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Fuga da realidade
PublishNews, Redação, 13/11/2025
Naomi Oreskes e Erik M. Conway mostram de que maneira um círculo de “especialistas” manipulou a opinião pública e a imprensa, distorcendo fatos científicos a fim de impedir ações regulatórias governamentais

E se a dúvida deixasse de ser uma atitude científica sensata para se transformar em técnica deliberada de desinformação? Por que, afinal, assuntos como o tabagismo, a chuva ácida, o uso do pesticida DDT ou as mudanças climáticas foram apresentados como temas “polêmicos” no debate público, e não como consensos científicos estabelecidos? Em Mercadores da dúvida (Quina, 512 pp, R$ 89,90, traduzido por Fernando Santos), Naomi Oreskes e Erik M. Conway mostram de que maneira um círculo de “especialistas”, dispersos em think tanks conservadores, manipulou a opinião pública e a imprensa, distorcendo fatos científicos a fim de impedir ações regulatórias governamentais. Descobrimos que os mesmos que afirmaram que a ciência do aquecimento global “não estava resolvida” também contestaram a associação entre o cigarro e o câncer de pulmão, e a relação entre o uso de CFCs e o aumento do buraco na camada de ozônio. Como bem resumiu um executivo da indústria do cigarro: “nosso produto é a dúvida”. Os autores demonstram como essa fabricação planejada e sistemática da dúvida, reiterada ao longo de quatro décadas, enfraqueceu a confiança na ciência e comprometeu a capacidade das instituições democráticas de lidar com seus riscos sociais e ambientais. Ao reconstruir os bastidores de uma guerra cultural que transformou a ciência em campo de batalha ideológico, Mercadores da dúvida evidencia os interesses políticos do negacionismo e a dimensão de seus impactos. Escrito com clareza, ousadia e sólida pesquisa, o livro é essencial para a compreensão das relações contemporâneas entre ciência, economia e política.

[13/11/2025 08:52:08]
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