Diário de Frankfurt. Dia 2: das reuniões bem agendadas aos seis pavilhões da feira
PublishNews, Leonardo Garzaro*, 21/10/2022
Depois de chegar na cidade, Leo conta como foi a correria do seu primeiro dia de reuniões e o impacto de conhecer os pavilhões do evento

Cheguei à feira de Frankfurt com um plano: encontrar todas as editoras finalistas do prêmio Jabuti, categoria Livro Brasileiro Publicado no Exterior. Não apenas da última edição, mas das três últimas. Vinte e sete reuniões agendadas, uma a cada meia hora, sem intervalos para água ou café. Explico melhor: uma vez que essas editoras já publicaram livros de autores brasileiros, contrataram um tradutor, utilizaram os subsídios, tiveram retorno, as chances de sucesso me pareceram melhores. Em encontros com a Llewellyn Worldwide, que publicou Conhecendo os Orixás: de Exú a Oxalá, ou com a Éditions Le Lampadaire, que lançou O que não existe mais, me preparei para falar dos autores da Rua do Sabão, encaixando como pudesse cada um deles no catálogo do editor estrangeiro.

Às nove da manhã, parado em frente ao enorme pavilhão onde a feira acontece, debaixo da estátua do Hammering Man, revisei a agenda: às 9h30, a Nicole Witt, na área dedicada aos agentes literários, Hall 4, segundo andar, mesa K21. Às 10h, a Emily Ferko, no setor do Canadá, Hall 6, térreo, corredor A, stand 80. Venci os seguranças, o pedido do código de barras, a fila, e às 9h15 estava dentro da feira. Atravessei o enorme pavilhão central, passei por uma mulher que protestava deitado no chão, coberto com a bandeira da Ucrânia. Em dez minutos, cheguei na mesa correta e comecei a trabalhar.

Algo sobre Frankfurt: é muito maior do que todas as feiras. Muito, muito maior. Se a feira de Sharjah tem as dimensões que um campo de futebol, e a de Londres o tamanho de um grande supermercado, o espaço de Frankfurt é de seis prédios, cada um com três andares, cada andar com o tamanho de um desses hipermercados que vendem de pneus a brinquedos de criança. Cem mil pessoas circulando, filas nas escadas rolantes, conferências acontecendo o tempo todo, seguranças revistando pessoas aleatoriamente, food trucks, mini mercados, cafés. É enorme!

A reunião com a Nicole Witt foi boa. Já havíamos conversado em Londres, ela lembrava dos planos da editora, falamos como se continuássemos um assunto suspenso por alguns minutos. Na metade, porém, uma agente espanhola se aproximou só para comentar que Frankfurt era uma cidade de clima horrível, com comida horrível e transporte horrível. Gostei dela. Uma pausa para uma amistosa reclamação matinal com a Nicole, que é de Frankfurt. A conversa terminou pouco antes das dez, e eu já estava atrasado para o segundo encontro, que era em outro prédio, bem distante! O dilema era pular a segunda reunião e chegar no horário para a terceira, ou seguir o cronograma, me atrasando em todas.

Eu e Mariana Rolier
Eu e Mariana Rolier
Então chegam duas mensagens da Rayanna Pereira, do Brazilian Publishers, que estava no stand: me aguardavam o Gonçalo Gama, agente português, e a Nina Pederson, agente da Monica Isakstuen, autora norueguesa publicada pela Rua do Sabão. Estes estavam de passagem e decidiram dar um alô. As editoras das reuniões das 9h30 e das 10h escreveram perguntando se eu estava chegando, a que tinha reunião agendada para às 11h30 pediu para mudar para o meio-dia, e então encontrei a Mariana Rolier, da Storytel, que era a reunião das 11h. Neste momento, entreguei os pontos: sentei com a Mariana, tomamos um café sem pressa, conversamos sobre o mercado de áudio, a roteirização dos livros, as mudanças recentes na Storytel, que fechou o escritório no Brasil, fizemos alguns planos para a Flip e para produções próprias.

Ao final do dia, quando sentei para escrever o diário, percebi que minha estratégia mudou de reuniões bem marcadas e bem agendadas para encontrar aleatoriamente os editores com quem pretendia conversar e me reunir. Em algumas reuniões cheguei atrasado, em outras muito adiantado, mas senti que estavam todos no mesmo ritmo. Foquei em ter boas conversas, melhorar as relações, traçar bons planos, ainda que em horários completamente diferentes dos que havia planejado.

Vale dizer que na feira de Frankfurt somos o tempo todo surpreendidos por festas, que acontecem dentro dos stands: de passagem por um corredor, damos de cara com um trio animado de músicos, trompete, sax e violino enquanto se distribui bolo e champagne, ali na outra esquina uns queijos e vinhos, do outro lado um coquetel. Parar e petiscar é obrigatório! Não bastassem as enormes distâncias e dimensões da feira, ainda há um sem número de distrações. Resta aproveitar!



* Leonardo Garzaro é jornalista, escritor e editor da Rua do Sabão. À parte isso, tem em si todos os sonhos do mundo.

[21/10/2022 08:00:00]