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Todavia passa a publicar os livros de Antonio Candido
PublishNews, Guilherme Sobota, 22/3/2023
Entenda como a obra daquele que é considerado o maior crítico literário brasileiro mudou da editora Ouro Sobre Azul, de Ana Luisa Escorel, para a casa paulistana

Antonio Candido (1918-2017) | © Renato Parada / Todavia
Antonio Candido (1918-2017) | © Renato Parada / Todavia
A editora Todavia coloca esta semana nas livrarias a primeira leva de novas edições dos livros de Antonio Candido, considerado por muitos o maior crítico literário da história do Brasil. A casa paulistana – conhecida pelas obras mais voltadas ao público geral, como ficções e não ficções, livros trade – faz uma investida profunda na obra de um intelectual cujos leitores mais frequentes estão na universidade. Outro destaque da mudança é a passagem amigável de uma obra de tamanho vulto de uma editora para outra: no caso, a Todavia negociou os direitos com a Ouro Sobre Azul, editora da escritora Ana Luisa Escorel, também filha de Antonio Candido.

As cinco obras lançadas agora são: Formação da literatura brasileira (1959), Os parceiros do Rio Bonito (1964), Literatura e sociedade (1965), O discurso e a cidade (1993) e Iniciação à literatura brasileira (1997).

Os livros chegam oficialmente às livrarias na próxima sexta-feira (24), e a editora vem destacando que pretende fazer uma promoção com os livros digitais – entre a pré-venda (já no ar) e o dia 30 de abril, os e-books terão descontos e custarão entre R$24,90 e R$59,90. As edições impressas terão 25% de desconto para estudantes, mediante apresentação da carteirinha em livrarias parceiras, até 25 de abril. É a primeira vez que os livros de Antonio Candido serão editados em formato digital. O novo projeto gráfico da coleção é de autoria de Oga Mendonça.

A Todavia também organiza eventos para o lançamento, em parceria com o Sesc-SP. No dia 26 de abril, um evento na unidade Vila Mariana vai prestar homenagem ao autor. Em maio, o Centro de Pesquisa e Formação (CPF Sesc) recebe um curso com nomes como Walnice Nogueira Galvão, Rita Palmeira, Julia O'Donnell, Ieda Lebensztayn, Luiz Carlos Jackson e Ivan Vilela.

Como a obra de Antonio Candido mudou de editora

Em 2019, a Todavia publicou um livro chamado Mário de Andrade por ele mesmo (de Paulo Duarte), com um prefácio do Antonio Candido, e esse foi o primeiro contato da editora com a família do crítico. Ali começou uma conversa incipiente, abrindo os canais de comunicação, como explica o editor e sócio da Todavia, Flavio Moura. “Sempre deixei claro que tínhamos profunda admiração e estávamos dispostos a pensar em algum tipo de parceria”, diz Flavio, em uma conversa com o PublishNews na sede da editora, na zona oeste de São Paulo.

Aos poucos, ficou claro para os dois lados que havia um entendimento. Foi cerca de um ano e meio de conversas até as duas partes chegarem a um acordo. “Além disso, o espólio entendeu qual o papel que a obra de Antonio Candido teria dentro da Todavia. Ele não é só mais um autor no nosso catálogo, mas é um grande projeto que tem capacidade de transformar o estatuto da editora a longo prazo”, projeta.

As 17 obras que serão lançadas pela Todavia até o fim de 2024 compõem todo o catálogo de Antonio Candido que estava na Ouro Sobre Azul. A ordem de lançamento dos livros pela nova editora partiu de escolhas pragmáticas baseadas na análise de mercado, avaliando a demanda e as obras que estavam há mais tempo fora de catálogo.

“De fato, a ida da obra de Antonio Candido para a Todavia está se fazendo da melhor maneira tanto sob o ponto de vista afetivo, quanto sob o ponto de vista técnico”, atesta Ana Luisa Escorel – autora do recente O faustio do diabo (Ouro Sobre Azul) e de diversas outras obras – por e-mail.

Para Ana Luisa, o sentimento de cessão dos títulos para edição e comercialização não deixa de ser ambivalente. “Custa sim nos separar deles, depois de um trabalho árduo e longo, quando a Ouro sobre Azul se debruçou sobre uma obra dispersa, com muitos de seus títulos fora de catálogo, e a apresentou em bloco a um público mais extenso do que ela jamais tivera antes. Ocorre que o momento agora é outro e, na opinião da Ouro sobre Azul, cabe ampliar e levar adiante esse propósito de difusão do pensamento, das análises críticas e das opiniões de Antonio Candido, acerca de tantos campos, expressos continuamente por longos anos. Nesse empenho, poucas casas editoriais brasileiras estariam habilitadas, como a Todavia, a dar uma continuidade virtuosa ao impulso iniciado pela Ouro sobre Azul em um já longínquo ano de 2006”, comenta.

Recentemente, a Todavia publicou O sentido de um fim, de Frank Kermode, um livro de teoria literária, e em 2020 havia lançado O romance de formação, de Franco Moretti – livros sobre filosofia, artes e outras humanidades são frequentes entre os lançamentos da casa. “Sempre soubemos que esse tipo de livro não era exatamete uma aposta comercial, mas são long-sellers, livros que podem vender menos no lançamento mas que têm uma demanda contínua. Isso tem a ver com a maneira que trabalhamos nosso catálogo desde o início da editora”.

Segundo Flavio, a editora está ciente dos usos “particulares” de textos na universidade, e tanto as edições digitais quanto a promoção de preços no lançamento são tentativas de facilitar o acesso às obras, mesmo a quem não tenha as condições financeiras ideais para adquiri-las, como às vezes é o caso com estudantes universitários, por exemplo.

Mas o próprio público pode ser mais amplo, como explica o editor. “No caso do Antonio Candido, você acrescenta o fato de que são textos extremamente acessíveis em sua maioria. É o caso de um acadêmico que tinha uma capacidade inclusiva e generosa na sua maneira de se expressar. Os livros são acessíveis a diferentes públicos”, diz Flavio.

A editora encomendou ensaios para cada obra, escritos por professores e pesquisadores contemporâneos, muitos deles formados por alunos de Antonio Candido, com uma lógica de apresentar e introduzir novos leitores à obra do crítico. Neste primeiro momento, já estarão disponíveis para download gratuito no site da editora textos da crítica literária e editora Rita Palmeira; da pesquisadora e ensaísta Ieda Lebensztayn; de Ana Paula Pacheco, escritora e professora de teoria literária na USP; de Luiz Carlos Jackson, professor de sociologia na USP; e de Samuel Titan Jr., também professor de teoria literária na USP.

A comunicação da editora vem salientando que já existe uma espécie de consenso que a obra de Antonio Candido foi produzida num contexto de diálogo com diversas produções, todas no sentido de interpretação do país – inclusive a sua. "Para além disso, vale a pena entendê-lo como um crítico muito singular", comenta Flavio Moura. "Não era apenas que ele tinha uma erudição enorme e uma clareza de pensamento, mas ele criou cursos e departamentos na universidade, institucionalizou a crítica e os estudos literários, tinha um domínio sobre literaturas internacionais raríssimo. Na outra ponta, atuou como professor de diversas gerações, orientador de muitos alunos, produzindo materiais para a sala de aula, coisa que para intelectuais do porte dele poderia ser uma espécie de diminuição. Além de tudo, fez a grande interpretação da formação da literatura brasileira, com uma leitura minuciosa das obras e uma capacidade de olhar impressionante. Para todos os lados, há uma atuação exemplar de Antonio Candido".

No segundo semestre de 2023, e em duas levas semestrais em 2024, a Todavia vai publicar os seguintes títulos:

  • Vários escritos
  • Um funcionário da monarquia
  • Teresina etc.
  • A educação pela noite
  • Brigada ligeira
  • O método crítico de Silvio Romero
  • Ficção e confissão
  • O observador literário
  • Tese e antítese
  • Na sala de aula: cadernos de análise literária
  • Recortes
  • O albatroz e o chinês
[22/03/2023 08:49:25]
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