ver nele uma pessoa generosa, afetuosa, excêntrica, educada, briguenta e reconciliadora. E ainda: “um anarquista literário, um stanilista integral, um socialista humanista e um boêmio, mas que sempre defendeu a ideia de igualdade”.

“A vida dele é tão rica e interessante que sua personalidade concentrou muito mais atenção que sua obra”, comentou. Outros fatores dificultaram o entendimento de sua ideias. O primeiro foi a mitologia que se criou ao redor dele e até hoje é possível que alguém, lá em Minas por exemplo, ainda ouça que um dia Oswald roubou uma aluna de uma escola, como um dia Candido ouviu. O outro é que naquela época havia poucas editoras e quase nenhuma distribuição, e os autores custeavam as edições de seus livros. Por isso, a percepção que as pessoas tinham da obra atrapalhou. “Falavam ser ler”, comentou. Para completar, Oswald era muito suscetível à crítica. “Mexeu com Oswald de Andrade vinha pancada, e aí ninguém escrevia mais. Ele despertava certo temor. Falo por experiência porque ele me malhou bastante. E quando ele malhava não tinha limites”, contou. Mas essa birra passava assim que ele lia algo interessante escrito pelo recente desafeto e eles se reconciliavam.

Oswald conseguiu se reconciliar com todos com quem um dia brigou. Menos com Mario de Andrade. “Foi uma coisa patética”, disse. Candido relembrou que foi Oswald quem lançou Mario, que era tímido. Os dois brigaram e Oswald passou a vida tentando fazer as pazes. “Mario, graças a sua natureza mais fechada, brigou e brigou. Oswald brigava e desbrigava, mas com Mario não deu certo”. Candido contou que o amigo ficou desesperado quando soube da morte de Mario. Os dois se admiravam profundamente, mas não conseguiram se entender. Pouco antes de morrer Oswald chamou Antonio Candido e pediu para ele registrar que considerava Mario o maior autor do modernismo brasileiro, que Macunaíma era o maior livro daquele período e uma obra que ele gostaria de ter escrito.

[A cobertura da FLIP pelo PublishNews tem o apoio exclusivo da Editora Saraiva.]

[07/07/2011 00:00:00]
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