Em seu livro de estreia, Dan se apropria de elementos da cultura pop e da cultura popular para construir um romance sobre um dos pilares da identidade brasileira
Quem conta esta história é um narrador não confiável. Como Brás Cubas, o burguês inútil que quer nos convencer do quanto sua vida foi importante e produtiva, ou José Costa, o
ghost writer oportunista de Chico Buarque em
Budapeste, Danylton apresenta razões de sobra para o leitor não acreditar em sua história. Mas, ao contrário dos dois primeiros, que em momento algum têm a intenção de pôr sua credibilidade em dúvida, Dany deixa logo claro que não merece confiança. Vivendo à custa da esposa Natália, que gastou todas as suas reservas para montar um café em que ele pudesse trabalhar, não faz questão de contribuir com o sucesso do negócio. E justo quando ela resolve deixá-lo, ele decide tomar um rumo na vida fazendo a única coisa para a qual tem algum talento: escrever. Numa trama metalinguística em que se misturam lembranças, pesquisas, reportagens e e-mails, em
Vale o que tá escrito (DBA, 224 pp, R$ 59,90) – assinado simplesmente por Dan – somos apresentados a Lilico, um homem que todos imaginam ter morrido, mas que Dany jura estar vivo. Acompanhando um emaranhado de relatos em que dados são omitidos, às vezes não sabemos em quais informações acreditar.