Marifé Boix García avalia que o tema da sustentabilidade terá protagonismo na Feira de Frankfurt 2023
PublishNews, Guilherme Sobota, 27/09/2023
Audiolivros e inteligência artificial também devem aparecer nas principais discussões; vice-presidente da Feira elogiou iniciativas brasileiras de internacionalização do livro

Marifé Boix-García participou da Sabatina PublishNews | © Reprodução/Youtube
Marifé Boix-García participou da Sabatina PublishNews | © Reprodução/Youtube
Em entrevista à Sabatina PublishNews nesta terça-feira (26), a vice-presidente da Feira do Livro de Frankfurt para América Latina e Sul da Europa, Marifé Boix García, elogiou as iniciativas brasileiras de internacionalização do livro, detalhou um pouco a programação voltada ao continente latinoamericano na Feira e destacou os temas de sustentabilidade, audiolivros e inteligência artificial para o setor editorial. A Feira do Livro de Frankfurt chega à sua 75ª edição neste ano, entre os dias 18 e 22 de outubro.

Marifé também reconheceu que a Feira passou a ter um posicionamento ainda mais político nos últimos anos, frente à Guerra da Ucrânia e à pandemia. “O trabalho tem sido muito grande, mas justamente para pontuar no tema político foi muito bom conseguir a presença do Salman Rushdie, como Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão; teremos também ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Maria Ressa, o Alto Comissário da ONU para direitos humanos e outros, e todos eles vão contribuir na programação política”, explicou.

Marifé foi entrevistada por Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL); Gustavo Tuna, gerente editorial da área de literatura da Global; e Simei Junior, PoD Manager da Bookwire Brasil. O programa foi apresentado por Talita Facchini, com produção e direção de Guilherme Sobota, da redação do PublishNews.

Sobre os assuntos do mercado editorial em si, Marifé também comentou as programações dedicadas a áudio e inteligência artificial – dois assuntos prementes nos últimos meses e que compõem uma parte importante da agenda da Feira – mas também chamou atenção para a sustentabilidade.

“O tema sustentabilidade e leitura acessível é algo muito importante este ano”, comentou. “Entre outras medidas, teremos 90% do lixo reciclado e uma série de discussões com elementos de acessibilidade durante a Feira. Em sustentabilidade, a IPA tem o Sustainability Summit, e vamos fazer ainda outro evento ligado ao tema climático”, disse Marifé.

Ela explicou que nas CONTECs – conferências ligadas à Feira de Frankfurt que organiza na América Latina – deste ano, em Buenos Aires e no México, o tema da sustentabilidade foi bastante presente. “O interesse foi grande, as discussões eram conjugadas com as outras. Provavelmente não é só um tema que tem a ver com o clima, mas também, por exemplo, com a sobreprodução de livros que é precisa descartar, custa dinheiro e energia. Falamos muito também sobre alternativas, como o Print-on-demand, que também são mais ecológicas. Há sim uma percepção de que precisamos fazer alguma coisa. Aqui na Europa, as pessoas estão vendo muitas mudanças no tema climático. É final de setembro e faz um calor incrível em Frankfurt, e quando chove, chove que é uma loucura, todo mundo percebe que alguma coisa não está normal. Temos que sensibilizar quem trabalha no setor editorial para essa discussão”.

Sustentabilidade será um dos temas em Frankfurt este ano | © Frankfurter Buchmesse/Anett Weirauch
Sustentabilidade será um dos temas em Frankfurt este ano | © Frankfurter Buchmesse/Anett Weirauch

O Brasil em Frankfurt

O fato do Brasil ser o maior mercado editorial da América Latina coloca o país em posição de destaque frente aos seus vizinhos na Feira, ocupando o maior estande da região. Fazem parte da “missão oficial” do Brazilian Publishers – projeto da Câmara Brasileira do Livro com a ApexBrasil – 24 editoras. Outras dez serão levadas pela CreativeSP, iniciativa do governo de São Paulo. Além das empresas que vão por conta própria.

“O Brasil é comparável com todo o restante da América Latina”, disse Marifé na entrevista. “É muito importante. É muito bom o trabalho que foi feito durante muitos anos com o Brazilian Publishers, é ótimo que continue existindo mesmo com a crise política e cultural que todos vocês vivenciaram nos últimos anos. É um projeto incrível que ajuda muito a preparar as editoras para feiras internacionais. Agradeço sobretudo a participação na Feira nessa última etapa política tão complicada, sem Ministério da Cultura (nos últimos anos). Tem essa parte no Brasil que nos outros países não existe. O México praticamente não apoia nada (em questão de internacionalização do livro). Argentina também está numa situação complicada”, relatou.

Alguns eventos na programação de Frankfurt discutem diretamente a região – Marifé mencionou um painel que vai abordar os dez anos da participação brasileira em Frankfurt como convidado de honra, em 2013. Outro vai discutir os 50 anos do golpe militar no Chile e seus impactos na indústria editorial.

“Cada Feira tem um público específico, cada feira acontece no seu entorno”, disse ainda a vice-presidente, quando questionada sobre o que os eventos brasileiros podem aprender com a experiência de Frankfurt. “Tem que olhar para cada feira com seu público alvo. Por isso as bienais brasileiras têm tanto êxito, bem como a Flip”, disse.

“Acho que a Feira do Frankfurt vale muito a pena. Já ouvi pessoas falando que se aprende só de caminhar por um corredor. É importante para se colocar em um lugar em comparação com todos os outros. É um benchmarking. Como são as capas dos livros na China, na França? O profissional sai da Feira com ideias para aplicar no próprio mercado. Eles juntam a experiência da Feira com o conteúdo da própria empresa, transforma em alguma coisa que pode ser bom. É importante participar e ter noção da situação mundial. É importante também não lotar a agenda com reuniões e assim não ter chance de ver o resto” – disse Marifé, com a dica de ouro para os profissionais brasileiros rumo a Frankfurt.

Veja a entrevista completa:

[27/09/2023 08:40:00]