São Paulo ganha nesta quinta-feira (27) uma nova livraria de rua que deve conquistar os leitores, entrar no circuito literário da cidade e desde já construir um caminho bastante particular. A Aigo Livros (Rua Ribeiro de Lima, 453, loja 73, São Paulo / SP) abre com uma proposta em plena consonância com o bairro onde está localizada, o Bom Retiro. Sede não oficial de diversas comunidades de imigrantes – como a coreana, de onde provêm as três sócias do espaço –, o bairro agora recebe sua primeira livraria em décadas, com curadoria atenta aos aspectos locais.

"A gente se propôs a abrir uma livraria no Bom Retiro porque não tinha nenhuma, mas também não queríamos qualquer livraria… a gente queria abrir uma livraria voltada para as comunidades de imigrantes do bairro", explica Agatha Kim, uma das sócias, junto com Paulina Cho e Yara Hwang. "O bairro há mais de 140 anos recebe imigrantes. Primeiro vieram italianos, depois judeus, e minha família (coreana) veio nos anos 1970. Em muitos dos casos, as comunidades são subrepresentadas na literatura. Por exemplo, com a comunidade hispano-falante (boliviana, paraguaia e equatoriana), tivemos muita dificuldade de achar autores publicados. É difícil também trazer importados com preço acessível. Temos um olhar especial também para não ficção e infantil. Queremos manter esse olhar para países específicos e temáticas de migração e diásporas. Tivemos ajuda para fazer curadoria, e suando chegamos em 2 mil títulos. Não é muito. Temos sete títulos, apenas, sobre a Bolívia ou de autores bolivianos", comentou, em entrevista ao Podcast do PublishNews.

Localizada dentro de uma galeria – o Centro Comercial do Bom Retiro, inaugurado na década de 1960 com projeto do arquiteto polonês Lucjan Korngold –, a Aigo tem 60 metros quadrados divididos em dois andares, e sua especialidade são livros das diásporas leste-asiática, hispana falante, leste-europeia e árabe e outras migrações. São obras em português, mas também nas línguas originais.

"Muitos desses livros são fundo de catálogo", comenta Agatha, que não tinha experiência prévia no mercado editorial profissional, mas sim uma paixão pelo livro. "Sem mentir, tivemos dificuldades com algumas editoras. É um mercado que está passando por um estresse pós-traumático, e a gente que está chegando, sofre. Nós não viemos do mercado editorial. Somos três mulheres, parecemos mais jovens do que somos. A gente fez apresentações, estudou os números, desenhamos a viabilidade comercial, conversamos com especialistas, fizemos uma ronda de reuniões com editoras e livreiros, e mesmo assim tem editora que não nos recebeu. É uma realidade. Mas de forma geral, fomos bem recebidas, sim", compartilhou.

A Aigo está trabalhando com quatro distribuidoras e com 30 editoras de maneira direta.

Sobre a competição com o on-line – lembrando que as livrarias exclusivamente virtuais se tornaram o principal canal de vendas do setor editorial brasileiro em 2022 –, Agatha aposta no contato direto com os leitores.

"Dá muito para ver o papel de estar com as pessoas, o tempo todo fica entrando gente", disse Agatha, há uns dias, antes da abertura oficial da livraria. "A internet não é muito um lugar de descoberta (para os livros). A livraria consegue fazer isso. Como estamos pensando muito no público daqui, as pessoas vão se surpreender ao encontrar esses livros", comenta.

A Aigo é inaugurada nesta quinta-feira, 27 de julho de 2023, e funciona de segunda à sexta, de 10h a 18h, e aos sábados das 9h às 15h. O site é www.aigolivros.com.br.

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