Quando Stephen Hawking escreveu O universo numa casca de noz, ele mostrou aos leitores o microcosmo quântico e o macrocosmo universal, além das várias e extraordinárias leis que regem o cosmos e são debatidas hoje. Ele só esqueceu de mencionar no livro o universo editorial, que pode juntar, num mesmo tempo e espaço, globais, famosos e os profissionais do mercado de livros.
Vou aqui conceder um perdão público ao Hawking porque ele não conversou comigo antes de escrever o livro, publicado primeiramente em 2001 pela Siciliano. Ele também não teria como imaginar a proporção que tomaria o mercado editorial brasileiro, que em 2016 produziu 427,2 milhões de exemplares, vendeu 385,1 milhões e faturou R$ 5,27 bilhões.
Mais importante que os números são as pessoas. Puta clichê, né? Sim, é mesmo, mas é verdade. Há quem diga que o mercado de livros se profissionalizou de uns anos pra cá. Há quem diga que ficou muito amador. E no meio desse debate, sobre o macrocosmo da profissionalização e dos números, há um microcosmo que une os profissionais do mercado. A explicação pra isso não é quântica, nem imaginária. É real.
No último dia 27 de novembro, no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, aconteceu a noite de lançamento da biografia do Jô Soares. O palco do teatro foi pequeno pro Jô que, com seus 79 anos e já meio arqueado pelo tempo e pelo desgaste da vida, dominou o espaço com uma simplicidade absurda. Ele dividiu o palco com Matinas Suzuki, mas o sentimento que ficou é que estávamos todos com ele no palco, como quando lemos um livro e nos identificamos com algum personagem.
Nessa casca de noz que vivemos, o livro é um universo de possibilidades, é um meio de juntar as pessoas mais inusitadas: atores e atrizes, editores e livreiros, divulgadores e comerciais, clubes de assinatura de livros e associados, protagonistas e coadjuvantes. Ah, mas as pessoas estavam ali pra ver o Jô! Pode ser, mas a diversidade de profissionais presentes era pelo livro.
Hawking, Jô Soares, você e eu somos todos protagonistas desse universo que se forma ao redor do livro. Os círculos continuam se formando e o universo literário segue organizando suas redes sociais, virtuais ou não, e sugando as pessoas para dentro da nossa casca de noz.
Marcio Coelho começou sua carreira como revisor na antiga editora Siciliano, passou por muitas editoras como Saraiva, Nova Fronteira e Ediouro. Trabalhou na TAG – Experiências Literárias, prestou consultoria para clubes de assinaturas de livros, é professor de cursos voltados ao mercado editorial e gerente de projetos especiais do Grupo Editorial Pensamento. Além de viver de livros há mais de duas décadas, é apaixonado por eles.
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