A obra de Jeferson Tenório teve recentemente o recolhimento de exemplares em escolas do Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul, sob alegação das secretarias de Educação desses estados que a obra apresenta linguagem imprópria e conteúdo sexual para menores de 18 anos. Em sua conta nas redes sociais, o autor compartilhou sua opinião sobre o ocorrido: “As distorções e fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes de ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos”.
O livro – Prêmio Jabuti de Melhor Romance em 2021 - conta a história de Pedro, que, após a morte do pai, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.
Airton Souza, escritor de Marabá/PA, foi o vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2023 com o romance “Outono de carne estranha”, que retrata a situação da Serra Pelada nos anos 1980, partindo de uma relação homossexual entre dois garimpeiros. Nesta vigésima edição do Prêmio, voltado para autores inéditos em Conto e Romance, os autores participaram de uma cerimônia no Centro Cultural Sesc Paraty, durante a Flip.
Na ocasião, como é de praxe, foi pedido que os autores lessem um pequeno trecho do livro. A direção do Sesc Nacional, que não sabia do que se tratavam os livros, ficou incomodada com o conteúdo do livro. Posteriormente, tentaram encontrar alguma justificativa para retirar o prêmio de Airton; reduziram o circuito do autor; informaram aos Regionais que a obra desperta gatilhos psicológicos e quem fosse assistir o autor deveria assinar um documento, desestimulando a leitura e a circulação da obra; demitiram Henrique Rodrigues, idealizador do projeto e que mediava a mesa, por ter se recusado a censurar a leitura do autor; atrasaram o edital de 2024, incluindo uma cláusula segundo a qual a obra inscrita deveria ser “para todos os públicos”. Por fim, a editora Record encerrou a parceria de 20 anos com o Sesc.
