Publicidade
A Feira do Livro supera expectativas de público e tem boa repercussão entre editoras
PublishNews, Guilherme Sobota, 11/06/2023
Editores consultados pelo PublishNews relataram crescimento substantivo de vendas em relação ao ano passado

A Feira do Livro 2023 recebeu 35 mil pessoas | © Gabriel Guarany
A Feira do Livro 2023 recebeu 35 mil pessoas | © Gabriel Guarany
A Feira do Livro 2023 terminou neste domingo (11) excedendo suas próprias expectativas de público: segundo a produção, mais de 35 mil pessoas visitaram os cerca de 150 estandes montados em frente à fachada do Estádio do Pacaembu, na Praça Charles Miller, em São Paulo, nos últimos cinco dias. Organizada pela Associação Quatro Cinco Um e pela Maré Produções, a Feira busca se consolidar no calendário cultural da cidade e na agenda de grandes eventos literários do país.

A avaliação dos editores ouvidos pelo PublishNews é positiva. Uma dúvida que apareceu durante a apuração e as conversas nas Feiras dizia respeito à distribuição dos lugares no esquema circular da arquitetura da Feira, já que há um círculo mais próximo ao centro da Praça, onde há maior circulação de pessoas. Segundo a produção, a ordem foi definida de acordo com as manifestações de interesse por parte das editoras e livrarias.

"O critério foi a ordem das inscrições, achamos importante dar a prerrogativa de escolha dos lugares como forma de retribuir quem apostou primeiro na Feira”, disse Paulo Werneck, fundador do evento, ao PublishNews.

Uma das editoras com estande mais próximo ao Palco da Praça foi a Editora Nós. “Ano passado a Nós foi a primeira editora a reservar espaço”, diz a editora Simone Paulino. “Já acreditávamos mesmo sem ver. Mas este ano superou nossas melhores expectativas. Vendemos bem, mas sobretudo, recebemos a visita de autores, leitores, jornalistas, profissionais do livro. A impressão é de que a Feira mobilizou gente de toda a cadeia. Então só podemos desejar vida longa”.

Quem também excedeu as expectativas de vendas foi o Grupo Editorial Record, cuja meta prevista para o primeiro dia foi praticamente dobrada. “A Feira do Livro foi fantástica este ano para o Grupo”, diz o diretor editorial Cassiano Elek Machado. “Ver a Feira amadurecendo, crescendo e respeitando seus valores, de ser um espaço público aberto, acessível a todos, com variedade e valorizando editoras e autores. Um evento que vem ocupar um vácuo importante. Para a editora, tivemos a felicidade de ter autores importantes na programação em horários nobres, como a Ana Maria Gonçalves e o Luiz Antonio Simas. Do ponto de vista de vendas, dobramos as vendas em relação ao ano passado, e tivemos resultados expressivos com as linhas mais literárias”.

O diretor comercial da Todavia, Marcelo Levy, apontou que houve um crescimento de 50% nas vendas da editora em relação ao ano passado. “Legal saber como leitores acompanham de perto o trabalho da editora e de nossos autores, e como, já no nosso sexto ano de vida, identificam nosso perfil editorial bem definido. Animador também ver a praça cheia de gente disposta a descobertas e ao debate”, disse ao PN.

Aspecto notadamente diferente de 2022 foram a dedicação e investimento que as editoras colocaram nos próprios estandes, este ano com decorações mais bem apuradas e formatos criativos.

“A Feira do Livro 2023 foi excelente!”, comenta o publisher da DBA Editora, Alexandre Dorea Ribeiro. “Melhorou e corrigiu certas questões da edição de 2022. Certamente, é um evento que entra para o calendário cultural da cidade de São Paulo, incentivando a leitura e o livro. Este ano a DBA investiu no projeto e decoração da tenda e, com isso, tivemos um retorno melhor também”, atesta.

Vitor Tavares, diretor da Livraria Loyola, avaliou como "um evento literário super interessante, para nós como primeira vez foi um experiência bem positiva, com certeza retornaremos maior no no que vem". Para a diretora da Livraria Megafauna, Irene de Hollanda, "a Feira teve impacto super positivo na cidade, com boa programação e grande adesão do público. Entre expositores e frequentadores em geral, já há uma convicção de que o evento veio para ficar".

O sócio editor da Instante, Silvio Testa, também elogiou o evento. “Para a Instante é muito prazeroso fazer parte desta festa que é A Feira do Livro, um evento democrático e gratuito em que os leitores descobrem autores, editoras e acompanham conversas e ocupam um espaço símbolo de São Paulo, que é a Praça Charles Müller. Já estamos ansiosos para a edição de 2024”, afirma.

Em entrevista ao PublishNews, o arquiteto Álvaro Razuk, da Maré Produções e responsável pela arquitetura do evento, explicou, sobre a montagem geral do evento: “A questão que se colocou primordialmente foi a de se montar a feira do livro em área pública. Aí é que se coloca a ideia do projeto, onde a sua implantação compreende as qualidades da Praça Charles Miller. Trata-se aqui de um local abrigado configurado pela fachada do estádio e pelos dois taludes laterais. Aqui se forma o que chamamos de um recinto arquitetônico. Uma de suas qualidades é a de que o visitante consegue de maneira imediata perceber as dimensões do local em sua totalidade e, por esta razão, se sentir abrigado. O Projeto procura ter em seu desenho este entendimento”.

Programação teve autores estrangeiros e brasileiros

Neste domingo (11), o escritor argentino Pablo Katchadjian falou sobre A liberdade total, novo romance lançado pela DBA, em conversa com o escritor Joca Reiners Terron. O brasileiro ressaltou as qualidades de vanguarda da literatura do colega argentino, cuja exploração da forma literária passa pelo questionamento contínuo do narrador. “Quem narra?”, se questionou Katchadjian na mesa. “Converso com um amigo que diz que existe uma espécie de sindicato dos narradores, que quando um narrador deixa de narrar um livro, se movimenta para outro, e por aí vai (risos). Mas é uma questão ética também: que tipo de voz o leitor está disposto a escutar, a tolerar? Por isso também que não há narrador no livro”. A editora promove outro evento de lançamento do livro nesta segunda-feira (12), na Livraria da Travessa da Rua dos Pinheiros, em São Paulo, às 19h.

Já na noite de sábado (10), Ana Maria Gonçalves e Itamar Vieira Junior falaram para uma multidão no Palco da Praça, na mesa intitulada “De Um defeito de cor a Salvar o fogo”. Itamar começou a mesa reafirmando a importância do trabalho da colega de debate. “Um defeito de cor é o romance brasileiro mais importante do século 21”, disse o autor de Torto arado, ao fazer um desagravo sobre o silêncio dos prêmios literários em relação ao livro de Ana Maria – comentando também de maneira lateral a polêmica que envolveu seu nome (o de Itamar) nos últimos dias.

Público se reúne na Praça Charles Miller para assistir Ana Maria Gonçalves e Itamar Vieira Junior | © Sean Vadaru
Público se reúne na Praça Charles Miller para assistir Ana Maria Gonçalves e Itamar Vieira Junior | © Sean Vadaru
Torto arado ganhou prêmios importantes, acredito que já havia movimento de mudança nos júris, capazes de reconhecer e ler nossas histórias. O silêncio dos prêmios em relação a Um defeito de cor já repercutiu de maneira positiva nos que vieram depois. A gente não superou os problemas. Não é porque os livros ganharam público que não tem mais racismo. Vamos espetando para provocar mudanças também”, disse Itamar.

Para Ana Maria – cujo romance ganhou uma edição especial pela Editora Record no fim de 2022 – o mercado editorial entendeu nos últimos anos a “enorme demanda” que existe pelas histórias dos povos negros ou originários. “Não é que o mercado foi bonzinho, mas é algo que traz dinheiro, porque tem um público ávido para se reconhecer. O mercado era muito fechado. Um grupo de maioria de homens brancos do sudeste. A gente chegou trazendo algo diferente, dando uma sacudida, não só no mercado, mas também na forma como esses próprios homens contam suas histórias”. Ela também rejeitou a pecha de que Um defeito de cor seria uma história alternativa do Brasil. “Não vejo como história alternativa, e também não era um contraponto, simplesmente porque a história contada pelos brancos também não é a oficial”, concluiu, para aplausos.

Já no sábado, o escritor e pesquisador Richard Zenith – autor de Pessoa: uma biografia (Companhia das Letras) – afirmou que sua ambição (o livro tem mais de mil páginas) era contrariar a ideia de que Fernando Pessoa era apenas sua própria obra. “Ele era uma pessoa que escrevia cartas comerciais para sobreviver, sua vida não teve sexo, drogas e rock’n’roll (risos), quase certamente morreu virgem, depois de voltar da África do Sul, também nunca mais saiu de Lisboa. Mas ele teve uma vida imaginária agitada, e a biografia dá conta disso”, afirmou, na mesa que dividiu com o também biógrafo Lira Neto.

Audiolivros

Na sexta-feira (9), a mesa da Feira mais voltada ao mercado editorial em si falou sobre audiolivros e suas possibilidades, com a presença da editora Maria Stockler Carvalhosa (da Supersônica Livros) e da atriz Isabel Teixeira. Para a editora – que está lançando, por exemplo, os audiolivros das obras de Annie Ernaux no Brasil – existem diversas potencialidades para o formato no país.

Isabelle Moreira Lima, Isabel Teixeira e Maria Stockler Carvalhosa | © Gabriel Cabral
Isabelle Moreira Lima, Isabel Teixeira e Maria Stockler Carvalhosa | © Gabriel Cabral
“O Brasil é um país auricular, Oswald de Andrade já havia notado isso no Manifesto Antropofágico”, afirmou. Para ela, os audiolivros podem ser algo mais do que uma ferramenta editorial, e nesse sentido ela explicou que a sua produtora já está em conversas com institutos voltados para pessoas com deficiência visual. “A Supersônica é uma empresa anticapacitista por princípio”, explicou.

[11/06/2023 19:30:00]
Matérias relacionadas
Festival a céu aberto ocorre entre 29 de junho e 7 de julho e conta, até o momento, com 35 autores brasileiros e internacionais na programação principal
Evento da Associação Quatro Cinco Um no Pacaembu terá mais de 150 expositores, nomes internacionais e será realizado entre os dias 29 de junho e 7 de julho
Evento se estende de cinco para nove dias e prevê visitação de escolas durante a semana
Leia também
Evento será no dia 25 de maio, às 18h, e contará com uma conversa da autora com a youtuber e doutora em linguística Jana Viscardi
A iniciativa integra a programação da Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles (BDB), do Ministério da Cultura
Fliaraxá acontece entre os dias 19 e 23 de junho com o tema 'Memória, Literatura e Diversidade' e participação de quase 100 autores; evento também dará aos autores independentes a oportunidade de realizarem sessões de autógrafos