Com grande parte dos painéis lotados pelo público, o autor nacional foi o grande protagonista desta edição do evento. Tom Farias, Sérgio Abranches, Sérgio Rodrigues, Paulo Lins, Jeferson Tenório, Carla Madeira, Itamar Vieira Junior e Eliana Alves Cruz – a homenageada deste ano – foram só alguns dos nomes que inspiraram o público ao falar sobre temas atuais e pertinentes.
Ver a alegria do escritor Airton Souza – que tem mais de 40 livros e anos de carreira – ao ser chamado pela primeira vez para participar de um evento literário; saber que Itamar Vieira Junior vê Salvar o fogo como seu melhor trabalho e que ainda está em um “momento de indefinição” sobre seu próximo livro; que Eliana Alves Cruz teve o livro como companheiro nos momentos difíceis de sua vida; que Juliana Monteiro sofreu na pele com o machismo e o ódio das redes sociais por dizer o que pensa; e que Paulo Lins acha que faltou mais presença feminina em sua obra-prima Cidade de Deus, é o que faz diferença em acompanhar um festival de perto.
O ator Odilon Esteves, que participou de inúmeras mesas fazendo leituras dos livros dos autores presentes, também destaca a força e presença dos autores que dividiram com o público suas histórias. “Para a gente, que é um país de tradição lamentavelmente escravocrata, perceber que há essa potência de uma literatura de autoras e autores pretos florescendo no país é uma primavera. Isso me comove profundamente porque já tinha passado do tempo dessas estruturas mudarem”, disse ao PublishNews.
Para ele, o segredo dessa edição do festival foi o engajamento do público. “A comunidade tomou para si o evento. A exposição Muros Invisíveis – que acontece pelo segundo ano e esse ano focou nos professores negros –, fez com que a comunidade incorporasse, que tomasse o evento para ela”, completou.
“Eu achei que era uma coisa mais simples”, comentou uma senhora sentada ao meu lado em uma das mesas do evento. E, de fato, não foi. Com boa estrutura e diversas atrações para o público, poucos casos de atrasos na programação, e discussões relevantes, a 11ª edição do Fliaraxá terminou superando suas próprias expectativas, as dos autores e do público.
Eliana Alves Cruz
Com falas de Tom Farias, Jeferson Tenório, Paulo Lins, Cidinha da Silva e Itamar Vieira Junior, a homenagem encerrou o evento com importantes falas sobre resistência e força. “Eu queria agradecer, em especial, às mulheres negras que enfrentam o desafio de escrever. A gente tem muita coisa para vencer, mas já percorremos um longo caminho”.
Frases marcantes do 11º Fliaraxá:
“Eu sou fã de todas as artes, mas claro que eu tenho na literatura o meu berço” – Ministra Carmen Lucia
“Se há – e há – todos os preconceitos de uma sociedade patriarcal, machista, sexista, misógina, pode ter certeza de que para nós mulheres é muito cansativo todo dia – todo dia – eu ter que provar para um grupo de homens que eu não sou parecida humanamente com eles, eu sou a mesma humanidade de todos eles. Que a igualdade não tem a cor da pele, que a dignidade tem a essência da alma essa essência da alma de um povo só a democracia pode fazer e só a democracia na sociedade pode permitir construir” – Ministra Carmen Lucia
“O livro foi companhia em épocas muito difíceis da minha vida” – Eliana Alves Cruz
“O ódio não é exclusividade da extrema direita, o ódio circula entre nós" – Juliana Monteiro
“O racismo é subproduto do ódio, e como subproduto, deve ser tratado como algo menor” – Jeferson Tenório
“Pensar em literatura é pensar num espaço de liberdade” – Itamar Vieira Junior
“Minha forma de resistir é continuar defendendo o amor” – Juliana Monteiro
“Sem educação a gente não vai para lugar nenhum” – Carla Akotirene
“Eu fui me desenvolvendo graças ao resgate de uma militância antirracista” – Carla Akotirene
“Sou adepto do afropessimismo. Celebro as mudanças, mas desconfio do que a branquitude nos oferece, porque nós já levamos vários tombos” – Jeferson Tenório
“Cada leitor lê o seu livro. O livro não me pertence, pertence aos leitores” – Sérgio Abranches
"A poesia nunca para. Nunca para porque é humana" - Paulo Lins
*A jornalista viajou a convite do Fliaraxá