Ecoedição é futuro – Livros ecológicos são tema de painel na FILBo
PublishNews, Mariana Vilela*, 22/04/2024
Impacto ambiental dos livros é abordado durante as Jornadas Profissionais da Feira Internacional do Livro de Bogotá

Os impactos ambientais da indústria editorial e alternativas de mitigação para o futuro foram alguns dos temas abordados durante as Jornadas Profissionais de toda a cadeia do livro, realizadas no dia 19 de abril (sexta), com José Diego Gonzalez, gerente de Produção e Circulação do livro da CERLALC; e Jimena Crux Mantilla, diretora de Recursos Humanos da Penguin Random House.

Ambos apontaram que apesar dos impactos positivos culturais que a cadeia do livro oferece à sociedade, a indústria editorial também impacta o meio ambiente com produção de CO2 e muitas vezes não é consciente sobre ela. “Deveríamos começar a tratar de fazer este caminho antes que venha uma obrigação, pois a indústria cultural não está fora da colaboração com o meio ambiente”, disse José Diego Gonzalez durante a jornada da FILBo, que neste ano tem como tema “Leer la Naturaleza” – Leia a natureza.

Segundo estudo da Revista ESC Magazine no ano de 2023, atualmente, a indústria dos livros impressos consome 16 milhões de toneladas de papel por ano, o que significa que dois milhões de livros são produzidos, o equivalente a mais ou menos 32 milhões de árvores que são cortadas. Cada livro gera 8,85 libras de dióxido de carbono (CO2), colocando a sua impressão numa das mais poluentes da indústria editorial. As fábricas que o produzem emitem também óxido de nitrogênio e monóxido de carbono, gases que contribuem para o aquecimento global.

Outro ponto também é o alto consumo de água. Para produzir uma tonelada de papel, se necessita de 27 mil litros de água. “Quando falamos do impacto de carbono, falamos de uma estimativa dos gases de efeito estufa que se produzem na fabricação do livro. No que se refere à água, também há um grande impacto da água doce que se utiliza na fabricação do produto e também a água doce que se contamina”, afirmou José Diego.

Os palestrantes abordaram também o caráter prático para que a cadeia do livro possa tomar atitudes mais inteligentes e se comprometer com esta transição e mudanças:

Segundo o palestrante, cerca de 50% de óxido de carbono produzido se refere a utilização de matérias-primas, 17% pela distribuição e 17% pela produção do processo de impressão. O restante se refere a questão das embalagens, porque a maioria ainda utiliza plástico. “É preciso fazer uma mudança na mentalidade tanto das editoras, das livrarias e dos consumidores para a não utilização de plástico nas embalagens”, José Diego.

No que se refere à escolha das matérias-primas, a cadeia do livro está começando a tratar a questão das certificações, como explicou Jimena Mantilla. “Este ano fizemos um acordo com FSC, uma organização governamental, que procura matérias-primas que certificam que são sustentáveis, que nos permitem provedores que tenham nossas certificações, e principalmente de bosques ou florestas que são responsáveis com o meio ambiente”.

Segundo ela, o objetivo Penguin Random House é reduzir a emissão de gases em 50% em comparação com 2018 até o ano de 2030 com diversas medidas com mudanças de prática de toda a cadeia.

“Quando pensamos responsavelmente em todo o impacto ambiental, temos que pensar em todos os recursos do papel que vamos utilizar como origem, a produção que ele enfrenta, a chegada aos meios editoriais, como se chega a este livro, e que destino ele toma a fim chegar a uma economia circular”, contou. Eles também apontaram que tanto as editoras maiores quanto as menores podem fazer este caminho, inclusive as editoras menores podem ter mais facilidade para a escolha e monitoração dos fornecedores e de todo o processo até chegar no consumidor.

Distribuição: Neste processo, também é necessário pensar nos materiais de comunicação, com etiquetas e bolsas ecológicas, apresentando ao consumidor os recursos utilizados.

“Pensamos com esta ideia que também devemos contar com a colaboração dos autores, durante o deslocamento nas feiras e ambientes de distribuição e apresentação para que todo o meio editorial trate de adotar práticas sustentáveis em todas as etapas da cadeia”, afirmou Jimena.

Impacto ambiental dos livros digitais

As versões dos livros digitais são uma alternativa para a redução dos impactos ambientais na produção do livro impresso, mas os palestrantes alertaram também sobre os impactos que são menos visíveis. “Há um projeto que permite entender o impacto da internet no efeito estufa, mostrando que ela é responsável pela emissão de 2% de gases e se pensarmos na infraestrutura do google, ou seja, tudo o que está por trás da internet, esta taxa se torna muito alta”.

As baterias, os celulares e todos os dispositivos, que tem um grande impacto ambiental na mineração, é altíssimo tanto ambientalmente quanto socialmente, dependendo da condição que são explorados.

“Mas o grande responsável pela utilização do carbono dentro do mercado editorial, é sem dúvidas, a matéria-prima que se utiliza e a versão digital pode ser muito menos agressiva para o meio ambiente. E muitas vezes é muito difícil certificar todas as origens da cadeia. Mas o que queremos dizer é que as editoras podem sair na frente ao tomar esta decisão de fazer as ecoedições”, destacou José Diego.

As jornadas profissionais estão acontecendo durante a FILBo e tratam de diversos temas para melhores práticas do meio editorial, tendo como tema principal. O PublishNews está com cobertura exclusiva durante o evento que vai até o dia 2 de maio, e divulgará outras novidades e tendências para o meio editorial.


* É jornalista e escritora, escreve também em www.jornalistahumanista.com.br e é autora do romance Compulsão de Clarisse, editado pela Penalux.

[22/04/2024 11:00:00]