A poesia da autora escapa à ideia grega de poema e se aproxima dos ritos indígenas, o que provoca no leitor o acesso a camadas de novos sentidos
A poesia de Cecilia Vicuña escapa à ideia grega de poema e se aproxima dos ritos indígenas, o que provoca no leitor o acesso a camadas de novos sentidos, geralmente encobertos pelos significados históricos – colonialistas, elitistas e masculinizados – que pesam sobre as palavras. Nesta antologia, organizada, selecionada e traduzida por Dirce Waltrick do Amarante, com idas a Nova Iorque para conversas com a autora, percebe-se justamente esta potência. Ao reunir os poemas de vários livros a partir de assuntos ou temas –
Tessituras,
Diário estúpido,
Canto da Água,
Poemas-atos e
Sentidos – Dirce Waltrick do Amarante apresenta em
a palavra e o fio (Iluminuras, 144 pp, R$ 69 – Trad.:
Dirce Waltrick do Amarante) um recorte rigoroso da obra ceciliana. O algo mais desta poesia insinua-se nestes temas que antes de serem sujeitos de uma linearidade, de uma totalidade pretensamente encerrada em uma obra, em suas linhas de fuga nos propõe pensar e sentir o planeta e a ancestralidade, trazendo os indícios de uma ecopoesia e de uma etnopoesia – conceitos caros à Cecilia Vicuña, uma das poetas e artistas fundamentais do mundo contemporâneo.