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Livro premiado de Maria Valéria Rezende inspira peça de teatro homônima
PublishNews, redação, 03/09/2025
Premiada com Jabutis, Oceanos e Casa de las Américas e atualmente concorrendo ao Troféu Juca Pato​, autora santista estreou na literatura beirando os 60 anos

Elenco da peça homônima a livro de Maria Valéria Rezende © Daisy Serena
Elenco da peça homônima a livro de Maria Valéria Rezende © Daisy Serena
Pensado para discutir a opressão feminina vivida desde os tempos do Brasil Colônia, o espetáculo Carta à Rainha Louca, do Núcleo Toada, nasceu a partir do livro homônimo de Maria Valéria Rezende, publicado em 2019 e contemplado com o Prêmio Oceanos 2020. Escritora reconhecida, Maria Valéria escreve sobre memória, feminismo e se debruça sobre o Brasil profundo, inscrevendo o povo de nosso país no centro da literatura. A peça estará em cartaz entre os dias 12 de setembro e 12 de outubro, no Sesc Bom Retiro (Alameda Nothmann, 185 - São Paulo / SP), com sessões às sextas e aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h. Na sexta, dia 10 de outubro, está programada uma apresentação extra, às 15h. Ingressos a R$ 60 (inteira), com meia entrada a R$ 30 e quem tiver a credencial plena paga R$ 18.

Autora premiada com Jabutis, Oceanos e Casa de las Américas e atualmente concorrendo, pelo segundo ano consecutivo, ao Troféu Juca Pato, Maria Valéria Rezende estreou na literatura beirando os 60 anos para tornar-se uma das vozes mais potentes do país. A sua obra está publicada em mais de oito países e inspirou esta montagem. Com idealização de Lilian de Lima e Núcleo Toada, dramaturgia de Bárbara Esmenia e direção de Patricia Gifford, o espetáculo utiliza o poder de um coro de 17 vozes para ampliar as questões apresentadas no livro. A música, então, ganha um papel de destaque e é Fernanda Maia quem assina a direção musical, as composições e os arranjos.

Em cena, além de Maia, estão Carla Vitor, Cida Portela, Eli Weinfurter, Joice Jane Teixeira, Legina Leandro, Márcia Fernandes, Marta Mendes, Priscila Ortelã, Rebeka Teixeira, Rommaní Carvalho, Simone Julian, Uriã de Barros, Wilma Elena, Giullia Assmann e Mayara Alencar.

“Esse coral poderoso, com uma equipe artística grande ao redor - é composto por pessoas com diferentes idades, com variadas experiências em teatro, vindas de diferentes territórios, numa diversidade étnico-racial e de gênero - enfrentando a beleza do desafio de formar um coro. Quisemos evocar a coletividade, trazendo o sentido de uma rede, de uma aliança, de uma força, de um certo sentido de comunitarismo, porque é uma história de opressão”, conta a diretora.

A história

No fim do século XVIII, em Minas Gerais, Isabel das Santas Virgens fundou uma comunidade com o objetivo de acolher mulheres pobres, sem família, sem renda e sem destino conhecidas como “sobrantes”, população constantemente vítima de violência. No entanto, o ato incomodou os poderosos e ela foi presa no convento do Recolhimento da Conceição, localizado em Olinda (PE), sob a falsa acusação de tentar criar um convento feminino clandestino.

Encarcerada por cerca de três anos, ela acreditava que sua libertação viria através do poder das palavras. Por isso, escreveu uma carta à Maria I, conhecida como Rainha Louca de Portugal, relatando sua história e os abusos praticados pelos homens da Coroa contra a população vulnerável. “Somente uma outra mulher seria capaz de entender suas dores. E, sendo a Rainha uma mulher com autoridade e poder, Isabel acreditava que ela poderia tirá-la da prisão”, comenta Lilian de Lima.

Maria Valéria, que durante muitos anos exerceu a atividade de freira missionária, na ocasião em que pesquisava os arquivos históricos ultramarinos em Lisboa, em 1982, encontrou uma carta real, uma carta verdadeira, endereçada à coroa portuguesa, que apresentava a defesa de uma mulher alegando ter sido presa injustamente por insubmissão à Igreja. A ideia do romance nasceu a partir desse fato. “Maria Valéria queria preencher as lacunas deixadas pelo tempo sobre a vida dessa mulher tão subversiva”, completa a idealizadora da peça.

Utilizando um vocabulário tradicional dos anos 1700, sem abrir mão no entanto de ter sua escrita compreendida nos dias de hoje, a escritora recria essa história, colocando em foco as mulheres consideradas loucas pela sociedade.

Para Patrícia Gifford, a peça do Núcleo Toada poderia ser facilmente um monólogo - já que, no livro, existe apenas uma narradora contando a sua vida - mas, como o grupo mantém uma relação forte com a música, a ideia de ocupar o palco com um coro potente logo começou a tomar forma. Assim, a peça consegue dar protagonismo às mulheres pobres, enclausuradas em conventos, às mulheres escravizadas, às meninas de famílias ricas usadas como moeda de troca em casamentos arranjados e tantas que foram apagadas da história.

E, por ter um elenco numeroso em cena, Carta à Rainha Louca explora a ocupação do palco para criar as impactantes imagens que ambientam a trama. O figurino e cenário de Thaís Dias e Carol Gracindo, juntamente com os adereços, tem a capacidade de se expandir, transformando-se em múltiplos elementos de cena.

Em relação à sonoridade, além das próprias vozes como instrumentos, estão presentes em cena um contrabaixo, violoncelo, piano elétrico, sanfona, violino, rabeca, diversos instrumentos de sopro e percussão. “Fernanda se preocupou em remeter tanto aos estilos musicais comuns do século XVIII quanto aos ritmos mais contemporâneos e de domínio público, como em uma cena em que um coro de lavadeiras entoa uma cantiga de roda antiga, cantada até os dias de hoje”, comenta Lilian.

Bate-papo em outubro

A temporada no Sesc Bom Retiro também inclui o encontro 'Do Romance ao Palco - Bate-papo sobre o livro Carta à Rainha Louca'. Maria Valéria Rezende, Lilian de Lima e Patrícia Gifford conversam sobre as motivações da escritora para criar a obra e sobre o processo de adaptação do texto para o teatro. O evento será realizado um pouco mais para frente: no sábado, dia 4 de outubro, a partir das 16h, com entrada gratuita.

[04/09/2025 10:00:00]
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