Que não é de hoje que uma mulher é ferozmente julgada quanto à sua aparência, todos sabemos. O que poucos sabem é que para além da criação das suas personagens mais célebres, imortalizadas em romances incontornáveis como Mrs. Dalloway, O quarto de Jacob, Ao farol e As ondas, Virginia Woolf também se debruçou sobre essa questão só aparentemente fútil. Em O vestido novo (Nós, 49 pp, R$ 46 – Trad.: Ana Carolina Mesquita), conto escrito durante a criação de Mrs. Dalloway, Virginia ajusta a sua lente para fazer o leitor olhar mais de perto, e por ângulos nunca vistos, a dramaticidade que existe no pensamento de uma mulher que tem que escolher um vestido novo para ir a uma festa. Reverberando o incômodo que a própria Virginia passou em vida, quase sempre se sentindo inadequada e malvestida para as festas às quais era convidada, vemos aqui a pobre Mabel sentir-se “como uma manequim de modista, ali parada para que as jovens lhe espetassem alfinetes”, sofrendo profundamente com o julgamento e o desprezo daqueles que reprovam não a sua constituição intelectual ou moral, mas a sua roupa. O vestido novo é daquelas preciosidades que ganham uma grandeza insuspeita quando lido assim, em separado, num volume único que lhe dá o valor que tem em si e que tantas vezes passa despercebido, como uma jovem bela e inteligente é tantas vezes subestimada por uma escolha equivocada da roupa que veste.