A Feira do Livro tem participação de Sueli Carneiro, bom público e programação até domingo
PublishNews, Talita Facchini, 09/06/2023
Evento contou com a participação de nomes como João Silvério Trevisan que falou sobre sua vida e deixou mensagens ao público LGBT; e Sueli Carneiro, que falou sobre racismo e a luta da mulher negra na sociedade

Abertura d'A Feira do Livro | © Gabriel Guarany
Abertura d'A Feira do Livro | © Gabriel Guarany

A segunda edição d’A Feira do Livro começou na noite de quarta-feira (7) de uma maneira bem diferente da sua primeira edição: com céu limpo, clima agradável, com mais estandes e editoras e com todos os lugares da tenda principal ocupados para assistir a mesa de abertura "O espírito da floresta", com o jornalista britânico Tom Philips, as antropólogas Manuela Carneiro da Cunha e Hanna Limulja e o músico e jornalista Xavier Bartaburu.

“Passamos quatro anos de absoluto caos na área cultural, inclusive com sabotagem na nossa Lei de Incentivo à Cultura e esse ano, a simples ordem natural das coisas já permite que a gente faça essa feira. Isso se chama república”, disse Paulo Werneck, fundador da Feira, em seu discurso de abertura. Ele também agradeceu ao Ministério da Cultura, homenageou a tradutora Heloisa Jahn, destacou a política de isenção para todas as editoras presentes na Feira com proprietários negros, indígenas e periféricos, e mencionou o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa – tema que pautou a primeira mesa do evento.

Mesa 'O espírito da floresta' | © Gabriel Guarany
Mesa 'O espírito da floresta' | © Gabriel Guarany
Evocando o encerramento da primeira edição – quando os autores presentes prestaram uma homenagem a Bruno Pereira e Dom Phillips, cujos corpos haviam sido descobertos pela polícia naqueles dias–, A Feira do Livro quis resgatar o debate sobre o povo yanomami, o garimpo, e o trabalho fundamental dos antropólogos e jornalistas nessa jornada.

“Eles estão acostumados com epidemias, o mundo deles está sempre acabando. Pra gente é que foi a primeira vez. E a crise ainda continua, a situação ainda está grave, porque depois que passa o boom, a gente acha que tudo foi resolvido, e não foi”, disse Hanna, autora do livro O desejo dos outros (Ubu).

A também antropóloga Manuela Carneiro focou em explicar ao público presente a importância do Marco temporal das terras indígenas – que teve o julgamento suspenso no STF pelo ministro André Mendonça. “O Marco Temporal não diz respeito só aos povos indígenas, diz respeito a todos nós”, reforçou Hanna após a explicação de Carneiro.

© Talita Facchini
© Talita Facchini

Em mais um dia de sol, a quinta-feira (8) contou com grande participação do público e editoras reportando boas vendas em seus estandes lotados.

A programação contou com nomes como Bela Gil, a mixologista Néli Pereira, Clarice Reichstul, Max Lobe, Abdellah Taïa, Hermínio Bello de Carvalho, Joyce Moreno e Luiz Antonio Simas.

João Silvério Trevisan | © Sean Vandaru
João Silvério Trevisan | © Sean Vandaru
João Silvério Trevisan também participou da penúltima mesa do dia mediada pelo jornalista e autor Renan Quinalha. Na conversa, Trevisan falou sobre sua vida, o papel de sua mãe na sua criação – “ela me deu a vida e a literatura” –, e sobre o seu processo de autoconhecimento. “Eu tinha uma insegurança muito grande dentro de mim”, confessou.

Sobre sua homossexualidade, o autor de Devassos no paraíso (Objetiva), Vagas notícias de Melinha Marchiotti (Record) e do novo Meu irmão, eu mesmo (Alfaguara), dividiu com o público o que viveu quando mais jovem. “Eu carrego a morte no meu amor. Essa era a percepção mais grave que a gente tinha, quer dizer, o meu amor transmite a morte”, disse. “É muito difícil explicar pra vocês o que isso significava”, compartilhou.

Com mais relatos sobre o preconceito que sofreu dentro da comunidade LGBT, Trevisan terminou sua participação n’A Feira deixando uma mensagem de resistência e amor para o público e sendo aplaudido de pé.

Sueli Carneiro | © Sean Vandaru
Sueli Carneiro | © Sean Vandaru
Quem também foi aplaudida antes mesmo de iniciar sua fala foi a filósofa Sueli Carneiro, que, ao lado da jornalista e autora Bianca Santana, falou sobre racismo, a importância do seu trabalho ao longo dos anos e sobre a luta da mulher negra na sociedade.

“O que eu imagino que mudou é exatamente a participação da mulher negra na cena dessa discussão sobre a mulher negra”, disse.

A multiplicidade da negritude, os “fiscais de melanina”, e o aviso sobre “não se calar nem aceitar o racismo mascarado, hipócrita e levado de sutilezas” também deram o tom da discussão mediada por Juliana Borges.

Explicando sua famosa frase “entre esquerda e direita, continuo preta”, Sueli falou ainda sobre a falta de representatividade na política nacional e a concentração total de renda na branquitude. Quando o tema do colorismo surgiu na conversa, Carneiro lembrou: “Quando tiver alguma dúvida, pergunte pra um policial porque ele nunca se engana”.

A vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, foi lembrada por Bianca. Segundo ela, a luta de Marielle é um sinal do avanço do feminismo negro, mas que ainda há imensos desafios pela frente.

Sobre seu trabalho e luta ao longo dos anos como filósofa e defensora dos direitos humanos Sueli foi categórica em sua resposta. “Eu tenho absoluta convicção de que eu sou uma guerreira pelas causas mais justas da humanidade", disse, tirando aplausos do público. “O ativismo me salvou de me tornar uma pessoa preta completamente alienada. Eu sou quem eu sou, e devo isso ao movimento negro e ao feminismo”, finalizou.

Confira a programação que segue até domingo e algumas fotos dos primeiros dias da feira.

  • Sexta-feira, 09 de junho de 2023:

Na sexta-feira, às 10h, a autora italiana Ginevra Lamberti conversa no Palco da Praça com a mediação da jornalista Camila Appel sobre livros que nos ajudam a compreender a morte.

Às 11h45, o pensador quilombola Antônio Bispo conversa no Palco da Praça com Bianca Tavolari sobre seu novo livro.

Às 12h15, o jornalista Conrado Corsalette, co-fundador e editor-chefe do Nexo Jornal, e Natalia Viana, co-fundadora e diretora executiva da Agência Pública, investigam em livros a erosão da política brasileira nos últimos anos no Auditório Armando Nogueira.

Às 13h30, Maria Stockler Carvalhosa, editora e estudante de Letras, fala sobre os desafios da produção de audiolivros no Brasil.

A tarde prossegue com um encontro internacional. Às 15h o Palco da Praça recebe uma das mais influentes pensadoras da atualidade, Patricia Hill Collins.

Às 15h15, os ficcionistas Pedro Cesarino, Aparecida Vilaça e Rita Carelli conversam no Auditório Armando Nogueira sobre representações amazônicas na literatura.

Prêmio Pulitzer e destaque da poesia norte-americana contemporânea, Jericho Brown se apresenta às 17h no Palco da Praça, em conversa com sua tradutora, a poeta Stephanie Borges.

Às 17h15 a historiadora Ynaê Lopes dos Santos aborda no Auditório Armando Nogueira o pensamento negro e o racismo no Brasil.

A sexta se encerra com a conversa, às 19h, entre o carioca Geovani Martins e a paulistana Luiza Romão, vencedora do prêmio Jabuti na categoria Livro do Ano em 2022, no Palco da Praça.

  • Sábado, 10 de junho de 2023:

O sábado começa com uma convidada que reforça um importante eixo da programação de autores da Feira do Livro desde a primeira edição: a cultura indígena. A líder Txai Suruí conversa com o jornalista Bernardo Esteves no Palco da Praça, às 10h, sobre as perspectivas da população indígena brasileira. Txai também integra um núcleo da programação da Feira do Livro que reúne convidados com origem amazônica ou que tenham escrito livros sobre a região.

Um encontro entre duas gerações de autoras negras é a mesa das 11h45: a contista Geni Guimarães conversa com a romancista Eliane Marques no Palco da Praça.

Às 12h15 o jornalista Eugênio Bucci se apresenta no Auditório Armando Nogueira.

No Interlúdio Musical, às 13h30, Arthur Nestrovski dá uma aula — e Celso Sim canta — sobre a batida de João Gilberto.

Na mesa das 15h, Fernando Pessoa, um dos poetas mais amados da língua portuguesa, é o tema da conversa entre o biógrafo Richard Zenith e o também biógrafo Lira Neto, no Palco da Praça.

Às 15h15 acontece o encontro entre dois destaques da nova geração de ficcionistas, Samir Machado de Machado e Antônio Xerxenesky conversam no Auditório Armando Nogueira.

Às 17h, a francesa Fatima Daas conversa no Palco da Praça com o paulistano Diogo Bercito sobre literatura e identidades LGBTQIA+.

Às 17h15, no Auditório Armando Nogueira, os autores Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral e Marina Slhessarenko Barreto falam sobre as estratégias de erosão democrática e como os governos autoritários são implantados no mundo.

Itamar Vieira Junior e Ana Maria Gonçalves, dois dos principais romancistas da atualidade, conversam com a jornalista Adriana Ferreira Silva na mesa que fecha o sábado, às 19h.

  • Domingo, 11 de junho de 2023:

O último dia de atividades n’A Feira do Livro começa com a segunda mesa programada pela colunista Juliana Borges: a ensaísta Cida Bento e a pesquisadora e consultora de diversidade Winnie Bueno, às 10h no Palco da Praça.

Às 11h45, Milton Hatoum conversa no Palco da Praça sobre literatura, Amazônia e outros temas com Roberta Martinelli, estreando, ao vivo, o seu novo programa literário na Rádio Eldorado.

Às 12h15, o fotógrafo Bob Wolfenson conversa com o colunista da Quatro Cinco Um Renato Parada no Auditório Armando Nogueira.

Às 13h30, três cantoras paulistanas fazem uma homenagem à Rita Lee no Palco da Praça.

Às 15h, Paulo Roberto Pires, o ensaísta Felipe Charbel e a artista visual e poeta Aline Motta conversam, no Palco da Praça, sobre ensaio, poesia e prosa experimental.

Às 15h15 acontece uma conversa com o autor argentino Pablo Katchadjian sobre o seu último lançamento no Auditório Armando Nogueira.

Às 17h acontece o Foro na Feira: uma edição especial do Foro de Teresina, que promete um “momento cabeção” caprichado, com dicas literárias do trio de apresentadores do podcast de política da revista piauí, Fernando de Barros e Silva, Thais Bilenky e José Roberto de Toledo.

Às 17h15, no Auditório Armando Nogueira, o jovem artista Pedro Vinicio e a veterana Laerte falam sobre os quadrinhos e as charges, com mediação de Isabel Diegues.

Encerramento: A última mesa do dia, às 19h, recupera um momento marcante da Feira do Livro 2022: a foto Um Grande Dia em São Paulo, que é tema de um livro organizado pelas convidadas desta mesa, as escritoras Esmeralda Ribeiro, Natália Timerman, Paula Carvalho, e Giovana Madalosso que fará a mediação. As autoras organizam um “autografaço” do livro no domingo, em horário a ser divulgado.

Público na mesa de abertura da feira | © Gabriel Guarany
Público na mesa de abertura da feira | © Gabriel Guarany
Estande Edições Sesc | © Gabriel Guarany
Estande Edições Sesc | © Gabriel Guarany
© Gabriel Guarany
© Gabriel Guarany
Bianca Santana, Juliana Borges e Sueli Carneiro | © Sean Vandaru
Bianca Santana, Juliana Borges e Sueli Carneiro | © Sean Vandaru

[09/06/2023 08:00:00]