Como estudante em Bagdá, Iraque, Mazen Lateef começou a comprar e vender livros na Rua Al-Mutanabi. Ele fundou a Dar Mesopotamia para impressão, publicação e distribuição em 2007, ganhando reputação como um membro distinto e altamente respeitado da comunidade cultural do Iraque. Lateef publicou uma variedade de livros, incluindo vários centrados nas comunidades e indivíduos judeus do Iraque. Em 31 de janeiro de 2020, ele foi sequestrado à mão armada e não há mais notícias suas até agora.
Aceitando o Prêmio Voltaire da IPA em 2023 em nome de seu pai, Abdulmoahimen Mazin Lateef entregou um discurso em vídeo. Ele disse: “Nunca imaginei que um dia estaria em um lugar tão distinto para falar sobre meu pai, que costumava preencher o ambiente com suas conversas sobre cultura e pensamento. Infelizmente, sua voz foi silenciada, e seu pecado foi ter uma paixão pela liberdade de pensamento e buscar, por meio de sua editora, apresentar aos leitores tudo o que está relacionado às bases culturais do Iraque. Sinceros agradecimentos a todos vocês por reconhecerem Mazin Lateef. Seu espírito está presente conosco agora, instigando a encontrar a paz por meio do conhecimento de seu destino. Não é humano privar uma família de visitar o túmulo de seu pai”.
O Prêmio Voltaire da IPA inclui um prêmio em dinheiro de CHF 10 mil (francos suíços, cerca de R$ 55 mil).
Além do iraquiano, a IPA também anunciou um Prêmio Voltaire Especial para o autor e poeta ucraniano de livros infantis, Volodymyr Vakulenko. O escritor foi assassinado durante a guerra da Ucrânica. Ele era autor de 13 livros, incluindo obras sobre o patrimônio de sua região, poesia e livros infantis. Ele foi vencedor de diversos prêmios literários ucranianos e internacionais, sendo conhecido por sua postura patriótica, seu apoio ativo à Revolução da Dignidade de 2014 e sua ajuda aos militares ucranianos na região de Kharkiv desde o início da invasão russa. Ele foi preso duas vezes, mas na segunda vez não foi libertado. Seu corpo foi encontrado em uma das valas comuns em Izium.
A escritora ucraniana e pesquisadora de crimes de guerra, Victoria Amelina, disse na cerimônia: “Sou uma escritora ucraniana falando em nome do meu colega Volodymyr Vakulenko, que, ao contrário de mim, não sobreviveu a mais uma tentativa do Império Russo de apagar a identidade ucraniana. A comunidade literária ucraniana está grata pelo prêmio. Este prêmio é único, significativo e emocionante para nós, em parte porque nenhum das centenas de outros escritores ucranianos que, como Vakulenko, foram assassinados ao longo da história ucraniana, jamais recebeu um prêmio internacional póstumo tão importante. Tenho certeza de que Volodymyr Vakulenko gostaria de dedicar este prêmio a eles também”.
Gvantsa Jobava, vice-presidente da International Publishers Association, disse: “Silenciar a expressão cultural é uma das ferramentas dos regimes repressivos. Devemos resistir à sua intimidação e celebrar nossos corajosos autores e editores que nos ajudam a experimentar e entender a diversidade de nossas culturas. Mazin Lateef Ali e Volodymr Vakulenko são heróis”.
