Em direção a um mercado editorial mais diverso
PublishNews, Flávia Bravin*, 17/04/2023
As mulheres enfrentam mais dificuldade para publicar suas obras? Quais seriam os obstáculos para que os talentos femininos sejam reconhecidos na literatura? O que podemos fazer para atrair mais autoras?

As mulheres são maioria entre os leitores brasileiros. Segundo o estudo “Retratos da Leitura no Brasil”, feito pelo Instituto Pró-Livro em 2019, representamos 54% dos leitores do país. Mesmo assim, vemos que as grandes editoras ainda publicam mais obras literárias de autores homens, em sua maioria brancos e que escrevem sobre personagens literários também do gênero masculino.

Esse panorama felizmente está mudando, pois segundo a Câmara Brasileira do Livro (CBL) a representatividade feminina no mercado editorial tem crescido, mas ainda assim temos evidências claras de que é preciso continuar se mobilizando em busca de equidade no setor. Temos que nos questionar o tempo todo: as mulheres enfrentam mais dificuldade para publicar suas obras? Quais seriam os obstáculos para que os talentos femininos sejam reconhecidos na literatura? O que podemos fazer para atrair mais autoras?

Encontrar essas respostas pode ajudar a nortear a criação de mais ações afirmativas no setor para ampliar nossa visibilidade e, assim, ocupar mais espaço nas vitrines virtuais e físicas das livrarias, nas prateleiras de diferentes gêneros literários, nas divulgações, nas premiações e na imprensa.

Muitas empresas do setor já adotam políticas de diversidade e inclusão. Reconheço esses e outros vários avanços, mas eles ainda não são suficientes. É fundamental incentivar a publicação e leitura de obras femininas e trabalhar em conjunto com a sociedade para conscientizar sobre igualdade de gênero na literatura. Além disso, é preciso estabelecer políticas públicas para apoiar a produção literária de mulheres, criar espaços de diálogo e debate sobre as obras femininas e as questões de gênero na literatura, além de prêmios e programas de incentivo. Por último, mas não menos importante, é preciso investir em programas de desenvolvimento profissional para mulheres e promover um ambiente de trabalho seguro e acolhedor para elas.

Nessa direção, uma das iniciativas que gostaria de destacar é a primeira edição do PublishHer no Brasil, realizada na sede da Cogna, no ano passado. Esse é um movimento, criado por Bodour Al Qasimi, ex-presidente da International Publishers Association (IPA – Associação Internacional dos Editores, em tradução livre), que tem a missão de incentivar e viabilizar a carreira editorial de mulheres no mundo todo. Na ocasião, tivemos a oportunidade de ver como as histórias de mulheres vindas de diversos lugares do mundo são parecidas, independente do país ou estilo de empresa em que trabalhamos.

Entendo que já passamos da fase de provar nosso valor. Acredito que o caminho da mulher na sociedade moderna é se permitir ser ela mesma, com suas escolhas e renúncias. E, sendo elas mesmas, contribuam para uma sociedade com o que é pilar e forte na sua essência. Ou seja, viver o conceito de diversidade e a gigantesca contribuição de estilos diferentes trabalhando e convivendo.

Por fim, penso também que em um país tão grande e diverso, precisamos estar abertos para novos olhares, acolhendo autores e autoras que abordem temas variados e que retratem as diferentes realidades sociais e culturais do nosso Brasil.


Flávia Bravin | © Samuel Lorezentti
Flávia Bravin | © Samuel Lorezentti
* Com mais de 25 anos na área editorial/educacional, Flávia Bravin é Head da Saber Educação (de selos como Ática, Saraiva, Scipione, SaraivaJur, Uni e Benvirá), de ensino de inglês (Red Balloon) e sócia da Cogna. Doutora em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (FEA-USP), onde fez sua graduação e mestrado com pesquisas sobre o papel do livro e das instituições de ensino superior, também estudou na Universidade de Stanford (Stanford Professional Publishing Course – SPPC) e outras universidades. Foi presidente da ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos), e é vice-presidente da Abrelivros (Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais) e diretora do SNEL (Sindicato Nacional das Editoras de Livros).

Tags: Cogna, mulheres
[17/04/2023 08:00:00]