Retrospectiva 2023: ano é marcado por mudanças nas grandes redes de livrarias no Brasil
PublishNews, Beatriz Sardinha, 22/12/2023
Relembre os principais fatos do mercado editorial nacional e internacional; transformação do varejo de livros, no negócio do audiolivro e a parceria do PN com o Great Place To Work, entre muitos outros

Leitura Shopping Tijuca | © Divulgação
Leitura Shopping Tijuca | © Divulgação

O ano de 2023 foi marcado por um jogo de mudanças na dinâmica das grandes livrarias. Um dos principais acontecimentos do ano foi a decretação de falência da Saraiva, ocorrida em setembro deste ano após a dispensa de todos os seus colaboradores e a renúncia de conselheiros – encerrando o ciclo da sua grande crise que se iniciou em 2018 e abalou as estruturas do negócio no Brasil. Outro endereço que teve um ano turbulento foi a Livraria Cultura, que ficou num 'tira o casaco, bota o casaco', como resumiu a colunista do PN, Tatiany Leite. Entre retiradas de estoque por parte das editoras, uma ordem de despejo e liminares, a loja termina 2023 com as portas abertas, aguardando julgamento no STJ.

Em contrapartida, a Livraria Leitura terminou 2023 com 110 lojas físicas e se consolida como a maior rede de livrarias físicas atualmente no Brasil. Em conversa com o PublishNews, Marcus Teles, dono da rede, disse acreditar que a rede fecharia o ano com crescimento crescimento superior a 20%. A varejista abriu oito novas lojas em 2023 e pretende abrir mais dez unidades no ano que vem.

Uma das gigantes do varejo – as Lojas Americanas – iniciou o ano cercada de polêmicas. Fontes do mercado editorial ouvidas pelo PublishNews na época avaliaram que o impacto nos negócios seria consideravelmente menor do que o que ocorreu com as crises de Saraiva e Cultura, mas existia, sim, preocupação.

Por outro lado, o movimento de abertura das livrarias de rua - que vimos bastante em 2022 - continuou este ano. Em maio, por exemplo, o Podcast do PublishNews conversou com os donos das livrarias Jenipapo, Casa Nynho e Sebinho da Helô. Em junho, foi a vez das livrarias Aigo, Candeeiro e Travessia participarem da conversa e falar sobre as novas lojas independentes abertas no Bom Retiro (SP), Campinas (SP) e Belém (PA), respectivamente.

O fato é que a grande novidade da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – divulgada em maio por SNEL e Nielsen – foi que as chamadas livrarias exclusivamente virtuais passaram a ser o principal canal de vendas de livros no país. Um relatório da Nielsen apontou que essa mudança foi sim catalisada pelo período da pandemia, mas já havia se iniciado antes, com a crise das grandes redes de livrarias a partir de 2018. A autora americana Colleen Hoover foi a mais vendida no ano na Amazon.

O preço do livro

Falando em pesquisas, a CBL divulgou em dezembro o inédito Panorama do Consumo de Livros. O estudo mostra, segundo análises, que o grande desafio do mercado editorial atualmente é a percepção do preço do livro.

Durante o ano, esse foi o assunto de diversas matérias e até painéis promovidos pelo PublishNews e por outros veículos de comunicação – como quando Felipe Neto levantou uma polêmica ao dizer que os livros estavam muito caros.

Lançamento do ranking inédito PublishNews e Great Place To Work

O PublishNews e o Great Place To Work – consultoria global de gestão de pessoas – anunciaram em 2023 uma parceria inédita na criação do ranking As Melhores Empresas Para Trabalhar – Mercado Editorial 2024. Algumas empresas do setor editorial já certificadas pelo Great Place To Work são o Grupo Editorial Record, Skeelo, Todolivro, Mol Impacto e Editora do Brasil.

As empresas têm até 29 de fevereiro de 2024 para se inscreverem. O ranking é o primeiro mapeamento do tipo em empresas da área editorial no país e vai destacar as melhores empresas, avaliadas pelos próprios colaboradores das organizações.

O ranking foi tema de um episódio do Podcast do PublishNews #285, que reproduziu o painel do Rio International Publishers Summit que discutiu práticas de gestão de empresas e quais as melhores empresas para trabalhar no mercado editorial.

Transformações no negócio do audiolivro

A Audible iniciou em outubro sua operação no Brasil ofertando um catálogo de 5 mil títulos em português pelo preço de R$ 19,90 mensais. As principais editoras do país estão presentes na plataforma: Intrínseca, Record, HarperCollins, Companhia das Letras, Sextante, Planeta, Globo, Rocco, Buzz, entre outras. Quase na mesma semana, o Spotify anunciou globalmente sua oferta premium de audiolivros, outra grande novidade no assunto no mercado global.

O audiolivro foi assunto no Podcast do PublishNews #293, num bate-papo com Adriana Alcântara, country manager da empresa no Brasil desde maio de 2022. O PublishNews também conversou com editores e especialistas para falar das expectativas sobre a chegada da empresa no país. Em setembro, no Publishing Perspectives Forum da Feira de Frankfurt, Porter Anderson concedeu uma entrevista ao PN dizendo que é necessário "dar algum tempo" para que a base de consumidores do Brasil, ávida por podcasts, comece a adentrar o território dos audiolivros.

Audiolivros: será que agora vai? | © Freepik
Audiolivros: será que agora vai? | © Freepik
Em dezembro, a subsidiária da Amazon divulgou uma lista com os dez livros mais ouvidos na plataforma, sendo o mais lido a biografia A mulher em mim (Buzz), da cantora Britney Spears e com narração de Fabiana Ribeiro.

Este ano, o PublishNews visitou uma produtora e plataforma de audiolivros, a Tocalivros, para entender e mostrar como é feito um audiolivro.

Na política

No âmbito federal, o ano foi de reestruturação política do Ministério da Cultura. Logo no início de janeiro, o governo criou a Secretaria de Formação, Livro e Leitura, sob a liderança de Fabiano Piúba. Mais para o fim do ano, o secretário adiantou com exclusividade ao PublishNews duas novidades: a de que a Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE) será regulamentada em breve pelo governo federal; e que as bibliotecas dos sistemas municipais e estaduais passarão a contar com livros do PNLD Literário. Ainda em janeiro, o novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, concedeu entrevista ao PublishNews.

Outra conquista do ano para o setor foi a manutenção da imunidade tributária do livro na reforma aprovada agora pelo Congresso – trabalho das entidades, que visitaram Brasília em diversas ocasiões para conversar com parlamentares e membros do governo.

Em maio, o projeto de lei 49/2015 – a chamada Lei Cortez – foi desarquivado no Senado Federal, após um requerimento da senadora Teresa Leitão (PT-PE) ser aprovado no Plenário.

Em outubro, o Rio de Janeiro foi escolhido como a Capital Mundial do Livro em 2025 pela Unesco. No mesmo mês, Ailton Krenak se tornou o primeiro autor indígena a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras em sua história.

Ano de reestruturação na Penguin Random House

© Cortesia PRH
© Cortesia PRH

Em dezembro de 2022, Markus Dohle abandonou o cargo de executivo-chefe da PRH algumas semanas após supervisionar a tentativa de compra da Simon & Schuster, em uma operação de mais de US$ 2 bilhões, bloqueada pelo Departamento de Justiça dos EUA. Depois disso, o grupo teve 2023 como um ano de reestruturações.

No mês de julho, a PRH demitiu cerca de 60 funcionários e se recusou a fornecer detalhes sobre o número de pessoas afetadas. No final do ano, o novo CEO da Penguin Random House Nihar Malaviya agradeceu o empenho da empresa e afirmou que a PRH vendeu mais livros em 2023 do que em 2022.

A Simon & Schuster anunciou, em dezembro, novos membros em seu conselho. Entre eles estava justamente Madeline McIntosh, ex-CEO da PRH nos EUA. Há quatro meses, a S&S foi vendida para empresa de investimentos KKR por US$ 1,62 bilhão.

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Veja as outras retrospectivas de 2023 no PublishNews:

[22/12/2023 10:40:00]