Nobel de 2002 escreve sobre o Holocausto
PublishNews, 03/10/2003
A narrativa de Sem Destino (Planeta, 176 pp., R$ 38, traduzido do húngaro por Paulo Schiller) difere de tudo o que já se escreveu sobre o Holocausto. Nesta obra, o escritor Imre Kertész, prêmio Nobel de literatura de 2002, nos toma pela mão e nos faz acompanhar os dias de um menino de quinze anos, o momento de sua deportação e viagem ao inferno de Auschwitz e Buchenwald. Caminhamos lado a lado, passo a passo com esse menino, da inocência ao desespero. Seguimos seu olhar, partilhamos seus pensamentos à medida que ele se transforma num espectro exaurido, vazio esfomeado que se arrasta em sapatos enlameados em meio à multidão de prisioneiros torturados não só pelo corpo despedaçado, mas pelo tédio infinito ante um futuro inexistente. O estilo de Kertész no início do livro é áspero e despojado. Ao mergulhar nos horrores dos campos a escrita passa a ser temperada por uma ironia amarga e momentos de puro lirismo ganhando assim os matizes da melhor literatura. No final surpreendente, anuncia-se para o sobrevivente a segunda morte, o cumprimento implacável da sentença, o risco de Auschwitz ser objeto de dúvida ou cair no esquecimento.
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