Para pensar a ecologia
PublishNews, Redação, 03/06/2022
Em 'Uma ecologia decolonial', o autor Malcom Ferdinand discorre sobre a crise ecológica associada à busca de um mundo desvencilhado de escravizações, violências sociais e injustiças políticas

É para cuidar da ferida aberta pelas inúmeras crises engendradas pelo sistema capitalista que o martinicano Malcom Ferdinand propõe na obra Uma ecologia decolonial (Ubu, 320 pp, R$ 89,90 - Trad.: Letícia Mei) uma abordagem interseccional e sagaz, que reúne o ecológico com o pensamento decolonial, antirracista, em uma crítica contundente ao “habitar colonial da Terra”. Nessa análise, Ferdinand critica o que chama de “dupla fratura colonial e ambiental da modernidade”, de que resultam, por um lado, as teorias ecologistas que desconsideram o legado do colonialismo e da escravidão; por outro, os movimentos sociais e antirracistas que negligenciam a questão animal e ambiental. Como mostra o autor, tal fratura só enfraquece as demandas desses movimentos, uma vez que a exploração do ser humano e da natureza caminham lado a lado. Para tanto, escolhe como centro de seu pensamento as regiões caribenhas, com seus modos de vida crioulos e suas formas de resistência. Com um prefácio de Angela Davis, que situa historicamente o conceito de justiça ambiental, o livro oferece uma aproximação para pensar um navio-mundo que não mais atire algumas pessoas no porão, condenando-as a uma sobrevida precária sujeita a doenças, fome e morte, enquanto oferece a outras a perspectiva de uma viagem segura e lucrativa no convés, possibilitada justamente pelas condições daqueles no porão.

[03/06/2022 07:00:00]