Publicidade
Líderes do setor editorial publicam mensagem ao governo
PublishNews, Redação, 25/04/2022
Artigo de Ângelo Xavier (Abrelivros), Dante Cid (Snel) e Vitor Tavares (CBL) na Folha transmite preocupação com a discussão da PEC 110/2019 no Senado e possível taxação que prejudicaria o acesso à leitura

No domingo (24), a seção Opinião da Folha de S.Paulo publicou um artigo assinado por três das mais relevantes lideranças do setor editorial brasileiro. O texto “Os livros e a lei” foi escrito por Ângelo Xavier, presidente da Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), Dante Cid, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), e Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), e transmite a preocupação do setor no momento em que o Senado volta a discutir a PEC 110/2019, que pode deixar em aberto a possibilidade de criação de alíquota de 12% de Contribuição sobre Bens e Serviços. A eventual taxação prejudicará o acesso à leitura.

O PublishNews, compreendendo o artigo como uma carta do setor editorial ao governo e classificando o debate como urgente e necessário, reproduz aqui a íntegra do texto, que também pode ser lida no site da Folha.

OS LIVROS E A LEI

Ângelo Xavier, Dante Cid e Vítor Tavares

“Os poemas são pássaros que chegam/ não se sabe de onde e pousam/ Quando fechas o livro, eles alçam voo/ como de um alçapão.” Como diria o poeta Mário Quintana, ler um livro é dar asas à imaginação. Contudo, para que os livros cheguem às mãos de mais brasileiros como um passaporte não só para um mundo de sonhos, mas para ampliar a educação e a cultura, é preciso focar hoje na letra fria da lei, que precisa ser clara.

É que a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado volta a discutir a PEC 110 2019, da reforma tributária e, embora acolha a imunidade constitucional do livro, não garante a preservação do tratamento tributário dado hoje, deixando em aberto a possibilidade da criação de alíquota de 12% de Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Mas a comissão tem a oportunidade de não permitir que essa cobrança venha a ocorrer no futuro, votando pela inclusão das emendas 243 e/ou 244. Ambas alinham o entendimento da imunidade garantida na Constituição para eventuais desdobramentos que possam vir em forma de taxa, contribuição ou qualquer outro nome.

A imunidade do livro é um processo de escolha da sociedade já referendado várias vezes. A Constituição de 1946 garantiu o imposto zero ao papel utilizado na impressão de livros e jornais. A reforma constitucional de 1967 estendeu a imunidade ao livro em si. E a Carta Magna de 1988 consolidou essa jurisprudência ao estabelecer que é vedado a União, estados, Distrito Federal e municípios criar impostos sobre ele. Mesmo quando surgiram contribuições sociais, como PIS/Cofins, a isenção foi mantida: a lei 10.865, de 2004, reduziu a zero a alíquota na venda de livros. Em 2002, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que o direito à isenção tributária se estende aos meios eletrônicos.

A tradição de isenção de impostos sobre o livro na formulação das leis brasileiras tem como base o fato de o livro ser disseminador de conhecimento, combatendo a desigualdade.

Entre 2006 e 2011, com as alíquotas de contribuições sociais zeradas, o valor médio de capa caiu 33%, e o número de exemplares vendidos ao ano cresceu 90 milhões. Eventual taxação hoje exigirá aumento de cerca de 20% no preço de capa, o que prejudicará o acesso à leitura, sobretudo dos mais vulneráveis.

Como maior comprador de livros do Brasil, via Ministério da Educação, o governo federal também seria impactado por esse aumento, mesmo que num primeiro momento arrecadasse mais. Por isso tudo, não se pode correr riscos ao lidar com produto altamente sensível. Sim, precisamos de uma reforma tributária ampla. Mas a imunidade do livro não é um privilégio. O sistema tributário não deve tratar igualmente setores econômicos desiguais.E aqui cabe novamente citar Quintana: “A leitura não muda o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. A leitura só muda as pessoas”.

Tags: ABRELIVROS, CBL, Snel
[25/04/2022 08:00:00]
Matérias relacionadas
​No último Podcast do PublishNews de 2025, a equipe da redação recapitulou alguns dos principais temas que pautaram o ano do mercado editorial brasileiro
Nova Diretoria Executiva será composta por Flávia Bravin, como 1ª vice-presidente, e Diogo R. Benke, como 2º vice-presidente
Em sua coluna, Henrique Rodrigues analisa alguns fatos da área do livro e leitura ocorridos em 2025
Leia também
Leia também: a entrevista de Pedro Bandeira e as obras da literatura policial presentes no filme 'Vivo ou morto: um mistério Knives Out', da Netflix
Livro da professora Leigh Claire La Berge chega ao Brasil em janeiro, propondo uma leitura interespécies da história econômica ocidental
Ação integra o projeto Literatura sem Fronteiras e foi realizada com recursos da Política Nacional Aldir Blanc